setembro 08, 2008

Que o céu não caia na nossa cabeça

Eu vi os dois caras saindo do carro no momento que eu me recuperava da sensação de que havia pares de olhos em todas as janelas me secando assim que acendi um cigarro no pátio do hospital. Um era alto, muito gordo, cabelo quase amarelo até o meio da nuca. Usava um chapéu. O outro baixinho, narigudo e de bigode. De repente, uma familiaridade tão grande. De onde eu conhecia aqueles dois? Era algo reconfortante, para falar a verdade. Claro, eram Asterix e Obelix. Iguaizinhos. Eu fiquei pensando como era bom o tempo que eu mergulhava naquela aldeia gaulesa, onde se ficava sob a proteção da astúcia de Asterix e da força de Obelix. Não havia doenças que um bom caldo do druida Panoramix não curasse. Não havia desemprego, para falar a verdade nem competição, era um ferreiro, um açougueiro, um verdureiro...E, claro, um bardo tentando compor músicas, sempre de péssima qualidade. Mas ele insistia. Ideiafix, o cachorro, lembra a Maia, cujo sobrenome virou Exwhite, depois que ela deixou de ser tão branquinha. Todo mundo ficava doidão com a poção preparada pelo mago e a maior diversão era bater em romanos. O único medo era de que o céu caísse sobre a cabeça, porque aqui embaixo estava tudo dominado. Como era boa a minha aldeia.
Me lembrei de outra vez que eu também estava em um hospital, dessa vez como paciente, o que não era o caso ontem. Uma paciente do bem, tinha acabado de dar a luz. E luz clareia, ilumina. Mas estava na segunda noite internada e doida para ir embora. Impaciente, queria começar logo minha vida de mãe. Sensível, não sabia se daria conta. Insegura, cheia de dúvidas. O meu marido me levou o Asterix que faltava na minha coleção. Não lembro qual era, mas na contra-capa, onde tem a apresentação dos personagens, ele colocou legendas. Asterix, correndo, comunicava o nascimento da nossa filha. Obelix dizia que iria preparar um menir para ela. Panoramix, no seu caldeirão, falava que iria fazer a sopinha dela. E o bardo, claro, iria compor uma música para a recém chegada.
Eu fiquei um tempo olhando para aqueles balõezinhos da legenda e, de repente, caí em prantos. Devo ter chorado uns 10 minutos. Era uma emoção misturada com os primeiros sintomas da depressão pós parto que durou mais uns 10 dias e pegou o Natal, óbvio. Não me lembro também se aquele número era só do Uderzo ou uma edição que ainda tinha o roteirista Goschinny. Mas foi lindo. E a vida é cheia desses momentos, gentileza, sensibilidade, sedução.
Meus devaneios foram interrompidos com o berro do manobrista do hospital. Gol do Brasil contra o Chile. E assim teve início uma longa noite de insônia.

Obrigada
Por falar em presentes, na sexta-feira ganhei mais Suflair e um DVD muito legal que, por conta de vários acontecimentos, não pude nem ver. Mas foi um encontro emocionante para mim, tanto que não percebi que havia mais um presente. Volume 1, crônicas, Bob Dylan. Como já disse, a vida é feita de momentos like this. Gostaria de ter gravado um CD com várias músicas para retribuir. Pena que não tive tempo. Valeu, tks.

Até
Não sei se volto a postar nos próximos dias. Vou até ali dar uma olhada em como anda a porta de entrada de nossa Amazônia. Conto tudo na volta. Para quem também viaja amanhã, super boa viagem.

Smokers the outside of hospital doors
Com The Editors. Valeu.

7 comentários:

Anônimo disse...

Patti, está tudo bem? É algo sério?
Te mandei um email, vc viu?

Posso imaginar a menina, mãe de poucas horas, chorando com Asterix na mão. E posso te dizer que é uma imagem linda.

Estou curioso em saber qual foi a história que completou sua coleção. Eu gosto deles, li vários, mas não fui colecionador. Já do Corto Maltese, adorava o traço e as viagens do Hugo Pratt. Vc leu? Alguns eu ainda tenho.

Editors, vc me apresentou há quase um ano, lembra?
Momentos da vida, like this.

Beijos querida

Anônimo disse...

Chorando 10 minutos? Devia estar chorando mais que sua filha. Momentos like this. kkkkkk

Eu vi só uma parte do filme Asterix e não gostei. Preciso ler os gibis. Eram gibis, não?

Será que é aquele moleque de novo no hospital, Patty?

Posso imaginar as janelas. kkkkkk


Vc foi no show desses caras, Patti? São bons, gostei.

Anônimo disse...

Eles eram mais engraçados que o Tintim onde o melhor era o capitão bebado. Corto Maltese era bem melhor, pelo menos tinha umas mulheres mais picantes. Não era tão assexuado quanto os outros.
Não sei ainda se gosto desses caras. A música é boa mas eles precisam fazer mais que isso.
Bjs, Patty. Espero que esteja tudo bem.

Anônimo 1

leve solto disse...

CHeguei tarde para desejar boa viagem... e cedo demais para saber das novidades da Amazônia..

Deixo beijos procê!

Mara

Anônimo disse...

Ei Patty,
você viu como ficou curioso o endereço desse post?

Anônimo disse...

e com esse título..........pattyyyyyyyyyyy

Anônimo disse...

Ainda vistoriando a Amazônia, Patty? Encontrou o Lula lá?


Anônimo 1