maio 10, 2012

Unthought Known


Assisti a três shows da turnê do Pearl Jam: São Paulo, Rio e Curitiba. E, confesso, assistiria outros três ou mais. Incrível. Esse vídeo é para matar as saudades. E aos poucos voltar para esse blog.

junho 15, 2011

Nada

Esvaziei.

Não gosto de luz besta

Que não me devolve a intensidade dos azuis e vermelhos

Quero o mel nos olhos e o melado na boca

E as estradas longas impercorríveis

Quero minhas gargalhadas de volta

As borboletas no estômago

E até a metralhadora

Quero os 12, os 30 e muito mais

E a escada de 1000 degraus que levava ao paradaise

Que eu podia até subir de bicicleta

Sem precisar respirar e nem perceber o que caía no caminho

Como se fosse não fosse um diamante falso

Tem cura, doutor de chapéu de pirata?

Só trocando os fornecedores. De oxigênio.

E até os devaneios voltarem a ferver

Vaca amarela.

maio 10, 2011

Recital das meninas

Um pouco de lindas, loucas e talentosas mulheres. Bom para os olhos dos meninos que passam por aqui e para o ouvido de nosotros.

Grande Adele, conseguiu emplacar dois singles no top 5 ao mesmo tempo. Bom, não?


Céu. Canta bem, tem uma banda muito boa e é um super astral. Assisti um show dela e adorei. Assim, vagarosa na malemolência.


Janelle Monáe, brilhou na abertura do show de Amy Winehouse em São Paulo. Talentosa, também garante uma performance incrível.


Duffy, vale pela música. Smoke without a fire poderia muito bem ter como pano de fundo o Deserto de Mojave de Bagdad Café, não? Mas está na trilha do belíssimo filme Educação.


Zooey Deschanel é uma carinha linda, não? Conhece? De 500 dias com ela, talvez? Atriz, faz parte do dueto She & Him. Lembram dessa música?


Karen Elson, a eleita de Jack White, um dos melhores músicos da nova geração, que foi do White Stripes, Racounters e Dead Wheather, além de inúmeras colaborações. Karen era modelo. Ela gravou com Cat Power uma nova versão de Je t´aime moi non plus.


Marketa Irglova. If you want me é parte da trilha do filme Once, que ela fez ao lado de Glen Hansard, ex-The Frames. Ele que tenta (com razão) levar o microfone mais para perto dela.



Óbvio, não pode faltar Cat Power. E ela já deu tanto show por aqui e, até agora, não consegui ver nenhum. Snif...



E já que falei de Bagdah Cafe, que tal a música original do filme? Calling you, com Jevetta Steele. Não consegui nenhum vídeo com ela cantando, apenas com cenas do filme. Mas vale pela voz e pelo som.


abril 10, 2011

abril 05, 2011

Irish coffee

Nunca pretendi que esse blog se convertesse em um diário. Mas percebo que o estou transformando em um caderno de viagens, o que o torna pouco atrativo para qualquer leitura, já que nem dicas ele traz. Sorry, mas hoje não vai ser diferente.

A Irlanda tem estado presente de várias formas nos últimos dias, um programa de viagens gastronômicas, noticiário sobre o aperto financeiro, filmes românticos, conversas aleatórias e a chegada da minha banda irlandesa preferida. Porisso resolvi escrever sobre a viagem que fiz aquele país em 2006 e que rotulo de, no mínimo, curiosa. Afinal, em que lugar eu desejei tanto ir e em menos de 24 horas pensava em pegar um táxi correndo para o aeroporto?

Cometi vários erros para chegar lá. Um deles foi ficar uma semana em Berlim antes de seguir para Dublin. Eu não imaginava que a comparação seria tão dura. Pode-se dizer que me esbaldei em Berlim. Percorri parques lindos naquele verão quente, com pessoas bonitas passeando ou tomando sol, fui a exposições, concertos ao ar livre, encontrei boa comida, boa cerveja, bons vinhos, muitas atividades culturais, e conheci pessoas interessantes, educadas, amáveis e cultas. De lá segui para uma cinzenta, chuvosa e caríssima Dublin.

