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Uma grande amiga minha, que aqui assina Aiaiai (pior que é a cara dela, esse é o jeito com que ela reage às loucuras do mundo), fez um comentário meio nostálgico, mas pertinente, sobre o vídeo do Velvet Underground que eu coloquei ontem. Saudades do tempo que ser doidão era legal e não tão cheio de culpas como é hoje. Eu estou lendo o livro das melhores entrevistas da Rolling Stones e fiquei pensando nisso, também com certa nostalgia. Não por mim, mas pelos "doidões".
John Lennon fala da loucura que era o tempo dos Beatles, coisa que não interessava nem a eles, nem à gravadora, e nem à imprensa contar. Como ele e George se envolveram com o LSD, quantas viagens não vieram daí. Mas, o pior ou melhor, quantas músicas dos quais nem vamos relacionar, surgiram. Eric Clapton ficou dois anos e meio dentro de casa, com sua namorada, completamente chapado. Ele tinha um gravador e tocava todos os dias. E dali saíram canções belíssimas. Sim, tem uma entrevista com Keith Richards, e você pode imaginar, nem preciso contar. Ainda não é nessa da célebre frase, não tenho problemas com drogas, tenho problemas com a polícia. Johnny Cash fala do seu vício com anfetaminas e, mais uma vez, do que criou. Jack Nicholson se recusa a dizer que usou cocaína, o mesmo que não vale para o seu vício pela maconha. Mas garante que não faltou a um trabalho e nem ao curso de interpretação que fez durante 12 anos. E que o deixem em paz.
Não li todas as entrevistas, mas lá tem Jim Morrison, Jerri Garcia, Kurt Cobain e Courtney Love. Posso imaginar o que ainda vem. Não quero fazer apologia das drogas, acho que muitos talentos e pessoas foram levados pelo excesso. E acho que todas essas pessoas sofreram com a perda de amigos muito próximos, vítimas do não saber quando, e como, parar. A vida vale muito mais e isso não é cool. Mas havia algo que saía dessa loucura toda e que permitia que o talento desses "doidões" continuasse predominante. Um certo controle sobre a criação. Isso porque nem vou comentar a biografia de Tim Maia. Você sai chapado, mas vibra com ele.
O ponto que eu quero chegar é o que acontece agora com os "doidões". O filho de alguém muito próximo, de 23 anos, teve duas overdoses de cocaína. Só por isso, já o considero um babaca. Mas quando o encontro tudo que eu vejo é um moleque em frente ao espelho, levando horas para produzir seu cabelo, ajeitar seus piercings, e garantir sua figura de emo. Sem brincadeira, ele leva horas. Tenho vontade de vomitar, não dá nem para ter qualquer diálogo. Um amigo meu foi no final de semana a uma rave e disse que rolou de tudo e as pessoas tomavam (será que esse é o verbo?) balas, que imagino seja Ectasy, e ficavam horas pulando como cabritos. Isso sem contar as drogas novas que rolaram, algumas com nomes parecidos com comidas de passarinhos. Passarinhos que pulam como cabritos.
Eu fui a uma festa na semana passada e quando saí para fumar presenciei algo inédito. Uma menina se inteirou a um grupo que estava ao meu lado para fumar um baseado. Mas ela não apenas casou com ele, o baseado, ou seja o monopolizou, como a certa altura resolveu levá-lo embora sob o argumento de que era algo que ela precisava. Pegou a bola, que nem era dela, e ameaçou sair do jogo. Eu freqüentei várias turmas de barra mais pesada do que aquela que estava ali e nunca vi isso acontecer. Havia uma certa ética, algo que se compartilha, se compartilha.
Deve ser a idade, mas eu fico me perguntando, o que mudou? O ser humano, que emburreceu e não sabe mais descer depois daquelas subidas, ou foram as drogas, que ficaram mais caretas? Como disse o Pedro, a visibilidade hoje em dia está fraca e fica difícil saber o que é genuíno e o que não é. Bom, repetindo aquele filósofo que nunca lembro o nome, sei lá, mil coisas. O mundo ficou mais drogado, em todos os sentidos, e mais babaca. Como é muito difícil escolher uma música para isso, hoje não teremos música. Amanhã, quem sabe se eu me drogar muito.