julho 31, 2008

Acontecer

Patrick Moberg tinha apenas 21 anos quando viu uma garota no mesmo trem que ele e achou que tinha encontrado a mulher da sua vida. Foi apenas um olhar e ele teve certeza. Ainda tentou falar com ela mas a multidão do metrô de Nova York a levou para bem longe. Ele a perdeu em questão de minutos, o mesmo tempo que acreditou que tudo poderia dar certo.
O web design não teve dúvidas. Desenhou a mulher dos seus sonhos e montou um site na Internet, nygirlofmydreams , e, com a ajuda providencial de uma amiga dela que a reconheceu naqueles traços, a encontrou. Tudo isso em uma cidade com 8 milhões de habitantes. Não foi necessário muito tempo e ele recebeu a chamada que esperava. A australiana Camille Hayton se apresentou a Patrick.
Porque estou falando disso? Sonhos? Amor à primeira vista? Romance? Não, eu estou falando disso por atitudes. Eu não tenho a menor idéia se com palavras ele a teria por perto, mas sei que nesse caso valeu muito mais a determinação. E um pouco de sorte, ou iluminação, para definir melhor.
Minha vida está ligada a escrever e, cada vez mais, eu escrevo. E se antes era uma questão mais ligada ao meu trabalho com o tempo se tornou uma compulsão. Paradoxalmente, cada vez quero falar menos. Ou precisar falar menos. Esse talvez seja o motivo pelo qual tenho valorizado muito o fazer acontecer sem ter de dizer, de explicar, de se apresentar. E talvez seja o motivo pelo qual amei a história de Patrick.
Bom, hoje o mistério do desenrolar dessa história se desfaz e ficamos sabendo que o que poderia ter se tornado um símbolo do romance moderno não sobreviveu. Em entrevista ao jornal australiano Sunday Telegraph a jovem Camille, agora com 23 anos, disse que ela e Patrick saíram por um tempo mas que atualmente são apenas bons amigos. Tudo não passou de um sonho e ela parece decidida a deixar essa história no passado.
Não me importa muito o que aconteceu depois. Eu continuo achando que o mais importante, a decisão de agir, valeu por mil e uma histórias que se prolongaram muitas vezes baseadas em rituais convencionais e sufocantes. Também não me interessa se foram palavras que afastaram esses dois, tudo começou com a silenciosa necessidade de movimento para realizar um sonho. E isso não tem preço.

Amor reine sobre mim

Que tal Love Reign O´er Me com The Who?

julho 30, 2008

Cores de um hotel

Isso não tem a ver com nada. Foi só a atenção se deslocando. Hoje, ela está no Rio. Com toda força, amiga.



























Por conta disso, Roadhouse Blues, do álbum Morrison Hotel do The Doors.