Meu segundo erro foi reler nessa viagem Os Dublinenses, de James Joyce, um autor que adoro. Quem já leu os 15 contos dele sabe a forma brilhante, mas dura, que ele retrata o povo irlandês, sofrido, sem dúvida, mas de um catolicismo quase doentio, muitas vezes mesquinho, raso, e com uma falta de perspectiva asfixiante. Como os livros sempre me influenciam nas viagens, receei que esse espírito irish ainda estivesse presente, apesar de toda a modernidade que se atribuía a Dublin, do enriquecimento do país e dos bons frutos que dali vieram, Joyce inclusive, como tantos outros bons escritores, atores e músicos.

Logo de cara, enfrentei um emburrado irlandês na imigração que queria saber o que eu ia fazer lá. Turismo, talvez? Não, os brasileiros não fazem turismo na Irlanda. Não? Então o que ele achava que eu ia fazer? Trabalhar como senhora de programa? Ele só me deu o carimbo de entrada depois de ver minha passagem para Amsterdã, minha próxima parada.

Gelei ao pegar o táxi no aeroporto. Na minha última noite em Berlim havia sonhado que dirigia um carro debaixo de chuva e ao fazer uma curva nenhum controle me obedecia. Acho que, na verdade, era meu inconsciente me lembrando de que a direção naquele país é no lado contrário. E me adaptar a isso seria fundamental para fazer a viagem de Dublin a Cork, como havia programado com amigos que chegariam no dia seguinte de Londres. Socorro!

Meu terceiro erro foi a hospedagem. No verão, a Trinity College, uma das universidades mais antigas da Europa, aluga o alojamento dos estudantes. Era a opção mais barata e o campus fica no centro da cidade. Boa ideia, não? Péssima. Percorrer aquela área enorme à noite, cheia de árvores e iluminação fraca poderia se tornar um pesadelo. A alternativa era contornar o campus do lado de fora, pela calçada, um longo caminho onde a iluminação era igualmente fraca e você corria todos os riscos que o Frommers quase implora para evitar naquela cidade.

Resolvi sair naquele final de tarde de domingo. Depois de várias caras fechadas, povo que esbarra em você e não pede desculpas, joga caixa do McDonalds na ponte cartão postal, cheguei ao Temple Bar, enfim um bairro para chamar de meu. Mas o preço quase proibitivo de uma Guiness naqueles pubs não deixa ninguém chegar ao nirvana para achar tudo lindo e festivo. Nem esquecer a floresta da Bruxa de Blair da volta.

No dia seguinte, depois da "boa notícia" de que meus amigos perderam o voo, saí para mais uma volta pela cidade. Durante o dia, as coisas ficaram melhores. Há um belo parque bem no centro, uma área toda modernizada, com boas galerias e restaurantes e pessoas mais educadas. Resolvi respirar, de alguma forma, U2. Almocei no Nude, que pertencia ao irmão de Bono, e tomei café no Clarence Hotel, pertencente ao Bono e The Edge. Um luxo, inclusive no preço.

Mas nas poucas conversas daquele dia, muita prevenção aos estrangeiros que sempre querem tirar alguma coisa deles. Principalmente os do leste europeu, que eram recrutados pelo governo para fazerem o trabalho pesado, e sujo, que os novo ricos irlandeses não queriam mais fazer. A exceção, claro, ficava com o adorado "povo da América". Ali tive certeza de que estava cruzando as pessoas erradas.

No terceiro dia tudo melhorou com a chegada dos meus amigos. Apesar da insistente chuva, percorremos vários pontos turísticos mantendo o bom humor e comprando comida e bebida nos supermercados para economizarmos. E, claro, casacos com capuz.

