junho 15, 2011

Nada

Esvaziei.

Não gosto de luz besta

Que não me devolve a intensidade dos azuis e vermelhos

Quero o mel nos olhos e o melado na boca

E as estradas longas impercorríveis

Quero minhas gargalhadas de volta

As borboletas no estômago

E até a metralhadora

Quero os 12, os 30 e muito mais

E a escada de 1000 degraus que levava ao paradaise

Que eu podia até subir de bicicleta

Sem precisar respirar e nem perceber o que caía no caminho

Como se fosse não fosse um diamante falso

Tem cura, doutor de chapéu de pirata?

Só trocando os fornecedores. De oxigênio.

E até os devaneios voltarem a ferver

Vaca amarela.

maio 10, 2011

Recital das meninas

Um pouco de lindas, loucas e talentosas mulheres. Bom para os olhos dos meninos que passam por aqui e para o ouvido de nosotros.

Grande Adele, conseguiu emplacar dois singles no top 5 ao mesmo tempo. Bom, não?


Céu. Canta bem, tem uma banda muito boa e é um super astral. Assisti um show dela e adorei. Assim, vagarosa na malemolência.


Janelle Monáe, brilhou na abertura do show de Amy Winehouse em São Paulo. Talentosa, também garante uma performance incrível.


Duffy, vale pela música. Smoke without a fire poderia muito bem ter como pano de fundo o Deserto de Mojave de Bagdad Café, não? Mas está na trilha do belíssimo filme Educação.


Zooey Deschanel é uma carinha linda, não? Conhece? De 500 dias com ela, talvez? Atriz, faz parte do dueto She & Him. Lembram dessa música?


Karen Elson, a eleita de Jack White, um dos melhores músicos da nova geração, que foi do White Stripes, Racounters e Dead Wheather, além de inúmeras colaborações. Karen era modelo. Ela gravou com Cat Power uma nova versão de Je t´aime moi non plus.


Marketa Irglova. If you want me é parte da trilha do filme Once, que ela fez ao lado de Glen Hansard, ex-The Frames. Ele que tenta (com razão) levar o microfone mais para perto dela.



Óbvio, não pode faltar Cat Power. E ela já deu tanto show por aqui e, até agora, não consegui ver nenhum. Snif...



E já que falei de Bagdah Cafe, que tal a música original do filme? Calling you, com Jevetta Steele. Não consegui nenhum vídeo com ela cantando, apenas com cenas do filme. Mas vale pela voz e pelo som.


abril 10, 2011

abril 05, 2011

Irish coffee

Nunca pretendi que esse blog se convertesse em um diário. Mas percebo que o estou transformando em um caderno de viagens, o que o torna pouco atrativo para qualquer leitura, já que nem dicas ele traz. Sorry, mas hoje não vai ser diferente.

A Irlanda tem estado presente de várias formas nos últimos dias, um programa de viagens gastronômicas, noticiário sobre o aperto financeiro, filmes românticos, conversas aleatórias e a chegada da minha banda irlandesa preferida. Porisso resolvi escrever sobre a viagem que fiz aquele país em 2006 e que rotulo de, no mínimo, curiosa. Afinal, em que lugar eu desejei tanto ir e em menos de 24 horas pensava em pegar um táxi correndo para o aeroporto?

Cometi vários erros para chegar lá. Um deles foi ficar uma semana em Berlim antes de seguir para Dublin. Eu não imaginava que a comparação seria tão dura. Pode-se dizer que me esbaldei em Berlim. Percorri parques lindos naquele verão quente, com pessoas bonitas passeando ou tomando sol, fui a exposições, concertos ao ar livre, encontrei boa comida, boa cerveja, bons vinhos, muitas atividades culturais, e conheci pessoas interessantes, educadas, amáveis e cultas. De lá segui para uma cinzenta, chuvosa e caríssima Dublin.

Meu segundo erro foi reler nessa viagem Os Dublinenses, de James Joyce, um autor que adoro. Quem já leu os 15 contos dele sabe a forma brilhante, mas dura, que ele retrata o povo irlandês, sofrido, sem dúvida, mas de um catolicismo quase doentio, muitas vezes mesquinho, raso, e com uma falta de perspectiva asfixiante. Como os livros sempre me influenciam nas viagens, receei que esse espírito irish ainda estivesse presente, apesar de toda a modernidade que se atribuía a Dublin, do enriquecimento do país e dos bons frutos que dali vieram, Joyce inclusive, como tantos outros bons escritores, atores e músicos.

Logo de cara, enfrentei um emburrado irlandês na imigração que queria saber o que eu ia fazer lá. Turismo, talvez? Não, os brasileiros não fazem turismo na Irlanda. Não? Então o que ele achava que eu ia fazer? Trabalhar como senhora de programa? Ele só me deu o carimbo de entrada depois de ver minha passagem para Amsterdã, minha próxima parada.