julho 28, 2008

Vôo 1242

"Você abre espaço e eu te dou retaguarda". Me virei e vi os olhos azuis do charmoso cara de cabelos grisalhos que estava atrás de mim. "Se precisar dou até porrada", brincou o desconhecido. "Se der certo, você diz que estamos juntos". Era um momento de definição e eu não tinha muito tempo a perder. Resolvi fechar o pacto com ele. Todos queriam deixar o país e as alternativas não eram das melhores.
A manhã mal tinha começado e meu domingo acumulava emoções fortes. Não tinha dormido nem duas horas. Quando Diego chegou na hora combinada, 7h20, eu ainda fechava a mala. No caminho para o aeroporto ele se distraiu e ultrapassou um farol vermelho olhando para a esquerda – procurava uma saída para a estrada – enquanto os carros vinham da direita. Foi o tempo de eu ver um micro ônibus vindo a toda a velocidade e grudar no braço dele que, mesmo sem saber o que se passava, freou imediatamente. Ainda bem porque meu grito só veio em seguida. Ficamos parados no meio do cruzamento e quase sentimos o vento do ônibus, disparado, poucos metros na nossa frente. O lindo Diego se descontrolou e agradeceu muito por eu ter salvo a vida dele. A nossa, baby.
Ao chegarmos, e depois de despedidas emocionadas, me dei conta do caos reinante no pior espaço que o aeroporto Ezeza poderia ter naquele dia: o guichê da Aerolíneas Argentinas. E eu não podia nem dizer nada, afinal a escolha por voltar no domingo, nesse horário, tinha sido minha. Perguntei sobre meu vôo, das 10 horas, e me disseram que o check in ainda não estava aberto. Fui comer algo antes que desmaiasse de fome. Enquanto tomava um cortado e comia um croissant super amanhecido comecei a entender melhor onde tinha me metido.
Uma senhora passou por mim em uma cadeira de rodas, aos prantos, com uma moça a empurrando de um lado para o outro do saguão. Uma brasileira atravessou os guichês e foi a uma parte fechada chamando os funcionários para trabalharem. Ela estava tentando voltar para o Brasil desde o sábado. Uma outra brasileira disse que ela e a família tinham sido mandados no sábado à noite para um hotel em um distrito de Buenos Aires. E ainda não estavam garantidos no vôo seguinte. Os argentinos no aeroporto se sentiam constrangidos com a situação que havia chegado a companhia aérea que levava mundo afora, no nome, a nacionalidade deles. "Uma vergonha", lamentava uma senhora no café.
Funcionários da AA, ao berros, chamavam passageiros de um vôo para o Chile que deveria ter saído às seis da manhã. Vários vôos, inclusive para o Brasil, apareciam como cancelados nos luminosos. Montevidéu? Nem pensar, greve dos controladores de vôo no Uruguai, diziam. A grossura e a falta de informação reinavam e os ânimos começavam a ficar alterados de todos os lados. "Acho melhor ligar meu iPod", pensei.
Em seguida, descubro onde estava a longa fila do meu vôo e sigo para lá. Antes, para me prevenir, liguei para minha filha pedindo que entrasse no meu email e pegasse todos os dados possíveis da minha reserva. Eu achei que era melhor não contar com o que funciona em tempos normais, ou seja você entrega seu documento e sua reserva é localizada. Não, estávamos em tempos de guerra.
A fila, ou cola como chamam os argentinos, não andava. Uma das meninas que estava atrás de mim viu ser aberto um segundo guichê ao lado de onde estava sendo feito o nosso check in. Foi lá ver o que acontecia e chamou a amiga que tinha ficado na fila master blaster mega hiper, ou seja, a minha e de centenas de pessoas. A colega me deu o toque: aquele também está fazendo check in para esse vôo. Não pensei duas vezes eu fui para lá.
Um pouco antes da minha vez o nada simpático cara desse segundo guichê vai embora. Eu o chamo e ele diz que tinha atendido apenas alguns casos e havia sido deslocado para outro lugar. Como assim? Olho para a mega blaster, impossível voltar para lá. Olho para o lado, família desesperada embarcando dezenas de malas. O cara atrás de mim percebe minha hesitação e resolve se pronunciar. Foi aí que resolvi atender à voz de comando dele e me infiltrar naquela confusão.Comecei a ajudar no embarque daquela família como se fizesse parte daquilo.
Despachadas as malas do casal e dois filhos entrego correndo meus documentos para a funcionária da AA e aviso que estou com ele, o companheiro desconhecido. Ele chega e entrega sua documentação. A menina me dá o bilhete e, vejam só, no meu próprio vôo. Naquela altura do campeonato isso era o mesmo que um bilhete premiado.
Vou para a próxima fila, a do pagamento da taxa para sair do país. E depois para a terceira, a do controle alfandegário. Neil Young cantava cada vez mais alto, Lou Reed já tinha feito todos os esforços, Thom Yorke vinha de vez em quando para me acalmar, Cat Power estava quase me fazendo chorar, Bono já não tinha muito mais o que dizer, restava para o Eddie Vedder segurar o tempo final. Boralá, equipe.
Enquanto estava na fila da PF argentina meu companheiro desconhecido passa por mim. "Você tem mesmo sorte, foi a última do vôo. Eu não consegui e só vou mais tarde". Sério? Ele continua. "Mas em compensação sua mala não estava sendo colocada na esteira. Pedi duas vezes para que a colocassem lá, mas não me atenderam". Sério? Ainda sobrou humor para esse cara, pensei. Resolveu brincar de me aterrorizar.
Duas horas e meia de atraso, chegamos à nossa aeronave. Me deu medo. "Meu Deus, as que fazem Recife-Noronha parecem melhores". Mas não escapei do que poderia ter sido um acidente muito feio e não fui a última a ser colocada nesse vôo para que o avião caísse, não é? Afastei pensamentos negativos.
Dentro do avião o clima era péssimo. As pessoas nervosas procuravam espaço nos pequenos bagageiros para os pacotes e gordas bagagens de mãos –férias na Argentina, com preços "De me dos", lembram ?– e a tripulação tentava ajudar no possível. Entra um casal já na repescagem. Eles tinham o bilhete emitido nas mãos mas a porta do avião foi fechada na cara deles sob o argumento de que o vôo estava lotado. Recontagem feita viram que havia lugares e os chamam para entrar mas deixam outros em igual situação, atônitos, na porta de embarque. A mulher que entrou nessa segunda chamada viu outro lugar livre e teve um ataque histérico:"vocês deixaram aquelas pessoas na porta e quase nos deixaram plantados também com lugar no avião?". Discussão inútil que as aeromoças, sem respostas, procuraram ignorar.
O casal da família que, involuntariamente, foi responsável para que eu estivesse ali tem um ataque de riso. Achei que estavam felizes de embarcar. Não, era o stress transbordando. Um dos assentos que eles tinham, o 3 F, se não me engano, não existia naquela aeronave. Ainda bem que havia um lugar sobrando senão o marido iria junto com o piloto, brinca um passageiro. "Imagina, não quero nem ver a cara do piloto senão volto a pé", ele responde, com o riso nervoso.
O meu cansaço não me deixou pensar muito e dormi quase que a viagem inteira. Afinal, Buenos Aires é uma cidade onde se gasta muita energia. Ainda sonolenta, descubro em Cumbica que meu companheiro desconhecido falava a verdade. A minha mala não veio.
Hoje ela foi entregue em casa, sã e salva. Dei muita risada quando ela chegou inteirinha. Na verdade, o suporte para carregá-la tinha quebrado e ela havia se transformado, literalmente, em uma mala sem alça. Com as minhas encomendas do free shop seria um sacrifício tê-la comigo. Que bom, a Aerolíneas se encarregou de carregá-la por mim até em casa. Menos mal. Que dia......