A nossa saída motorizada de Dublin foi catastrófica. Em cada cruzamento muitos gritos e histeria dentro do carro e palavrões intraduzíveis lá fora. Pegar a estrada trouxe um certo alívio, apesar dos momentos de tensão quando qualquer carro se aproximava. Não é nada fácil passar a marcha com a mão esquerda, imagine então entrar do lado certo da rua e estacionar. De suar em bicas.

Viajar pela Irlanda foi uma experiência incrível, paisagens diversas no caminho, mar, rios, lagos, castelos, ruínas celtas, cabras no meio da estrada, cidades pequenas e de ruas estreitíssimas mas sempre com mão dupla. Tudo como imaginava nos livros e filmes.

Em Kilkenny nós acreditamos piamente que encontramos a irmã do leprechaun, o duende que cuida dos tesouros irlandeses. Acho que era ela mesma, disfarçada de dona de pousada. Cobh é uma cidade lindíssima, mas seu turismo está todo voltado para o fato de ter sido o último porto onde o Titanic parou. Ou seja, antes de afundar. Eu prefereria dizer que foi ali que Leornado Di Caprio subiu a bordo. Em Cork, uma bela surpresa. Ali estava muito da Dublin que eu havia projetado, uma cidade colorida, música nas ruas, povo alegre e hospitaleiro.

Ao voltar para Dublin (de ônibus, já que nem morta levaria o carro sozinha depois de meus amigos terem retornado a Londres), decidi que era hora de mudar de escola. E fui para a Dublin City University, não tão central quanto a Trinity, mas com muito mais vida e menos perigo. A diferença era gritante já no mercado próximo onde fui comprar coisas para fazer um lanche. Na área de convivência, no prédio central, um batalhão de jovens entusiasmados, brincalhões, divertidos. Alguns estavam super excitados porque em dois dias veriam o Pearl Jam na Arena O2. E queriam saber como foi o show deles que eu havia visto no ano anterior, no Pacaembu. Essa foi minha última e agradável noite em Dublin.

É bem provável que todos os sentimentos contraditórios que Dublin me causou estivessem em mim. Como encontrar alguém que mexe com você mas que, no final, a chance de conhecer melhor é desperdiçada. Quem sabe eu deva voltar, esquecendo Joyce, esquecendo o espírito irlandês, e encontrando a minha turma logo de cara. Quem sabe...

março 16, 2011

A criadora e a criatura


Esse é um post mulherzinha, o que não quer dizer que os homens não possam ler. Conversando com uma amiga, ela me disse tudo que gostaria de ter das mulheres famosas. Adivinhem? O cabelo da Gisele, a boca da Angelina, o corpo da Naomi, e por aí afora. Eu fiquei pensando no que resultaria isso tudo. Então, resolvi montar o meu - e a minha - próprio Frankstein a partir de projeções que faço no mundo das celebridades.
Eu seria mais ou menos assim: teria a alegria juvenil da Kate Winslet e o jeito confiável da Meg Ryan. O olhar misterioso viria da Jacqueline Bisset, o charme da Penélope Cruz e a elegância da Audrey Hepburn. Teria o jeito calmo de falar da Catherine Deneuve mas em alguns momentos poderia sussurrar como a Renée Zellweger.
Meu poder de sedução sobre os homens poderia oscilar entre a encantadora Aishwarya Rai e a avassaladora Rita Hayworth em seu melhor momento Gilda . Mas saberia a hora de ser tão delicada como Camila Pitanga. Seria tão versátil e talentosa quanto a Meryl Streep, espirituosa e perspicaz como Isabell Allende, teria o autoconhecimento e a ética da Susan Sarandon e a liberdade para fazer o que bem entendesse conquistada pela Ellen de Generes. Mas, acima de tudo, envelheceria com a dignidade e a beleza da Vanessa Redgrave.
Ficou estranho? Mas pode ser pior. Também montei o Frankstein do companheiro ideal. E, acreditem, ele é ainda mais bipolar do que a minha própria criatura. Ele transpiraria a virilidade do Daniel Craig mas também teria o indisfarçável jeito doce do Antonio Banderas. Seria um eterno rebelde, como Johnny Depp, debochado como Keith Richards e com o humor britânico do Hugh Grant. De Martin Donovan teria o ar blasé de quem fala pouco e observa muito. Mas que sabe se colocar na hora certa e de forma adequada, com uma leve pitada de boa ironia. E dele também teria o sorriso contido no canto dos lábios quando eu fizesse alguma bobagem. Mas seria delicado o suficiente para não dizer nada, como Jude Law.
Ele me abraçaria com os braços fortes do Larry Mullen Jr e me diria palavras de amor com a voz do Eddie Vedder, de quem também herdaria a necessidade rasgada de estar sempre apaixonado e a fidelidade. A cumplicidade e o senso de compromisso viriam do Antônio Fagundes e ele me protegeria como o Hugh Jackman.
Seria tão criativo como o Almodóvar e com a alta capacidade de rir de si mesmo do Gerard Butler. A perspicácia e a inteligência ganharia do Contardo Calligaris e discutiria o relacionamento como o Gabriel Byrne. E algumas noites me amaria como Paul Newman, no auge de sua juventude. Em outras loucamente como Javier Bardem.
Eu avisei, podia piorar. Se achou estranho demais, monte você mesmo as suas criaturas. Freud explica.
E aí, Pedro, queria mesmo os posts de volta?

