Catarse é a purificação das almas por meio da descarga emocional provocada por um drama. Dito isso, vou contar que passei o dia pensando na entrevista que eu li da Jeannette Walls no Estadão. Ela está divulgando seu livro, Castelo de Vidro, que ainda não li e ainda não sei se lerei. Jeannette é uma jornalista de sucesso nos Estados Unidos que, de repente, expôs suas vísceras e chocou coleguinhas e assessores da vida. Ela fala de sua infância caótica, criada por um pai alcoólatra e violento e uma mãe alienada e maluca que se esquece até de dar comida a seus filhos. Sua primeira lembrança é quando aos três anos de idade, tentando esquentar uma salsicha para matar sua fome, colocou fogo no trailer onde vivia com a família e foi parar no hospital Depois de dois dias hospitalizada, seu pai chegou bêbado e a tirou dali escondido para não pagar a conta do hospital. No carro, sua mãe e irmãos já aguardavam pela fuga. Daí para frente, só desgraças pelo que entendi. Mas, segundo a matéria, a jornalista não mostra ressentimento, apenas teve vontade de contar sua história. Brad Pitt vai produzir o filme.
Eu admiro essa coragem e ao mesmo tempo tenho medo. E não sei dizer o motivo, talvez de imaginar a que nível as revelações podem chegar. A literatura está recheada de bons e maus livros autobiográficos e o cinema idem. Parabéns para aqueles que conseguem ainda tornar palatável para o leitor experiências trágicas de suas vidas ou o lado mais profundo de suas almas. Eu gostaria de ter esse talento e coragem.
Agora entro em um outro ponto que tem a ver com a foto que postei aqui que diz respeito a quando essa catarse é feita por meio da música. Ela parece que atinge mais direto. Fico pensando naquelas milhares de canções de amores desfeitos que nós escutamos, cantamos juntos e, sem querer, participamos de uma história de amor que não é nossa. Nós nos apoderamos e a transferimos para nossas vidas. Mas ela foi criada por alguém, dirigida para algúem, e toda vez que essa pessoa canta essa música sabe exatamente de quem está falando. Para o bem ou para o mal.
Acho que a própria essência da música é catártica. E os exemplos são inúmeros. Mas lembro de alguns que me tocaram -- devo estar esquecendo outros importantes -- como Tears in Heaven, do Eric Clapton, sobre a dor da perda de um filho. Linda e melancólica. Tem dois exemplos, do mesmo artista, que eu sempre me lembro quando se fala de processo catártico público. Alive é a música composta por Eddie Vedder que conta como ele soube, aos 13 anos de idade, que não era filho de quem ele pensava ser mas sim de outro que havia morrido pouco antes. Não se trata de uma situação inédita, mas foram poucos os que conseguiram fazer com que milhares de pessoas no mundo inteiro sofressem e cantassem isso com eles. Eddie foi um deles. Cada vez que vejo um estádio lotado cantando o refrão"I´m still alive" me arrepio. Pessoalmente vi uma vez só, mas em vídeo outras tantas.
A outra música, também dele, é Betterman, que foi composta para o então padrasto que ele odiava. A composição se refere ao sofrimento de uma mulher, no caso sua mãe, que sempre espera pelo seu homem até tarde da noite. Ele concluí que ela só estava lá porque não conseguia achar um homem melhor. Esse "homem melhor" ecoou pelos quatro cantos do mundo. A situação é trivial, milhões de mulheres passaram pelo mesmo, mas ele transformou isso em uma música belíssima que já virou um karaokê, são poucos os que não cantam juntos quando ela é tocada. E que esse padrasto que passe longe se não quiser escutar o barulho. E foi muito emocionante assistir no Morumbi o Bono cantando Sometimes You Can´t Make it On Your Own, sobre a dor da perda de seu teimoso pai. Uma coisa bem irlandesa, mas muito linda.
Eu admiro essa coragem e ao mesmo tempo tenho medo. E não sei dizer o motivo, talvez de imaginar a que nível as revelações podem chegar. A literatura está recheada de bons e maus livros autobiográficos e o cinema idem. Parabéns para aqueles que conseguem ainda tornar palatável para o leitor experiências trágicas de suas vidas ou o lado mais profundo de suas almas. Eu gostaria de ter esse talento e coragem.
Agora entro em um outro ponto que tem a ver com a foto que postei aqui que diz respeito a quando essa catarse é feita por meio da música. Ela parece que atinge mais direto. Fico pensando naquelas milhares de canções de amores desfeitos que nós escutamos, cantamos juntos e, sem querer, participamos de uma história de amor que não é nossa. Nós nos apoderamos e a transferimos para nossas vidas. Mas ela foi criada por alguém, dirigida para algúem, e toda vez que essa pessoa canta essa música sabe exatamente de quem está falando. Para o bem ou para o mal.