Detalhe -- a mulher que invadia os escritórios da AA para chamar os funcionários teve sua foto publicada hoje na matéria do Estadão que falava do caos. Aliás, muitos do vôo 1242 deram entrevistas. Não vi nada porque ainda estava lá dentro procurando a minha mala.

Linda
Pena que houve esse desfecho para mais uma visita à cidade que eu adoro. Buenos Aires continua linda e, ao contrário de muitos brasileiros que a visitam, e até gostam dela, eu também gosto dos portenhos. E cada vez descubro pessoas mais incríveis. Rosa, uma arquiteta argentina, foi um desses presentes que me chegou através de uma amiga comum. Uma pessoa completamente do bem, culta, com uma história interessante de vida e que adora o Brasil a ponto de ter intensivas aulas de português. Super gentil, me cedeu o apartamento que possui no Palermo para que eu ficasse no sábado com minha amiga, depois de nossa estadia no hotel onde estávamos a trabalho ter terminado. Um lugar gostoso, acolhedor, que tem a sua cara e o seu jeito. Viva a doce Rosa e a gracinha da Elo que fez a conexão.
A viagem teve tudo de bom em doses exatas. Degustação de vinho na Winery, pub com boliche (lugar para dançar na capital portenha), jantares deliciosos como o do Uriarte que sempre é bom, Kika, outro boliche cujo som nunca falha, passeios pelo Palermo, um longo café no Malasartes lendo e escutando boa música, o reencontro com algumas pessoas queridas e conhecer outras, a companhia de minha amiga sempre divertida principalmente nas incursões pela night portenha. Buenos Aires continua valendo a visita, independente da Aerolíneas Argentinas.