fevereiro 04, 2011

A forma e o conteúdo

Os amigos a alertaram sobre o encanto que ela sentia por um conteúdo. Isso fazia com que o nível de exigência para as formas a seu lado aumentasse. Mulher madura, ela aos poucos foi tomando consciência disso. E torceu para que se um dia conhecesse a forma proibida daquele conteúdo tão próximo não se abalasse. Em vão. Em meio a concreto, fumaça e cristais, viu que forma e conteúdo se casavam perfeitamente. Então se deu conta de que ela, garota, corria mais riscos do que imaginava.

A forma voou para longe e ela voltou a se encontrar com o conteúdo. Menina, não conseguia decifrar direito o que havia mudado. Se perdeu nas palavras, tropeçou em pensamentos. Foi quando o conteúdo lhe pediu que se desnudasse.

Jovem, confusa, ela não sabia se poderia fazer isso. Decidiu procurar a mulher madura e experiente para ver se ela tinha a chave. A encontrou sentada em um jardim suspenso, na noite fria, fumando um cigarro e olhando a cidade lá embaixo. Chegou mais perto e notou que ela cantava baixinho.

"Tried to point my finger but the wind keeps blowin' me around, in circles, in circles
Lucky stars in your eyes...I'm walking the cow..

I really don't know what I have to fear, I really don't know why I have to care
I'm walking the cow ...Lucky stars in your eyes...'

Ela reuniu todas as suas mulheres para ganhar força. Mas, então, percebeu que havia perdido a voz. Tomou o último gole de vinho em sua taça de cristal, apagou o cigarro, e foi dormir.

Sonhou que não faria diferença e que o conteúdo já a tinha entendido. Sentiu a forma do seu abraço.

Walking the cow

Esse texto é antiiiigo. Lembrei dele quando tive vontade de ouvir essa música. A gravação não é das melhores, tem muita gritaria. Mas foi a melhor que achei. Eddie Vedder em um cover de Daniel Johnston.

janeiro 09, 2011

Pedrinho

Tulipa Ruiz, considerada a dona de um dos melhores CDs de 2010.

dezembro 29, 2010

É o 11...

