
Existem várias maneiras de você descobrir coisas sobre a vida e sobre você mesma. Depende do caminho que você escolhe. De volta da Costa do Sauípe, percebi que posso estar escolhendo o mais difícil.
A primeira lição foi entender o que aconteceu com minha mãe quando ela caiu há algum tempo e esfolou completamente seu rosto, levando três pontos na testa, inclusive. Eu me perguntei na ocasião, como ela não protegeu o rosto? A resposta veio com a minha própria queda, saindo da praia e pegando o caminho que levaria para meu quarto. É simples, como um saco de batatas sendo jogado em queda livre, se você forçar o braço para tentar atenuar, corre o risco de quebrá-lo. Então, o melhor é deixar cair tudo que tiver de cair e rezar para que o estrago não seja tão grande.
O estrago foi menor do que imaginei na hora mas enorme para a vaidade humana. Minha boca inchou, meus lábios pareciam leporinos, como bem observou um amigo, e ganhei manchas roxas que formaram um bigode. Sim, um bigode que quase se assemelhou ao de Salvador Dali mas ficou tímido no meio do caminho. O que pode até ter sido pior.
Daí outra lição aprendida, a vida das mulheres bigodudas não é fácil. As pessoas chegam perto de você para te cumprimentar com um sorriso, ao perceberem que tem algo diferente começam a recolher a saudação e você nota claramente a hora que a boca passa do esboço de um olá descontraído para o oh!!!! que ainda tenta ser disfarçado. E o pior são as recomendações, passe um corretivo e uma base que melhora. E quando você responde que já está com corretivo e base não há quase mais nada a dizer. A não ser as mais incentivadoras que ainda se oferecem para emprestar uma base mais escura, se for o caso. Mais um pouco e me ofereceriam tinta.
Para evitar constrangimentos para todos, o melhor foi o dragão se recolher à sua caverna e passar mais tempo lendo, escutando música e conferindo se o movimento das ondas do mar estava no ritmo. E aí chegam os amigos, os conhecidos, os que te trazem remédio, ajudam a limpar o sangue espalhado no quarto e na roupa, os que te distraem e te paparicam. Três muito queridos, Red, Mari e Haru, levaram o monstro para almoçar na vilinha para que ele ficasse longe da visitação pública no almoço na prisão, sorry resort. E daí não dá para não rir da sua própria desgraça com as observações sarcásticas sobre a lamentável situação. Mesmo que isso custasse mais dor nos lábios leporinos. Mas, ainda bem que sobra o humor. E aí não há nenhuma lição, mas a constatação do que eu sempre soube, amigos valem ouro.
Vale ainda registrar a cara da arrumadeira que chega no seu quarto quando você ainda tenta descobrir de onde vem tanto sangue. Sim, porque faz tanto tempo que não vejo algo assim. De dois cortes na mão devem ter jorrado litros, sem contar joelhos, cotovelos e sei lá mais o que. Meu Ipod ganhou um tom avermelhado em instantes. Meu celular, nem fale. O chão foi todo tingido e não havia mais uma toalha sequer branca. A cara da moça baiana era algo do tipo "onde será que ela escondeu as partes do corpo que foi esquartejado aqui?"
E o hotel te manda, no máximo, uma água oxigenada, um pouco de gaze e esparadrafo fininho. Só. Band aid, só depois de implorar muito. Gelo? Vamos ver se conseguimos. Se eu fosse associada da Previ pediria uma auditoria imediata para entender porque tanto dinheiro foi colocado naquele empreendimento falido que nem texano em férias coloca no seu roteiro. Se querem saber mais sobre o atendimento e a péssima comida, confiram no
Redneck. Se não fosse nossa escapada para a Praia do Forte, na sexta, tudo teria ficado asfixiante demais naquele lugar.
Voltando para o tombo, o mais engraçado foi o momento que ele aconteceu. Sentada debaixo de um coqueiro eu escutava música, concentrada naquele vai e vem das ondas, buscando uma sintonia que eu tinha perdido na véspera, por algum motivo estranho. E não era com alguém, com alguma coisa, ou conexões divinas, era comigo mesma. Na hora que achei que a tinha restabelecido, me levanto para voltar para o quarto e, literalmente, quebro a cara. Ou seja, mais do que a sandália que fica presa e te derruba, tem algo mais no ar do que helicóptero levando bala perdida, como diz a Kriko.
Enfim, é bom estar de volta e ver seu porteiro predileto deixar a portaria por instantes para trazer suas coisas até o seu andar, mesmo que você não esteja mancando ou sem condições de andar. E mesmo se estivesse, o elevador está aí para isso. Mas só para te fazer um carinho. Home, sweet, home.