Parabéns
Hoje é aniversário do Redneck e da Andarilha, dois geminianos (Red já me corrigiu, leoninos, claro. Mas em função do lindo comentário dele, mantenho também os geminianos) que moram no meu coração. Parabéns, amores.
Para eles, coloco a linda Heima do Sigur Rós. Beijos mil.

julho 23, 2008

Na minha árvore



Recebi esse vídeo do Steve que está em Pequim onde verá tudo acontecer. É a minha árvore. Vou até ali ver como estão nossos hermanos portenhos e a deixo com vocês até voltar. Subam, curtam e balancem.

up here in my tree, yeah
newspapers matter not to me, yeah
no more crowbars to my head, yeah
i'm trading stories with the leaves instead, yeah
wave to all my friends, yeah
they don't seem to notice me, no
all their eyes trained on the street, yo, oh
sidewalk cigarettes and scenes, (tem-pted)
up here so high i start to shake
up here so high the sky i scrape
i'm so high i hold just one breath here within my chest
just like innocence
(oh, the blue sky it's his home)
(oh, the blue sky it's his home)
i remember when, yeah
i swore i knew everything, oh yeah
let's say knowledge is a tree, yeah
it's growing up just like me, yeah
i'm so light the wind he shakes
i'm so high the sky i scrape
i'm so light i hold just one breath and go back to my nest
sleep with innocence...
up here so high the boughs they break
up here so high the sky i scrape
had my eyes peeled both wide open, and i got a glimpse
of my innocence... got back my inner sense...
baby got it, still got it

julho 21, 2008

Não, meu amor, nããããããão.....

Sábado em um longo almoço com alguns amigos -- esses são sempre os melhores encontros, não? -- um deles disse uma frase sobre a Elis Regina que pressupunha uma longa amizade entre os dois. Eu sei do amor que ele sempre teve por ela e como, de alguma maneira, isso o manteve ligado à cantora. Mas é engraçado observar como nos sentimos próximos de alguns artistas, e sob a influência do que imaginamos deles, durante a nossa vida. Uma amiga uma vez me disse que ela já se sentia quase parente do Leonardo Di Caprio de tão íntima da Gisele que tinha ficado todos estes anos.
Me lembrei disso quando vi o Martin Donovan na série bobinha Ghost Whisperer onde ele fazia o papel do pai da péssima Jennifer Love Hewitt, que "see dead people". Eu levei um susto, fiquei sem ar e tive vontade de ligar na hora e pedir para ele trocar de empresário. Não, meu amor, nunca mais aceite papéis como esse. Está certo que não será a primeira vez que ele pega alguns personagens que estão à deriva, mas nunca colocou tanto o pé na lama. Apesar de bom ator, e já ter recebido alguns merecidos prêmios, nunca esteve no primeiro time de Hollywood, mas eu não deixo de gostar menos dele por conta disso. E esse relacionamento já dura anos.
Na verdade, não são apenas seus lindos olhos azuis ou sua boca tão bem delineada que me fascinam. Isso tem muito menos a ver com o físico mas muito mais com o seu charme, o olhar, o mistério que exige paciência para ser decifrado além da capacidade de surpreender. E quando quer dar um recado, sem falar nada, você pode estar a metros de distância mas vai entender. Ele é o tipo do cara que pode fixar seus olhos no seu por vários minutos enquanto você desfila uma série de argumentos idiotas para no final te dizer, calmamente: "Meu bem, eu sei que você é traficante".
Eu tive muitas discussões com o Redneck quando me recusei a acreditar que Donovan, realmente, tinha sido morto em Weeds. Para começar que ele e Mary-Louise Parker, a charmosésima protagonista da série -uma das melhores dos últimos tempos -, têm uma química incrível que já tinha aparecido em alguns filmes, como Pipe Dream. Depois porque tem dois momentos que, para mim, foram provas de amor incondicional, coisa rara hoje em dia quando tudo depende de como você se comporta e que tipo de jogo está disposta a fazer.
No papel de um policial do departamento anti-drogas, Donovan se apaixona por Nancy, a viúva que para sobreviver em Agrestic, um fictício subúrbio da grande Los Angeles, se torna uma dealer de uma rede de traficantes quase que doméstica. Para que eles possam ficar juntos ele, inesperadamente, a leva a Las Vegas para se casarem e, dessa forma, lhe dar a garantia jurídica de que nunca poderá depor contra ela. Na prova número dois, ele liga pedindo que ela colocasse em determinado canal na televisão. O noticiário mostra a polícia em ação em um bairro e ele, ao fundo, no celular. Logo em seguida ele dá uma entrevista, como chefe da operação, dizendo que desbaratinou uma rede de traficantes naquela região e que, agora, a vizinhança estava livre. De volta ao telefone, ele lhe diz: "não sabia o que te dar de presente de casamento, então resolvi te dar um bairro". Assim, sem questionar, sem julgar...
Esse estilo donoviniano, aliás, foi o responsável para que eu me apaixonasse loucamente em menos de 12 horas e continuasse assim pelos seguintes 12 anos. Não era uma semelhança física, mas o mesmo charme de quem sabia fazer a coisa certa na hora adequada. Por essas e outras que dou graças a Deus de terem sido só quatro episódios em Ghost Whisperer -- um deles já como fantasma, mas viramos todos fantasmas, não? -- e esse martírio ter acabado.

