abril 10, 2008

Vou me embora...

Devo, não nego. Demoro, mas pago. Recebi uma tarefa da Amélie, aquela que enlouquece todos os homens, e até mulheres, que passam pelo seu blog. Deveria postar um texto que me marcou. Duro, não?Quantos trechos de livros, que me fizeram chorar, ou rir, e que poderiam ser escolhidos. Outras tantas poesias. Até busquei um livro de poesias, mas doeu muito mexer com ele, por coisas que não vem ao caso. Desisti.
Daí lembrei que enquanto crescia em uma pequena cidade do interior eu achava que tudo era pequeno demais, apertado demais, limitado demais. Na verdade, uma criança que cresce em uma pequena cidade do interior lá sabe o que lhe cabe? Eu achava que sabia. E, apesar de todas as delícias que se vive crescendo em uma cidade do interior, eu sempre tive os olhos voltados para a estrada. Gostava de ver quem chegava, gostava da hora que era eu a sair, gostava de prestar atenção.
Na escola me apresentaram uma poesia que me convenceu que, sim, deveria haver um lugar onde eu pudesse ir e viver livremente. Nem sabia, direito, o que era viver livremente. Também não tinha muita idéia do que eram aquelas prostitutas que o poeta falava, devia ser algo relacionado à rua 1, onde ficava o puteiro na minha cidade (sim, ela era a primeira rua). Mas sabia que havia prazer e determinação em querer estar em um lugar que te veste como uma luva. Seja qual for o lugar e quais os caminhos que te levem lá. Um tempo onde a felicidade podia ser real ou surreal, tanto fazia.
A poesia é simples, objetiva, e com uma cadência deliciosa. Foi batida e batida com o tempo, ficou quase gasta. Mas a frase sempre rondava minha cabeça, como ronda até hoje. Por que? Ora, porque, como Manuel Bandeira, também vou me embora para Pasárgada.

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que eu nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada


All Along the Watchtower

Se é saudosismo, então pé na lama. Bob Dylan tocando All Along the Watchtower junto com Richard Thompson, legendário e ótimo guitarrista que tem vários discos solos e também ao lado de sua ex-esposa, Linda. Essa música foi uma das que Dylan mais tocou em seus shows, e é adorada para covers. "Tudo ao longo da torre,em toda parte,em toda parte eu fui...". Uma boa trilha para quem vai embora para Pasárgada, não?

14 comentários:

A que está escrita. disse...

Patty, adorei sua escolha! O desafio é grande mesmo!
Também li esse poema na escola e, de vez em quando, naqueles momentos em que dá vontade de chutar o balde e ir embora, os versos me voltam fresquinhos à mente. Quantas vezes eu não quis ser "amiga do rei" também...
Beijo carinhoso!

Anônimo disse...

Eu penso em pasárgada toda vez que estou atolada em trabalho. Hoje mesmo, estava pensando nisso. Não ia a pasárgada mas estava planejando uma fuga para a praia. Só que não vai dar. Está armando um temporal aqui, com direito a ventania que bate portas e tudo.
Vou me embora...para a ioga, lá, esqueço do rei e do trabalho!

Anônimo disse...

Patti

Passei aqui para cuidar da sua rouquidão e te encontro vestindo uma blusa branca, uma saia quadriculada, os cabelos soltos e voando ao vento, um lencinho no pescoço, com todas as malas na estação esperando o trem.
Não era para vc estar com uma calça jeans, camiseta e tênis no aeroporto para a gente embarcar para o Hawaí? rs.
Então espera que vou pegar minhas coisas e vou embora pra Pasargada tbem.

Gostei muito, o se sentir pequena deve ter a ver com o fato de que vc era mesmo pequena. Mas entendo o que vc diz. Eu vivi minha infância em São Paulo e às vezes tbem achava asfixiante.

Me parece que até hoje vc está de olho na estrada, não é?

Bom, como vc diz, vamboralá. Também sou amigo do rei.

Beijos (assim)

Anônimo disse...

Ah, boa escolha da trilha para a nossa viagem.


Beijos (again)

Anônimo disse...

Patty vc precisa mesmo conhecer meu tio. pena que ele não mora em sp e não dá a mínima pra computador. mas ele vivia dizendo isso, vou me embora pra esse lugar aí que vc fala.

Lorde para de querer ir com ela.

Patty volto depois do feriado, semaninha de micro mini férias. não fica rouca não, tá.

Inté

Anônimo disse...

Boas férias, Kriko. E juízo.

bjs

Neil Son disse...

belo texto, bela música. thanks for sharing. beijo.

Patty Diphusa disse...

Oies

Paloma e Aiaiai, eu também lembro muito da poesia na hora que dá vontade de chutar o balde. E haja planejamentos de fugas, a gente tem um monte, não?

Pedro, adorei a imagem na estação de trem. É bem mesmo quem está indo embora pra Pasárgada. rs. Vamboralá, não liga pras implicâncias da Kriko não. Vc é bem-vindo na viagem, ainda bem que já gostou da trilha.

Continuo, mesmo, de olho nas estradas.


Kriko, já estou curiosa mesmo sobre seu tio. Onde ele mora? Boas férias, menina, aproveita bem. E se cuida.


Neil, tks. Super gentil.


Bjs para todos

Anônimo disse...

Vai não, Patty! Ainda tá cedo...

Brincadeira, querida. O poema, "bandeiroso", extraordinário, é universal e atemporal (apesar de monárquico).

A música... bem, a música... Digamos que o cantor é o maior letrista pop de todos os tempos (depois do Lennon, né?).


Krico, minha sobrinha predileta, vai viajar pra onde?

Mila Cardozo disse...

Não sei se saberia escolher... como não sei escolher musicas... ou trecho de musicas... depende muito do momento... e pra mim... é coisas de momento...Parabens!!!!
beijos Mila

Anônimo disse...

Rouca ou já está longe?

Beijos

Anônimo disse...

Patty?...

Bora! Pasárgada! Veste qualquer coisa, te pego em cinco minutos...

Patty Diphusa disse...

Oies

RM, monárquico mesmo. E quero ser amiga do rei. rs. Depois do Lennon? Acho que não, hem..

Mila, fácil não é mesmo. Eu optei pelo tempo que tenho esse poema na cabeça. Há muiiiiiito tempo.

Pedro, acho que os dois.

Mr Almost, veste alguma coisa em cinco minutos? Vc já viu alguma mulher fazer isso? rs.
Se vc esperar uns quarenta minutos, boralá.

Bjs para todos

Eliza Lynch disse...

Eu me sentia assim lá no fim do mundo!!!
Eu vim embora pra São Paulo.
Mas essa sensação de que o mundo ainda é maior e os olhos voltados pra estrada não largaram do meu pé.

Mas, heim??? Você cresceu no interior??? OI? Nunca me foi mencionado isso!!!
Precisa fazer um jantar pra me explicar essa história!! humpt