dezembro 29, 2010

O infalável

Eu conheci um israelense que morou tempo suficiente no Brasil para se casar com uma brasileira e ter um filho. Mas, por conta do trabalho, se mudou para Dallas, onde vive até hoje. Por conta disso, seu filho convive com o inglês de seus amiguinhos, mas também com o hebraico e com o português que seus pais fazem questão de falar em casa. Para agravar, sua babá é mexicana e não deixa de lhe ensinar algumas palavras em espanhol.

A dúvida do pai era qual língua o garoto consideraria a sua. Para responder a isso, ele foi aconselhado a esperar que o menino começasse a fazer contas. "Ninguém consegue fazer contas senão na sua própria língua", lhe disse um amigo.

Estou contando essa história porque ao criar um blog, eu achei que falaria de tudo que tivesse vontade, sem tabus. No entanto, me dei conta de que isso não é verdade, há alguns assuntos que não consigo sequer tocar. Ou um único. E, de repente, descubro que isso acontece porque talvez, nesse caso, eu sinta em outra língua que não a minha, quem sabe polonês, grego, ou até javanês. Qualquer uma que eu não tenha vocabulário suficiente, ou nenhum, para me expressar.

Talvez porque tenha achado que tivesse colocado todas as minhas forças na tecla del. Mas, de uma forma ou de outra, tenha descoberto que não apaguei nada. Sim, memória afetiva tem poder e distribui bordoadas. Assim como elas nos presenteia com a redescoberta, a intimidade, o prazer, a paixão, o para sempre, ela traz gravada a desconfiança, o descontrole, a incompetência e a impossibilidade.

Talvez porque eu,inocentemente, tenha achado que pudesse continuar sonhando sob a luz difusa do abajur. Mas, no fundo, sabia que a hora que os holofotes fossem ligados, e mostrassem a histórica repetição de erros, não haveria muito mais o que fazer a não ser correr. Run, Lola, run...

Og allt vegna þess að þú hafir ekki trúa á þig, en ekki trúa mér. Ég get bara sjá eftir því og aftur að reyna að gleyma.

É ou não é difícil sentir em outra língua?

I won´t back down

Um clássico de Tom Petty and The Heartbreakers, com participação de George Harrison e Ringo Starr.

3 comentários:

Anônimo disse...

Você é ph...., Patty.

Demora para aparecer, mas quando aparece posta uns textos do caramba. Eu nem tinha pensado nisso, achava que falar em depressão e pontes de safena fosse o máximo do mergulho.
Qual nada, estou é repleto de emoções engargaladas, feridas mal tamponadas, segredos e auto-enganos.
Estou pensando em aprender o japonês, comprar um notebook com teclado japonês. Quem sabe? Quem?

Bj

Patty Diphusa disse...

E aí, Chorik, comprou o notebook?

bjs

Anônimo disse...

Tá mais fácil eu desaprender o português do que aprender o japonês. Minha filha caçula está dando uma de autodidata, me pediu uns livros e fica falando japonês sozinha pela casa. Eu só respondendo... nihongô wakarimasen...