Me respire
Meu amigo Afonso me falou um dia desses da cantora australiana Sia que não tinha me dado conta de que era a Sia Furle uma das vocalistas que passou pelo Zero 7. Ela lançou três discos solos e um de covers onde gravou Paranoid Android, do Radiohead, que é belíssima. Breathe me, que estou colocando aqui, é do álbum Colour the small one, de 2003. Mas tem sido tocada e retocada nos últimos anos e fez parte da trilha de Six feet under.

"Be my friend
Hold me, wrap me up
Unfold me
I am small and needy
Warm me up
And breathe me"

julho 19, 2008

Olhos nos olhos

Finalmente o Marcinho Gaspar me mandou a versão para o inglês que a Eugénia Melo e Castro e ele fizeram para Olhos nos Olhos do Chico Buarque. Eu quero mandá-la para um amigo inglês que está morando em Pequim. Mas, melhor ainda, ele me mandou a gravação da Eugénia. Eu já tinha ouvido em um pocket show um dia desses e adorei o presente. Divido com vocês. Curtam.
boomp3.com

julho 16, 2008

Um dia positivo, um dia negativo...

Rotular é conosco mesmo. E de tempos em tempos algum rótulo entra na moda. Bipolar ainda está em alta, se bem que já começa a virar a curva. E o pior é que impregna e quando você menos espera está pensando: huuuum, esse cara deve ser bipolar. Hoje eu tive certeza que a menina que me atendeu no caixa da Fnac era. Tudo isso porque ela passou do ódio mortal com que falou com a colega do lado para um sorriso meigo quando me atendeu e uma jogada de charme para o caixa do lado. Eu fiquei impressionada em como em questão de segundos ela alterou o humor e a expressão facial. Até que me dei conta, ela é dissimulada mesmo, isso tem nome e não é doença.
Ao comentar com uma amiga do comportamento de uma colega nossa que nunca conseguimos entender direito, ela me disse a frase fatídica: ela deve ser bipolar. Não, ela só não sabe administrar seus problemas pessoais e transfere para o mundo à sua volta. Despreparada, mas não bipolar.
O pior é quando as pessoas jogam isso no meio da conversa, "bom, como sou meio bipolar". Como se já antecipassem um pedido de desculpas por qualquer comportamento estranho que possam ter. Elas te entregam um vale-bipolar. Dá vontade de falar, amor,você não tem vontade de se jogar do prédio em um dia e no outro gastar fortunas em um bar para comemorar não se sabe bem o que. Você não toma medicação que é o que bipolares diagnosticados precisam.
Tem, claro, aqueles que você percebe que realmente estão falando a verdade quando dizem isso, sei lá, está no olhar da hora, do momento. Um brilho meio estranho que você nota de vez em quando e, instintivamente, sabe que é melhor se afastar por um tempo. Eles apitam.
Mas bipolar não dá em árvore, não é epidemia, nem contagioso e não explica a falta de educação e de atenção. Eu estou ficando paranóica com isso e já olho para as pessoas na rua e fico imaginando um monte de pilhas Duracell andando ora no positivo, ora no negativo. O que aconteceu com a velha e boa síndrome do pânico? Ninguém mais tem? Não é mais fashion?