Acho que a própria essência da música é catártica. E os exemplos são inúmeros. Mas lembro de alguns que me tocaram -- devo estar esquecendo outros importantes -- como Tears in Heaven, do Eric Clapton, sobre a dor da perda de um filho. Linda e melancólica. Tem dois exemplos, do mesmo artista, que eu sempre me lembro quando se fala de processo catártico público. Alive é a música composta por Eddie Vedder que conta como ele soube, aos 13 anos de idade, que não era filho de quem ele pensava ser mas sim de outro que havia morrido pouco antes. Não se trata de uma situação inédita, mas foram poucos os que conseguiram fazer com que milhares de pessoas no mundo inteiro sofressem e cantassem isso com eles. Eddie foi um deles. Cada vez que vejo um estádio lotado cantando o refrão"I´m still alive" me arrepio. Pessoalmente vi uma vez só, mas em vídeo outras tantas.
A outra música, também dele, é Betterman, que foi composta para o então padrasto que ele odiava. A composição se refere ao sofrimento de uma mulher, no caso sua mãe, que sempre espera pelo seu homem até tarde da noite. Ele concluí que ela só estava lá porque não conseguia achar um homem melhor. Esse "homem melhor" ecoou pelos quatro cantos do mundo. A situação é trivial, milhões de mulheres passaram pelo mesmo, mas ele transformou isso em uma música belíssima que já virou um karaokê, são poucos os que não cantam juntos quando ela é tocada. E que esse padrasto que passe longe se não quiser escutar o barulho. E foi muito emocionante assistir no Morumbi o Bono cantando Sometimes You Can´t Make it On Your Own, sobre a dor da perda de seu teimoso pai. Uma coisa bem irlandesa, mas muito linda.
Mas há processos semelhantes para público menor. Mas, pelo menos para mim, muito, mas muito mais emocionantes. Eu me lembro da minha filha, segurando suas lágrimas, levantando a cabeça, e subindo ao palco para ler o discurso de homenagem aos pais na sua formatura. Com o coração partido pela saudade do pai, ela conseguiu emocionar o auditório que vibrou no final, com aplausos e abraços. Jogou sua dor para o alto e seguiu em frente. Se tivesse composto uma música, seria linda e maravilhosa, como ela.
Eu não queria que esse fosse um post triste ou dolorido. Eu só queria falar que o caminho para purificar sua alma por meio de descarga emocional nem sempre é o mais fácil, mas pode ser muito bonito se houver coragem de atravessá-lo.
Eu não queria que esse fosse um post triste ou dolorido. Eu só queria falar que o caminho para purificar sua alma por meio de descarga emocional nem sempre é o mais fácil, mas pode ser muito bonito se houver coragem de atravessá-lo.
5 comentários:
Patty, o que tem me encantado no mundo dos blogs é justamente essa interação entre leitor/assunto... Sempre nos encaixamos em algo...
Me emocionei de imaginar sua filha, pois, eu, como mãe coruja, tenho muitas lembranças dos meus filhos nesse sentido. Eles são mais fortes do que imaginamos... e é óbvio que somos nós (as vezes com dificuldade e diante das dificuldades) que os encaminhamos de tal forma!
Desde o início, ou melhor, quando comecei a ler seu blog, me identifiquei com sua forma de falar sobre sua filha... muito legal mesmo!
bjs pra vc e pra ela!!
mara
Bravo, Difusa cada vez mais clara!
Música "bate" em algumas pessoas, em outras, não, né? Simples assim e não sei, exatamente, como ocorre a catarse.
Sei que para algumas pessoas a música flui. Letra e melodia se fundem na emoção (ui,parece "frase feita", mas queria dizer exatamente isso).
Para outras pessoas, nada ocorre, é apenas uma canção... Estranho?
Música, creio, é nosso momento.
Beijos pra filhota!
Voltei só pra avisar que acabo de prestar serviço a RM e a Malu, do Dom Caixote. Ela imagina o RM sendo a cara do Paulinho, do Roupa Nova...
Beijim
Incrível a coincidência.
Estava no trabalho escutando Alive, quando procurei a letra na internet para entender melhor o que eu ouvia... e agora leio o seu post se referindo exatamente sobre isso.
Aliás, um belíssimo post.
Bjos
www.megafonealado.blogspot.com
Patty, Patty! É isso, minha amiga. Aos poucos, se não radical como a autora do livro, dá para fazer mini-catarses sim. Eu tenho feito as minhas, feito as contas de um rosário. Logo eu, tão agnóstico. E posso te afirmar: os fantasmas definham diante de tanta pressão. Um a um, vão se amontoando na vala do passado. É para isso que vivemos, afinal, eu acho: acumular emoções e depois dispensá-las, repensá-las, refazê-las. Beijo!
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