Sem dúvida, dezembro está sendo uma boa despedida de um bom ano. Apesar de alguns cristais quebrados no caminho, mesmo que valiosos por terem sido lapidados na era paleolítica, o saldo é altamente positivo. Um ano para lá de interessante e bem vivido. Além do mais, só de ver o alto astral da pequena Maitê, tão amada, já vale por tudo.
E para encerrar 2010 o revigorante ar frio e a energizante areia quente deram suas contribuições. Resoluções de ano-novo estão quase prontas. E são muito boas e ousadas.
Um ótimo 2011 para todos. E que o Nibiru comece a desviar sua rota para nos poupar em 2012. Cometas, só do bem.
Tim tim....



















O infalável

Eu conheci um israelense que morou tempo suficiente no Brasil para se casar com uma brasileira e ter um filho. Mas, por conta do trabalho, se mudou para Dallas, onde vive até hoje. Por conta disso, seu filho convive com o inglês de seus amiguinhos, mas também com o hebraico e com o português que seus pais fazem questão de falar em casa. Para agravar, sua babá é mexicana e não deixa de lhe ensinar algumas palavras em espanhol.

A dúvida do pai era qual língua o garoto consideraria a sua. Para responder a isso, ele foi aconselhado a esperar que o menino começasse a fazer contas. "Ninguém consegue fazer contas senão na sua própria língua", lhe disse um amigo.

Estou contando essa história porque ao criar um blog, eu achei que falaria de tudo que tivesse vontade, sem tabus. No entanto, me dei conta de que isso não é verdade, há alguns assuntos que não consigo sequer tocar. Ou um único. E, de repente, descubro que isso acontece porque talvez, nesse caso, eu sinta em outra língua que não a minha, quem sabe polonês, grego, ou até javanês. Qualquer uma que eu não tenha vocabulário suficiente, ou nenhum, para me expressar.

Talvez porque tenha achado que tivesse colocado todas as minhas forças na tecla del. Mas, de uma forma ou de outra, tenha descoberto que não apaguei nada. Sim, memória afetiva tem poder e distribui bordoadas. Assim como elas nos presenteia com a redescoberta, a intimidade, o prazer, a paixão, o para sempre, ela traz gravada a desconfiança, o descontrole, a incompetência e a impossibilidade.

Talvez porque eu,inocentemente, tenha achado que pudesse continuar sonhando sob a luz difusa do abajur. Mas, no fundo, sabia que a hora que os holofotes fossem ligados, e mostrassem a histórica repetição de erros, não haveria muito mais o que fazer a não ser correr. Run, Lola, run...

Og allt vegna þess að þú hafir ekki trúa á þig, en ekki trúa mér. Ég get bara sjá eftir því og aftur að reyna að gleyma.

É ou não é difícil sentir em outra língua?

I won´t back down

Um clássico de Tom Petty and The Heartbreakers, com participação de George Harrison e Ringo Starr.

dezembro 04, 2010

Em boa companhia

Já aviso que esse é um post longo, assim quem não tem tempo a perder nem vá adiante. E vai começar contando que eu também gosto de viajar sozinha. Tem algumas desvantagens, mas tem muitas coisas prazeirosas. E que são meio óbvias. Como a maior parte do tempo a minha companhia são os meus pensamentos, tenho de tratá-los de forma mais adequada e intensa. E ainda há a chance de conhecer mais pessoas do que quando viajo acompanhada, afinal alguém sozinho aparenta fragilidade e quem observa não se sente tão intimidado de começar um bate-papo pois está livre do risco de uma rejeição, e de piadas, de um grupo. E a sensação de que vai atrapalhar é bem menor. Foi assim em todas as viagens que fiz desacompanhada, refleti mais sobre minha vida, tomei decisões importantes e ainda conheci pessoas interessantes, muitos meus amigos até hoje.

Menos dessa última vez, quando fui para a Patagônia argentina. E só fui perceber meio tarde que, na verdade, não fui sozinha. Voluntariamente, deixei Isabel entrar na minha viagem. E ela trouxe sua barulhenta, engraçada e dramática trupe. Só isso já ocupou boa parte do meu tempo, conhecer cada um deles e entender como suas vidas se transformaram nos últimos anos. Era fácil perceber a força da chefe do clã que, apesar de todos os problemas -- e não foram poucos nem pequenos -- manteve uma determinação ímpar de seguir em frente, guiada pelos seus sentimentos, pela sabedoria de lidar com o inesperado, pela magia, pela força da família e das amizades, por muita reza das Irmãs da Perpétua Desordem, pelo lúdico e um tiquinho pela razão.