Em alta
Os ciumentos que me perdoem, mas é só uma observação. Eu saí do Detran na sexta-feira e peguei um táxi para vir para casa. De repente, comecei a prestar atenção melhor no motorista. Eu o achei um cara bonito, não chegava a estar bem vestido, mas a roupa não comprometia, uma conversa agradável e interessante. E ainda por cima tem uma das profissões mais em alta no momento. Eu não digo que essa Lei Seca vai nos enlouquecer?

Em baixa
E o Cacciola está chegando. O cara apelou até para a ONU, é mole? Esqueceu que o ministro do STF, Gilmar Mendes, dá plantão direto na porta da PF principalmente para a ala dos banqueiros? Se não fosse isso, ia ficar muito apertado, não? E perigoso, dá para imaginar o que esses senhores poderiam tramar enquanto tomassem banho de sol no pátio.

Fake
A foto desse post é do Erick Lang. E chama fake mesmo.

Fullgás
Minha filha me disse no final de semana das lembranças que ela tem desse disco da Marina que não parava de tocar em casa. É um ótimo disco, antes da fase depressiva e dos problemas com as cordas vocais que comprometeram sua voz. Tanto que não achei muitos vídeos ao vivo com essa música de razoável qualidade. Nesse, está com o Liminha. E tem legendas, não precisava. Mas vale assim mesmo. Para minha filhota lembrar de novo.

julho 14, 2008

Ser uma boa mulher...


Good Woman, by Cat Power, do ótimo cd You are Free, de 2003. Nessa faixa, Eddie Vedder a acompanha na guitarra e bem de leve nos vocais. A música é linda. Melancólica. Mas não deixa de ser uma forma positiva de alguém pular fora de uma relação. Para continuar sendo uma boa mulher e para que ele continue sendo um bom homem. Admiro os que sabem fazer isso antes que tudo vire pó. Antes que tudo exploda. Eu sempre fui mais desastrada.

I want to be a good woman
And I want for you to be a good man.
This is why I will be leaving
And this is why, I can’t see you no more.
I will miss your heart so tender
And I will love
This love forever....

julho 11, 2008

Corais em risco

Faz muito tempo que não mergulho. Mas sinto falta e sempre que me proponho a voltar termino adiando por algum motivo. Pena, é uma das melhores meditações que já fiz na vida. Você entra em um outro mundo onde seus comandos estão limitados, não tem voz, carrega um peso estranho e não tem idéia do que pode aparecer ao seu lado a qualquer momento. Mas sua visão fica muito mais apurada, sua sensibilidade quase palpável e a noção de prazer ganha uma outra dimensão.
Uma vez, em Noronha, nós fazíamos uma aposta sobre quanto tempo as pessoas levariam para mudar suas feições tensas depois de chegarem na ilha. Descobrimos que isso poderia ser menos de12 horas se essa pessoa mergulhasse logo de cara. Na volta do mergulho, o sorriso está diferente, a contemplação do lugar é outra e o olhar muito mais iluminado.
Bom, me lembrei de tudo isso quando li a matéria dizendo que um terço dos recifes de coral no mundo está ameaçado de extinção. Oh my god, foram muitos anos para que fossem formados e, agora, a temperatura da água, a poluição, as alterações locais por conta de pesca predatória, entre outras coisas, podem colocar tudo a perder. Não é só a beleza que vai embora -- e isso já é grave o suficiente -- mas nesses corais vivem 25% das espécies marinhas. Ou seja, o preço alto da nossa "evolução" também se apresenta ao mundo silencioso, inofensivo e que já gastou quase todas as armas com as quais podia se defender. Sobraram alguns tubarõezinhos brancos mas já quase desdentados. Chegamos para arrasar, baby.

Aniversário
Vi um dia desses o Redneck fazendo uma contagem regressiva para o aniversário do blog dele. Daí me lembrei que, do nada, resolvi criar um blog. E ainda consegui empolgar o Red. Tudo quase que no mesmo dia. Portanto, está chegando o aniversário do O Quem. Uau! Espero não me esquecer dessa informação de novo.