Gelei ao pegar o táxi no aeroporto. Na minha última noite em Berlim havia sonhado que dirigia um carro debaixo de chuva e ao fazer uma curva nenhum controle me obedecia. Acho que, na verdade, era meu inconsciente me lembrando de que a direção naquele país é no lado contrário. E me adaptar a isso seria fundamental para fazer a viagem de Dublin a Cork, como havia programado com amigos que chegariam no dia seguinte de Londres. Socorro!

Meu terceiro erro foi a hospedagem. No verão, a Trinity College, uma das universidades mais antigas da Europa, aluga o alojamento dos estudantes. Era a opção mais barata e o campus fica no centro da cidade. Boa ideia, não? Péssima. Percorrer aquela área enorme à noite, cheia de árvores e iluminação fraca poderia se tornar um pesadelo. A alternativa era contornar o campus do lado de fora, pela calçada, um longo caminho onde a iluminação era igualmente fraca e você corria todos os riscos que o Frommers quase implora para evitar naquela cidade.

Resolvi sair naquele final de tarde de domingo. Depois de várias caras fechadas, povo que esbarra em você e não pede desculpas, joga caixa do McDonalds na ponte cartão postal, cheguei ao Temple Bar, enfim um bairro para chamar de meu. Mas o preço quase proibitivo de uma Guiness naqueles pubs não deixa ninguém chegar ao nirvana para achar tudo lindo e festivo. Nem esquecer a floresta da Bruxa de Blair da volta.

No dia seguinte, depois da "boa notícia" de que meus amigos perderam o voo, saí para mais uma volta pela cidade. Durante o dia, as coisas ficaram melhores. Há um belo parque bem no centro, uma área toda modernizada, com boas galerias e restaurantes e pessoas mais educadas. Resolvi respirar, de alguma forma, U2. Almocei no Nude, que pertencia ao irmão de Bono, e tomei café no Clarence Hotel, pertencente ao Bono e The Edge. Um luxo, inclusive no preço.

Mas nas poucas conversas daquele dia, muita prevenção aos estrangeiros que sempre querem tirar alguma coisa deles. Principalmente os do leste europeu, que eram recrutados pelo governo para fazerem o trabalho pesado, e sujo, que os novo ricos irlandeses não queriam mais fazer. A exceção, claro, ficava com o adorado "povo da América". Ali tive certeza de que estava cruzando as pessoas erradas.

No terceiro dia tudo melhorou com a chegada dos meus amigos. Apesar da insistente chuva, percorremos vários pontos turísticos mantendo o bom humor e comprando comida e bebida nos supermercados para economizarmos. E, claro, casacos com capuz.

A nossa saída motorizada de Dublin foi catastrófica. Em cada cruzamento muitos gritos e histeria dentro do carro e palavrões intraduzíveis lá fora. Pegar a estrada trouxe um certo alívio, apesar dos momentos de tensão quando qualquer carro se aproximava. Não é nada fácil passar a marcha com a mão esquerda, imagine então entrar do lado certo da rua e estacionar. De suar em bicas.

Viajar pela Irlanda foi uma experiência incrível, paisagens diversas no caminho, mar, rios, lagos, castelos, ruínas celtas, cabras no meio da estrada, cidades pequenas e de ruas estreitíssimas mas sempre com mão dupla. Tudo como imaginava nos livros e filmes.

Em Kilkenny nós acreditamos piamente que encontramos a irmã do leprechaun, o duende que cuida dos tesouros irlandeses. Acho que era ela mesma, disfarçada de dona de pousada. Cobh é uma cidade lindíssima, mas seu turismo está todo voltado para o fato de ter sido o último porto onde o Titanic parou. Ou seja, antes de afundar. Eu prefereria dizer que foi ali que Leornado Di Caprio subiu a bordo. Em Cork, uma bela surpresa. Ali estava muito da Dublin que eu havia projetado, uma cidade colorida, música nas ruas, povo alegre e hospitaleiro.

Ao voltar para Dublin (de ônibus, já que nem morta levaria o carro sozinha depois de meus amigos terem retornado a Londres), decidi que era hora de mudar de escola. E fui para a Dublin City University, não tão central quanto a Trinity, mas com muito mais vida e menos perigo. A diferença era gritante já no mercado próximo onde fui comprar coisas para fazer um lanche. Na área de convivência, no prédio central, um batalhão de jovens entusiasmados, brincalhões, divertidos. Alguns estavam super excitados porque em dois dias veriam o Pearl Jam na Arena O2. E queriam saber como foi o show deles que eu havia visto no ano anterior, no Pacaembu. Essa foi minha última e agradável noite em Dublin.