Ela tem uma observação aguçada, alimenta sua memória com várias anotações e cartas trocadas com sua mãe, muita sensibilidade, bom humor e uma capacidade que parece inesgotável de se meter na vida dos outros, na tentativa de ajudá-los à sua maneira. A ponto de seu filho esconder a sete chaves sua certidão de nascimento para que ela não tenha acesso ao horário exato do seu nascimento, um dado que já não lembra mais, e mande fazer seu mapa astrológico com seu guru predileto.

Ela tomou tanto do meu tempo que mal percebi a armadilha que caí em El Chaltén e só fui entender que teria uma caminhada de nove horas pela frente quando o carro que nos levou até um ponto X do Parque Nacional Los Glaciares foi embora. E lá fui eu maldizendo a menina da agência que não entendeu o que eu quis dizer com "caminhadas lights", delirando com o guia sobre planos de montar uma agência de turismo patagônico que conteria apenas roteiros gastronômicos e passeios de helicópteros, e ainda me recusando a parar nos últimos miradores para tirar fotos já que havia um longo caminho pela frente e não poderíamos deixar a natureza nos distrair. Claro que acabei o trajeto completamente esgotada, sem conseguir dar um passo sequer e impossibilitada até de vencer o forte vento, ao lado de um guia que oscilava entre rir muito do meu estado ou ficar chocado com meus projetos mirabolantes.

Voltei para El Calafate, novamente absorvida por Isabel. E por Willie, Celia, Nico, Ernesto, Lorie, Sally, Tabra, e tantos outros que entravam e saíam a toa hora, de uma forma alucinante principalmente para mim que estava com os pensamentos no mesmo ritmo dos passos que dava no caminho que contornava o imponente Fitz Roy, um de cada vez. Mas não havia como não me envolver novamente, Isabel é uma exímia contadora de histórias, o que dava a impressão de que eu já conhecia todos eles há muito tempo. Me identifiquei muitas vezes, desejei ter a sua força, me emocionei, não pude esconder as lágrimas, dei muitas risadas, e, principalmente, não queria mais que eles fossem embora.

Mas eles foram justamente na véspera da minha visita ao Perito Moreno, o que me deixou ainda mais sensível e reflexiva. A visita ao glaciar foi mágica. Se eu não acreditasse no divino, ali eu passaria a acreditar. Nem preciso detalhar, muito já foi dito sobre aquilo, mas a força com que a natureza cria aquela montanha de gelo, como a empurra para a terra e depois provoca a ruptura, é de deixar qualquer um encantado. E cada vez mais consciente de tudo aquilo que deixamos de lado no dia-a-dia, a nossa insignificância, a temporalidade, e a importância de sabermos que o universo toma conta. E o próprio glaciar se encarrega de nos lembrar com o barulho imenso que faz cada vez que um bloco de gelo se descola dele. Os sons da Patagônia, aliás, nunca mais esquecerei.

Naquele mesmo dia fui jantar com um belga que conheci na visita ao Perito Moreno. Um cara muito interessante, engraçado, e um pouquinho mais vaidoso do que a cota normal de cada um. A conversa foi ótima, mas teve momentos que foram um pouco dificultados pelo fato de que minhas brincadeiras, se já não são lá essas coisas em português, em um inglês patagônico ficam completamente sem sentido. E nem todo o Malbec me ajudou a explicar para ele o que é uma planta dormideira. Será que na Bélgica não há plantas que dormem quando você canta, dorme, dorme, dormideira, para acordar na quarta-feira? Estranha Bélgica.