Ventilador
Foi notada uma ventania super estranha no centro da cidade na tarde dessa quinta-feira. Algumas pessoas chegaram a ligar para a Defesa Civil. Mas foram informadas por um gentil assistente de que era apenas a porta giratória da Polícia Federal que andava com movimento um pouco anormal. Mas já ia passar.
Aliás, quem não leu a crônica do Veríssimo (amo, amo de paixão) no Estadão, deveria ler. Ele fala sobre a alegria do ladrão de galinhas com a prisão de Daniel Dantas. E ele usa um dos melhores termos que já li sobre a prática dantiniana: ele opera no lusco-fusco moral. Brilhante.

Non sense
Há vários motivos pelos quais eu gosto muito desse videoclip de Electrical Storm do U2. A primeira coisa é que ter o Larry Mullen Jr com tanto destaque não tem preço. Aliás, tem uma frase muito legal do Morrisey (o Márcio Gaspar disse que é do Boy George) sobre a música I´m still haven´t found what i looking for, do U2. Ele diz que o Bono não achou o que estava procurando porque não olhou atrás da bateria. E lá está Larry, batendo, lindo...
Outra coisa sobre o vídeo do Storm é que dou muita risada porque é um roteiro completamente sem sentido, nada se explica, nem as idas e vindas da sereia, nem porque o Larry fica tirando aqueles cacarecos do mar e muito menos a passagem estranha de um veado que altera todo o quadro de romance dos dois. Em algum lugar eu já li uma explicação para o sentido de tudo isso, mas quando se precisa explicar... Whatever, o vídeo foi dirigido pelo fotógrafo holandês Anton Corbijn que eu adoro. Por tudo isso, vale a pena.

julho 07, 2008

Segunda e o blues

Para começar bem a semana. BB King com Eric Clapton, Buddy Guy, Albert Collins e Jeff Beck em Sweet Little Angels.

julho 04, 2008

Era uma vez...

Em homenagem ao João, que lamenta todos os prazeres que o aquecimento global está nos levando...













E ao Carlinhos que tremeu quando teve um cartão original de Picasso nas mãos...
Pequenas constatações de conversas jogadas fora em uma noite de quinta. Mas grandes o suficiente para lembrarmos que sempre há altas conexões mesmo em dias de pane geral na conectividade. Voilá, o fim de semana já bate na porta.

julho 01, 2008

É dose

Eu fui criada em uma família onde, aparentemente, as mulheres estavam no comando. Mães e tias de todos e tudo cuidavam. Quase como uma tribo. Dá para imaginar o que isso significa hormonalmente falando. Muitas emoções à flor da pele e a alegria passando para a tristeza com a mesma facilidade com que se abre uma torneira para lavar a louça. Isso fez com que eu aprendesse a conviver com o choro das mulheres, inclusive o meu.
Talvez esse seja o motivo que as poucas vezes que vi meu pai chorando tenham me marcado tanto. Eu entendi que as lágrimas silenciosas dos pais muitas vezes falam mais alto do que todo o burburinho à volta. Não chega a ser um soluço, mas dá para sentir que doeu muito. E o tempo me mostrou que mesmo que apenas para enxugar suas lágrimas eu voltaria tudo de novo.
Se isso pode ser etéreo demais, piegas demais e desinteressante demais para jovens de almas atormentadas entenderem talvez o melhor seja buscar formas mais diretas para explicar. Baby, a cama fria de um hospital e o coração fora de controle não são coisas que assustam apenas a você. Elas explodem na cara e no peito de quem está ao seu lado.
Não é o fato de você dominar alguns acordes de uma guitarra que lhe dá o talento e, principalmente, a malícia de titio Keith Richards. Presta atenção, você pode acabar se assemelhando mais à caricatura da já caricata cantora inglesa que não consegue administrar seu tamanho. Se tudo ficou grande, além da conta, não se deve ter a vergonha de pular fora. Isso sim pode ser muito mais cool do que se imagina.
Chega uma hora que é preciso perceber que as roupas de moleque não cabem mais e só deixam um tom ridículo no ar. É hora de trocá-las, baby. E se, no final de tudo, é só a música que importa, aprenda pelo menos a prestar atenção no que ela diz. "She doesn´t lie, she doesn´t lie...".

Chemical Brothers
Ufa! Acho que desengasguei. Coloco uma música que gosto muito. The pills wont help you know. É linda. Não tem vídeo, é só para ouvir. O que interessa, aliás.