Não tenho dúvida de que sempre é melhor rir. Mas me lembro bem da situação que minha mãe me disse "engole essa risada", da mesma forma que outras mães diziam com o mesmo ar autoritário, "engole esse choro". Ela havia se recusado a ser minha professora no primário, provavelmente porque achava que a primeira filha mimada se transformaria rapidamente no primeiro monstrinho da sala de aula. E ela seria obrigada a ser mais rígida e me dar castigos exemplares. Acho que tinha certa razão em preferir que eu me tornasse um monstrinho, o que já parecia inevitável, nas mãos de suas colegas.
Mas, durante um prova conjunta das duas salas, a minha e a dela, ela foi praticamente obrigada a se contradizer. Havia uma menina que estudava comigo, Angelina -- lembro o nome, vejam só, mas nem pensar em lembrar seu rosto -- que era boa aluna mas passava por momentos complicados. Sentada atrás de mim, ela não conseguia fazer a prova. Minha professora estava preocupada e pediu à minha mãe que "sugerisse" que eu a "ajudasse". Falando claro, que passasse cola ou soprasse as respostas no seu ouvido.
Minha mãe, para não contrariar a amiga e sabendo dos problemas da minha colega (que até hoje não tenho ideia quais eram, mas imagino que deviam ser graves), acabou cedendo. Ela praticamente sussurou o pedido de ajuda no meu ouvido. Minha primeira reação foi "ahnnn?", e a segunda, depois de confirmar que era aquilo mesmo que eu tinha entedido, uma tremenda gargalhada. Foi daí que veio a ordem "sutil" para que eu parasse de rir e fizesse o que tinha de fazer. E, mordendo os lábios, tratei de ajudar a menina.
Nunca mais tocamos nesse assunto, mas acho que no fundo minha mãe sabe que o meu lado B, totalmente desregrado, teve início naquele momento e com aquela frase.
A risada sempre foi uma companheira e uma encrenca na minha vida. Na verdade, muito mais companheira do que encrenca. Me trouxe descontração, leveza, alívio, esperança, mas me colocou em situações complicadas. Por força das circunstâncias do tal amadurecimento e das necessidades, aprendi, mais ou menos, a "engolir a risada". E quem diz o contrário não sabe o quanto poderia ser pior.
Não sei se por conta da idade, do avózinato, ou de outras coisas, percebo que a risada anda bem mais solta, o que é um bom sinal. Desde que mantidas as convenções, óbvio. Claro que quando o motorista do táxi me diz que a mulher no Irã iria morrer apedrejada porque "adulterou" o marido, não há como segurar. Mas gargalhar sozinha em um restaurante com o texto sarcástico de Anthony Bourdain já causa esquisitice. E não conseguir parar nem com os olhares indagadores, nossa, meio doida. Quem está acostumado a ver uma pessoa rindo sozinha mal conseguindo comer seu sushi?
Mas o pior mesmo são as situações sutis. Aquela em que as pessoas estão se levando tremendamente a sério, mesmo escancaradamente caricatas. Ou te dando conselhos, com a melhor das intenções, mas sem qualquer ligação com o seu mundo. Ou com o mundo de qualquer um. Nessas horas, a boa educação diz para você fazer de conta que não está percebendo e seguir adiante. Mas como fazer isso com o risômetro aberto? Lembre-se do que sua mãe lhe ensinou.
Algumas situações podem fazer com que você passe por insensível, mesmo que não seja verdade, por má educada, pode ser, por prepotente, nem tanto, ou por idiota, o que não é o caso. Enfim, por nada que você gostaria que lhe fosse atribuído ou que fosse revelado.
Há ainda as escolhas que você faz e não consegue mais se desvincular delas. Ao encontrar um cara interessante, que não conta piadas, porque nem gosto, mas me faz rir com observações inteligentes e sagazes, a entrega só não é imediata, porque há outros pontos a serem pesados, mas é mais que meio caminho andado. E se no relacionamento ele some, te deixa plantada porque tem compromissos que acha mais importante do que estar com você? Não faz mal. Se for esperto, sabe que uma declaração inesperada e divertida pode lhe render muito mais do que qualquer explicação mal estruturada. Está ciente de que te fazendo rir, o que não é difícil, o cenário muda completamente. E a canção continua no ar até que você não veja mais graça e de um basta de vez.
Não estou com essa bola toda para rir à toa. Mas, no fundo, gosto de saber que há mais leveza para essa espontaneidade. Mesmo que haja um preço a pagar. Bom, esse é mais um post do blog-terapia que, como qualquer análise, só interessa ao analisado. Sorry, o José Simão tem blog, é bem mais divertido e te faz rir facilmente.
