Foi um alívio geral hoje a libertação das duas reféns que estavam em poder da Farc, Clara Rojas e Consuelo Gonzáles. Acho que a saudação que Hugo Chávez fez a elas, bem-vindas de volta à vida, resume bem o que acontece com essas duas mulheres que viveram na selva colombiana desde 2001 e 2002. O encontro da mãe de Clara com sua filha me emocionou muito, fico imaginando que essa senhora deve ter sentido algo tão forte e indescritível para os que nunca imaginaram passar por situações parecidas. A história de Clara é dramática, foi sequestrada ao lado de Ingrid Betancourt, de quem era assessora em sua campanha para a presidência da Colômbia. Apesar de os guerrilheiros a terem liberado, ela preferiu acompanhar a amiga. Provavelmente não imaginava quanto tempo isso poderia significar.
Por razões de segurança, ela não vê Ingrid há três anos. Nesse tempo, Clara se envolveu com um guerrilheiro, Rigo, com quem teve um filho, Emmanuel, já em poder do governo colombiano. O seu parto, descrito no livro Últimas Notícias da Guerra, do colombiano Jorge Enrique Botero, ocorreu em meio a tempestade e bombardeios e foi ajudado por outros reféns. O filho foi afastado logo da mãe, entregue a um camponês que o encaminhou para um orfanato.
Consuelo só hoje pode rever suas filhas e conhecer sua neta. Ela ficou viúva nesse período de cativeiro. A família de Ingrid, por sua vez, continua aguardando por mais negociações que a possa tirar das mãos dos guerrilheiros, a exemplo das duas liberadas hoje. Ainda há muito mais gente no cativeiro que sonha com essa liberdade.
O interessante foi a descrição da despedida de Clara e Consuelo dos guerrilheiros, abraçadas pelas mulheres e cumprimentadas pelos homens. Toda a política que envolve essa questão não deve chegar nem aos pés do que se passa nas relações humanas nas precárias condições dos abrigos na selva onde nem mesmo o sol se arrisca a chegar.
Agora, é a vez dos ganhos políticos de cada um. Chávez, depois de tantos fracassos, conseguiu sua primeira vitória ao estar à frente das articulações para a libertação dos reféns. Uribe, o presidente colombiano, marcou seu ponto ao conseguir provar que Emmanuel não estava mais com os guerrilheiros e a libertação do menino, junto com as duas reféns, era uma falsa promessa. Promessa essa que Chávez botava a maior fé, acreditando que o menino estava mesmo em poder dos guerrilheiros. A Farc, essa é difícil saber se teve algum ganho político, mas um gesto de boa vontade sempre tende a marcar ponto, por menor que seja.
Há pouco mais de um ano, a mãe de Ingrid, Yolanda Pulecio, em uma entrevista, dizia que na Colômbia, "os governos não têm consideração com as pessoas mais necessitadas, muitos jovens aderem à guerrilha porque não têm direito à educação, saúde, porque não têm esperança. Há quem está metido nisso por causa do narcotráfico, é claro". Eita, difícil, não?
Com repercussão internacional, a liberação das reféns obrigou um contrariado porta-voz de Bush, ao parabenizar todos os envolvidos, ter de incluir nisso o presidente venezuelano. O governo espanhol, apesar das desavenças do rei com Chávez, se fez menos de rogado e mandou suas congratulações de cara.
Mas acima de tudo isso, fico pensando o esforço dessas mulheres em retomar a normalidade de suas vidas, com todas as marcas e pesadelos desses anos todos. Ou seja, de volta à vida. Brindemos com elas. E vamos esperar pelo filme.
janeiro 10, 2008
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8 comentários:
situação muito complicada essa, né patty? não me sinto capacitado a emitir opinião consistente e muito menos, qualquer juízo de valor. aliás, cada vez mais, tenho menos opinião formada sobre qualqeur coisa...
Difíci mesmo, Marcinho. Mas eu fico pensando nessas mulheres e nas outras que ficaram, longe de tudo e todos, ai. Tem de ser muito fêmea alfa para sair inteira.Essa coisa de sequestro de civis é complicada mesmo. Saudades. Bjs.
Ei Patty,
Li esse seu texto ontem mesmo e resolvi comentar agora, antes da leitura dos jornais.
A impressão que tenho é de que você é uma jornalista capaz, talentosa e experiente (apesar da provável pouca idade). O mínimo que faria alguém com esses atributos seria mostrar que os fatos tem mais de uma versão (ou lados), mesmo que tivesse firme convicção sobre o assunto.
Acho que você respeitou a cartilha, mas com um pequeno "deslize", ao não enfatizar o papel midiático, circense mesmo, que essa estória tem para o presidente da Venezuela. Mais uma jogada de marketing político que passa por cima dos sentimentos humanos, enfim, com final feliz para as duas libertadas.
Já dei uns pitacos sobre esse assunto por aí, não sei se teve oportunidade de ler, mas tenho uma visão muito pouco condescendente com as chamadas FARCs, cada vez mais me convenço de que não passam de bandoleiros da pior espécie.
Patty, eu alguns assuntos tenho me comportado como o Marcio, me incapaz pra emitir alguma opinião... Porém, o que posso dizer é que agora estou torcendo pela Ingrid. Me coloco no lugar dos familiares... Que sofrimento tudo isso, todo esse tempo.. Muito triste e angustiante!
Bjo
Mara
RM, é uma situação muito complicada mesmo. Sobre o Chávez, o que não dá para entender é pque ele não negociou também reféns venezuelanos? É, ele vai faturar em cima, mas teria faturado mais se tivesse conseguido da primeira vez.
Obrigada pelos elogios, mas, querido, se bobear eu sou até mais velha do que vc.
Mara, também estou na torcida pela Ingrid. O vídeo dela me cortou o coração. Só que temo que não seja tão fácil, quanto mais se mobiliza por ela mais ela vira uma grande moeda política para as Farcs. Vamos ver. Bjs
É complicado sim Patti mas vc foi bem equilibrada no assunto, como disse nosso amigo. Vc é tão sensata assim na sua vida pessoal?
Ou é mais impulsiva?
Bom, vamos torcer pelos outros reféns e que o filme caia na direção de alguém muito bom, tão sensato quanto vc. rs
Detalhe, pode ser chavão, mas a idade tem muito a ver com a cabeça. Acho vc muito, mas muito jovem. Talvez mais até que sua filha. Por isso me espantam as dúvidas sobre a tatuagem. Faz logo, moça. E depois coloca a foto aqui. Bjs
Tks, Pedro. Essas perguntas suas me deixam com a pulga atrás da orelha. Nem vou repetir isso mais aqui, estou ficando repetitiva. Mas que eu acho que vc me conhece, eu acho. E se conhece, sabe que eu sou a rainha da impulsividade, só faço rolo, porisso sou completamente devota da Nossa Senhora Desatadora dos Nós.
Já decidi pela tatoo, mas não sei quando vou fazer. Dependendo, até tiro foto. Bjs
Patty, fiquei feliz com sua visita em meu blog. Também vou te linkar.
Assisti a esta história comovida, pois ficar sem liberdade e longe da família por tanto tempo é um desafio à fé. De fato, estas mulheres são vitoriosas.
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