É bem provável que todos os sentimentos contraditórios que Dublin me causou estivessem em mim. Como encontrar alguém que mexe com você mas que, no final, a chance de conhecer melhor é desperdiçada. Quem sabe eu deva voltar, esquecendo Joyce, esquecendo o espírito irlandês, e encontrando a minha turma logo de cara. Quem sabe...

março 16, 2011

A criadora e a criatura


Esse é um post mulherzinha, o que não quer dizer que os homens não possam ler. Conversando com uma amiga, ela me disse tudo que gostaria de ter das mulheres famosas. Adivinhem? O cabelo da Gisele, a boca da Angelina, o corpo da Naomi, e por aí afora. Eu fiquei pensando no que resultaria isso tudo. Então, resolvi montar o meu - e a minha - próprio Frankstein a partir de projeções que faço no mundo das celebridades.
Eu seria mais ou menos assim: teria a alegria juvenil da Kate Winslet e o jeito confiável da Meg Ryan. O olhar misterioso viria da Jacqueline Bisset, o charme da Penélope Cruz e a elegância da Audrey Hepburn. Teria o jeito calmo de falar da Catherine Deneuve mas em alguns momentos poderia sussurrar como a Renée Zellweger.
Meu poder de sedução sobre os homens poderia oscilar entre a encantadora Aishwarya Rai e a avassaladora Rita Hayworth em seu melhor momento Gilda . Mas saberia a hora de ser tão delicada como Camila Pitanga. Seria tão versátil e talentosa quanto a Meryl Streep, espirituosa e perspicaz como Isabell Allende, teria o autoconhecimento e a ética da Susan Sarandon e a liberdade para fazer o que bem entendesse conquistada pela Ellen de Generes. Mas, acima de tudo, envelheceria com a dignidade e a beleza da Vanessa Redgrave.
Ficou estranho? Mas pode ser pior. Também montei o Frankstein do companheiro ideal. E, acreditem, ele é ainda mais bipolar do que a minha própria criatura. Ele transpiraria a virilidade do Daniel Craig mas também teria o indisfarçável jeito doce do Antonio Banderas. Seria um eterno rebelde, como Johnny Depp, debochado como Keith Richards e com o humor britânico do Hugh Grant. De Martin Donovan teria o ar blasé de quem fala pouco e observa muito. Mas que sabe se colocar na hora certa e de forma adequada, com uma leve pitada de boa ironia. E dele também teria o sorriso contido no canto dos lábios quando eu fizesse alguma bobagem. Mas seria delicado o suficiente para não dizer nada, como Jude Law.
Ele me abraçaria com os braços fortes do Larry Mullen Jr e me diria palavras de amor com a voz do Eddie Vedder, de quem também herdaria a necessidade rasgada de estar sempre apaixonado e a fidelidade. A cumplicidade e o senso de compromisso viriam do Antônio Fagundes e ele me protegeria como o Hugh Jackman.
Seria tão criativo como o Almodóvar e com a alta capacidade de rir de si mesmo do Gerard Butler. A perspicácia e a inteligência ganharia do Contardo Calligaris e discutiria o relacionamento como o Gabriel Byrne. E algumas noites me amaria como Paul Newman, no auge de sua juventude. Em outras loucamente como Javier Bardem.
Eu avisei, podia piorar. Se achou estranho demais, monte você mesmo as suas criaturas. Freud explica.
E aí, Pedro, queria mesmo os posts de volta?

fevereiro 04, 2011

A forma e o conteúdo

Os amigos a alertaram sobre o encanto que ela sentia por um conteúdo. Isso fazia com que o nível de exigência para as formas a seu lado aumentasse. Mulher madura, ela aos poucos foi tomando consciência disso. E torceu para que se um dia conhecesse a forma proibida daquele conteúdo tão próximo não se abalasse. Em vão. Em meio a concreto, fumaça e cristais, viu que forma e conteúdo se casavam perfeitamente. Então se deu conta de que ela, garota, corria mais riscos do que imaginava.

A forma voou para longe e ela voltou a se encontrar com o conteúdo. Menina, não conseguia decifrar direito o que havia mudado. Se perdeu nas palavras, tropeçou em pensamentos. Foi quando o conteúdo lhe pediu que se desnudasse.

Jovem, confusa, ela não sabia se poderia fazer isso. Decidiu procurar a mulher madura e experiente para ver se ela tinha a chave. A encontrou sentada em um jardim suspenso, na noite fria, fumando um cigarro e olhando a cidade lá embaixo. Chegou mais perto e notou que ela cantava baixinho.

"Tried to point my finger but the wind keeps blowin' me around, in circles, in circles
Lucky stars in your eyes...I'm walking the cow..

I really don't know what I have to fear, I really don't know why I have to care
I'm walking the cow ...Lucky stars in your eyes...'

Ela reuniu todas as suas mulheres para ganhar força. Mas, então, percebeu que havia perdido a voz. Tomou o último gole de vinho em sua taça de cristal, apagou o cigarro, e foi dormir.

Sonhou que não faria diferença e que o conteúdo já a tinha entendido. Sentiu a forma do seu abraço.

Walking the cow

Esse texto é antiiiigo. Lembrei dele quando tive vontade de ouvir essa música. A gravação não é das melhores, tem muita gritaria. Mas foi a melhor que achei. Eddie Vedder em um cover de Daniel Johnston.

janeiro 09, 2011

Pedrinho

Tulipa Ruiz, considerada a dona de um dos melhores CDs de 2010.