Transformers
Como não rir de um filme cujo título é "Transformers, a vingança dos derrotados"? Não assisti nenhum deles, se é que são vários, mas imagino que o anterior foi um sucesso inesperado para os produtores que, obviamente, ficaram doidos por uma continuação. Mas os roteiristas, deduzo também pelo título,encerraram o outro filme com uma vitória massacrante do bem, seja lá quem eles forem, e,dessa vez, precisaram recorrer a todos os artifícios para promoverem uma nova batalha com os quase dizimados. Que, por sinal, devem perder novamente, porque, elementar, meu caro, não dá para os "derrotados" retornarem e sairem vitoriosos, não? Em Hollywood, uma vez perdedor, sempre perdedor. E se o foi problema da tradução do título, o espírito permanece. Bom, não vi e não verei, nem para saber se é isso mesmo.
A sombra do vento
Imperdível. Quem ainda não leu,vale a pena. O catalão Carlos Ruiz Zafón faz um passeio magnífico por vários gêneros, entrelaçando histórias e estilos na Barcelona da década de 40. É daqueles livros que você não vê nenhum problema em varar a noite lendo e lamenta quando acaba. Não foi à toa que Zafón foi considerado uma das maiores revelações literárias dos últimos anos. Confira. (eu havia chamado de A sombra do Tempo, mas atento Chorik me alertou para o erro).
Mais essa?
Uma sessão mulherzinha rápida, o Javier Barden precisava ainda ser o primeiro da lista dos homens mais bem vestidos da Vanity Fair? Era mesmo necessário? Só falta ser bem humorado, afe.
Naperville
Quem mora em Naperville e passa por aqui? Fique à vontade, mas eu fico curiosa.
Use what I got
Uma performance de Lucy Woodward no Joe´s Pub, em Nova York, parte do Public Theater. Está aí um lugar que eu quero ir. Fica aberto a semana toda e sempre tem performances e shows, às vezes até três por noite. Para quem está por lá, fica na 425 Lafayette Street. Beba e dance por mim.
agosto 04, 2010
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14 comentários:
Vale a pena esperar seus posts. Posso não rir tanto, mas sua inteligência, cultura e sensibilidade nos premiam sempre.
P.S. Eu li o excelente A Sombra do Vento há alguns anos. É o mesmo livro ou é outro com título semelhante?
Patti, primeiro queria dizer o seu sorriso e a sua risada dão saudades.
Agora, só o fato de você, menininha, dar uma gargalhada na cara da sua mãe quando ela fez aquele pedido já mostrava um lado B, concorda? Então não vamos culpá-la.
Do Transformers, não percamos tempo. Sobre o livro, quero ler, vou ver se consigo uma versão em português por aqui.
Chorik, é verdade. Sempre vale a pena esperar por ela.
Beijos
Chorik, vc é sempre tão gentil. Tks, mas acho que não mereço, sinceramente.
Deve ser o mesmo livro, eu que li tarde. Fala sobre a história dos Sempere, na livraria, é isso, não?
Bjs
Pedro, bom saber que há saudades.
Não vamos culpar ninguém então pelo lado B? Socorro, estava no sangue?
Vc quer ler em português mesmo? Posso te mandar o livro.
Beijos
Patty, é esse mesmo. Você escreveu a Sombra do Tempo - o correto é A Sombra do Vento, por isso a confusão. rs
Olá, Patty.
Demorei mas, apareci..rs
E somos duas. Meu risador é ligado. E ele, de sacanagem, se mostra nas horas mais improprias. Ainda luto para controlar, é dificil e, sim, me rende várias historias ilárias e algumas desastrosas. rs. Me dê dicas, para nao achar graça, quando nao se deve achar...
Beeeijos
Querida saudades...
Também sofro do problema do riso solto, te entendo perfeitamente...
bjs
não sei vc Patty, mas para mim, a "cada engole esta risada" dito pela mãe, a vontade rir triplicava sem controle. Viva o lado B sorridente e feliz!
Tá aí uma coisa que vc não deveria se preocupar, Patty. Sua risada é uma característica sua que deve ser preservada. Não engole não, lado b nela.
bjs
Chorik, já corrigi, tks. Não é demais esse livro? Sensacional.
bjs
Celine, quando vc dá de achar graça, não tem o que segure. Agora a risada, ainda podemos tentar controlar. Mas que é difícil, é.
que bom que vc voltou.
bjs
Krisy, bom mesmo é qdo podemos soltar as risadas juntas, como da última vez no Rio. Saudades tbem.
bjs
A1, tks. Não vou engolir, duela a quem duela, rs.
bjs
Hélio, pior são as bochechas da gente crescendo, crescendo, tentando segurar a gargalhada. E a explosão? Uma delícia.
Bjs
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