De volta ao hotel, ainda inebriada pelo vinho e pela força dos glaciares, desabei. E não apenas fisicamente, como era esperado. Meu emocional estava tão abalado quanto meus pés cansados. O que não saía da minha cabeça era a relação de Isabel e Willie. Trata-se do segundo casamento dela e o terceiro dele. Já estão juntos há muitos anos mas se tratam como recém casados, o que inclui dúvidas e devaneios. Mas contam com cumplicidade e companheirismos invejáveis. Teoricamente, já não precisam provar nada um ao outro, mas o fazem diariamente.

Por coincidência, o meu hotel estava tomado de casais bem mais velhos, o que dito por mim significa uma faixa mais adiantada mesmo. Como Isabel e Willie. E isso me tocou profundamente. Provavelmente eram casais que já passaram por inúmeras provações e continuavam juntos, alguns de mãos dadas, o que era lindo de ver, apesar de outros que mal conversavam, o que causava estranheza. Mas todos eles têm um passado juntos, envelheceram ao lado um do outro e, muito possivelmente, morrerão próximos.

Depois da morte do meu pai, com minha mãe ficando sozinha, eu havia esquecido como é isso. Se bem que, mesmo se não fosse isso, eles pertencem a uma época em que a envelhescência junta não incluía viagens à Patagônia. Tenho casais amigos que vivem relacionamentos mais ou menos definidos, alguns mais outros menos. Mas que, nos dias de hoje, não estão imunes a reviravoltas, infelizmente. Poderão visitar El Calafate daqui a muitos anos juntinhos, mas ainda correm o risco de que isso não aconteça. Claro que há os que possuem relacionamentos que você pode dizer que já poderiam marcar suas passagens, mas talvez só agora eu perceba essa diferença.

Aquilo tudo, na verdade, estava mexendo com coisas importantes dentro de mim. Eu invejei aquelas pessoas pela sobrevivência "do estar juntos". Isso é uma vitória a ser comemorada, não há dúvidas. Quantos projetam isso, mas quantos realmente conseguem? Eu já vivi muitos e muitos momentos como aqueles, amei muito e sei que fui muito amada, e talvez ainda seja, mas nada daquilo chegou comigo até a Patagônia.

E o pior é saber que, a essa altura, qualquer relacionamento que se inicia é, na verdade, um relacionamento que se inicia. Vai demorar muito para que um conheça tão bem o outro a ponto de saber quando é preciso deixá-lo sozinho, qual é o timing para ficar o lado, identificar uma frase inteira em apenas um olhar, segurar na mão porque sabe de sua emoção diante de um glaciar ou até lembrar que está na hora de tomar o remédio.

Bom, por conta da Internet esse momento melancólico não ficou apenas na Argentina e incomodou um thanksgiving na Califórnia, regado a tequila e tortilla mexicana. E o telefonema que recebi em seguida teve uma força restauradora. E nem foi o fato de a pessoa do outro lado tentar me dizer que eu poderia estar sensibilizada por aparências e não pela felicidade em si. Nem que minha liberdade de escolher o que quero e posso fazer pode valer ouro para muitos que se sentem aprisionados. Ou até que sou muito amada. Não, nada disso me convenceu. O que me devolveu a esperança do "estar junto", independente da forma, foi simplesmente a voz. Forte, segura e tão amada que conseguiu se sobrepor ao fato de que, naquele momento, faltava o toque. Guardadas as devidas proporções, era quase como ouvir de novo o grito do Perito Moreno. E me lembrava que há conexões na vida que não têm preço e estarão sempre com você. Mesmo que apenas no seu coração.

Ai, ai,, ai, Fitz

Essa foto do post é do Cerro Fitz Roy, mas não é minha. Ele passa a maior parte do ano coberto pelas nuvens, é muito difícil um dia que está totalmente visível. E, por incrível que pareça, ao sair de um restaurante eu consegui bater uma foto dele limpinho, limpinho. Ainda não baixei, uma hora coloco aqui. E isso foi na véspera de percorrer o estressante Sendero Fitz Roy onde me senti conectada, não exatamente no bom sentido, a todos os ossos e músculos das minhas pernas. Precisava?

