novembro 22, 2007

O dia que apresentaram o roto ao esfarrapado

Antes de escrever esse post, é bom deixar claro que eu gosto muito do U2 e sou apaixonada pelo Larry Mullen Jr. Bom, dito isso, vou começar de novo. O post.
Eu ainda estou chocada com as denúncias de que crianças indianas com menos de 10 anos de idade estavam trabalhando para fazer as roupas da GAP. Eu não acompanhei mais esses dias, mas a última coisa que eu vi foi o comunicado da GAP, se defendendo com o argumento de que ela não era responsável pela terceirização, ou algo assim. Bom, até um recém chegado ET sabe que quando você olha seus custos e percebe ganhos extraordinários com mão de obra local dá para imaginar que o bicho está pegando em algum lugar. Eu não sei o efeito disso sobre a imagem dela, não sei, por exemplo, os números de vendas de tênis Nike depois que se descobriu quem os produzia na Tailândia, ou perto.
Mas além dos indianinhos eu penso também no Bono. Ele fechou um acordo com algumas empresas, Apple, Motorola, se não me engano, e outras, para que cada uma tivesse uma linha específica de produtos com a marca RED. Um percentual x da venda desses produtos RED vai para a campanha que o Bono leva para os quatro cantos contra a pobreza na África.
Como a África está na moda, foi feito um puto marketing em cima disso, o Bono foi para rádio, TV, falou sem parar. E uma das parceiras desse projeto era justamente a GAP que, agora, está no banco dos réus por explorar crianças indianas.
O Bono é o que menos tem culpa nisso, mas podia ter passado sem essa, não? Eu acho que tem um mérito manter a África no foco, que bom que ela entrou na moda. E se celebridades precisaram se engajar para ajudar isso, parabéns para as que levaram a sério. Mas é bom que a gente não se esqueça que a pobreza também não escapa da globalização.
E, por favor, não vamos falar mal do Bono por isso, eu acho que ele pode até estar ficando meio chato, messiânico, mas podia estar no Hawaii curtindo férias e não pulando de canto em canto para defender alguma coisa. E nem que é marketing, por favor, tragam meus sais, porque eles não precisam disso. (Leram lá em cima a observação?)

2 comentários:

Data Vênia disse...

Minha carra Patty, este é o lado mal do capitalismo.
Como você mesmo disse, nenhum empresário leva sua linha de produção para um país asiático para ajudar criancinhas... muito pelo contrário! Os caras só querem ganhar grana!!!
Quanto ao Bono, meu lado fã livrará sua cara, até porque ele não tem como saber que a GAP recruta funcionários mirins (terceirizados ou não).
Abs e bom final de semana!

DV

Anônimo disse...

Bem, Patty,

Você quer saber o que ocorreu com as vendas da Nike? Niente. Uma pequena curva pra baixo, altos investimentos em publicidade, um pedido de desculpas e grande curva para cima...
Fala-se muito, aqui no Brasil, em concorrência chinesa. POis o custo do trabalho no Brasil está calculado em 5 dólares a hora, com produtividade de 7 dólares a hora. Nos EUA e na Europa o custo é de 12
dólares a hora (tirando o leste europeu, claro), mas a produtividade salta para mais de 30dólares a hora. Na China, o custo é de 0,83 centavos de dólar. E a produtividade é de 19 dólares a hora! Não tenho os dados sobre a Índia, mas podemos imaginar...
As grandes empresas instalam suas fábricas no terceiro e até no fim do mundo, se for preciso. Basta analisar uma continha básica como essa. E aproveitam para deixar por lá também todos os danos ambientais, né?
Realmente, alegar que "não sabia" porque estava terceirizando a produção é pura canalhice da GAP.
Esperemos que Bono e outros artistas "politicamente corretos" fiscalizem mais de perto as ações "humanitárias" que promovem, seja por questões de marketing, seja por questões humanitárias mesmo.

Beijos
Luciana

PS: já linkei o Quem, que é pra não perder o rumo...