Isabel

Quem quiser viajar com a Isabel, o caminho é "A Soma dos Dias". Em Buenos Aires, além de reencontrar rapidamente meu amigo belga, minha companhia também foi o sarcástico Tony, em "Em busca do prato perfeito".

Walking after you

O que mais poderia ser? Walking, walking...Foo Fighters

novembro 19, 2010

Ao gelo irás....


Enquanto todos estiverem ardendo com calor que deve fazer nessa parte do planeta, minha alma estará buscando iluminação, meu corpo uma lareira e minha câmera os melhores momentos. E do gelo voltarás, ainda mais quente.

In my head
Lá estava eu, vibrando, cantando, pulando, torcendo meu pé....mas feliz. Queens of the stone age, o melhor show do SWU.




Live and let Die

Lá estarei eu, vibrando, cantando, pulando, torcendo meu pé...mas feliz. Antes de partir para o gelo.

setembro 16, 2010

Che está entre nós

Meio cansadinho, com muitas olheiras, mas charmoso e gostoso. Che vive!

Última refeição

No feriado, eu peguei um vôo da Webjet que simplesmente freou no ar. Meus amigos dizem que a perda de velocidade repentina, por conta de algum problema, pode dar essa impressão. Sei lá, para mim ele freou. Imediatamente acenderam os avisos para colocar o cinto e até as aeromoças correram para suas cadeiras. Então, boa coisa não era. O mais engraçado é que você pensa quais seriam suas últimas palavras, ou, no caso, pensamentos. Eu só consegui pensar que não merecia ter como última refeição uma goiabinha Bauducco. Pobreza !

Dois amigos por um amor novo

Adoro pesquisas. Mas, sinceramente, nem sempre as entendo. A Universidade de Oxford, por exemplo, está me apresentando uma matemática meio doida. Segundo os pesquisadores de lá, a maioria das pessoas tem um círculo de cinco pessoas que elas encontram pelo menos uma vez por semana e com quem contam nos momentos de crise. Quando você começa a sair com alguém, esse número cai para quatro, porque você perde dois amigos e incluí o novo namorado, ou namorada, na roda. Esses dois seriam, dizem, um parente e um amigo. Ou seja, quando você iniciar um novo relacionamento já comece a pensar na escolha de Sofia que terá de fazer e quem deixará de lado, senão não cabe o novo affair. Não são estranhos esses ingleses?

Austrália?

Tenho visto muitas pessoas dizerem que diante do quadro eleitoral querem mudar de país. Eu também penso nisso às vezes, para falar a verdade. Só que os motivos talvez não sejam os mesmos. Para mim, se nos próximos quatro anos o tom da mídia permanecer o mesmo do que, tristemente, vejo agora, talvez a Austrália possa ser um lugar melhor para viver. Sem ter de conviver com factóides, apurações mal feitas e contraditórias, e com a falta de discussões sérias e sem rancor sobre o que o país precisa. Não que faça diferença, o Brasil vive um momento tão diferente e interessante que a mídia não está conseguindo acompanhar e está se descolando do seu papel. E é justamente isso que dá uma tristeza.
Bom, naquela ilha eu, de, quebra, ainda posso ficar quietinha em um canto da praia, vendo o balanço dos surfistas nas ondas e as pessoas alegres e felizes. Que nem pensam em se desgrudar da rainha, vejam só. Pelo menos lá mergulharei com verdadeiros, e talvez mais inofensivos, tubarões. É, talvez seja um bom lugar. E para os que se surpreenderem com minha fuga eu ainda posso dizer, "faz de conta que eu nem vim".

Honestly OK

Talvez a resposta não seja a mesma amanhã. Mas hoje, para quem perguntou, é essa. By Dido. Sorry.