janeiro 16, 2008

Sob o domínio do medo da mala

Hoje peguei meu passaporte novo que mostra que sou cidadã do Mercosul. Preferia ser do mundo mas como também sou muito tribal não ligo de pertencer a um bloco, mesmo que seja o mais inexistente, maluco e desestruturado de todos. Segunda-feira embarco para Nova York. Mas o que eu queria contar é uma experiência que eu tive há alguns anos naquela cidade e que me deixou quase paralisada de medo.
Eu passei uma semana lá com três adolescentes, minha filha, a melhor amiga dela que estava fazendo intercâmbio perto de Chicago e o filho de uma amiga minha. Foi uma das melhores viagens da minha vida. Eu já conhecia a cidade mas redescobrir tudo sob a ótica dos três não tinha preço. Andamos como uns desvairados por todos os cantos, tivemos situações divertidíssimas, hilárias, e exploramos tudo que era possível. O astral em NY era dos melhores e as torres ainda estavam lá, firmes e fortes.
Eu já estava lá antes de eles chegarem e enfrentava dificuldades para conseguir hospedagem para os quatro uma vez que era abertura anual da assembléia da ONU e estava tudo lotado. Eu achava que nessa ocasião lotavam os hotéis mais estrelados e descobri que não, as acomodações econômicas são as primeiras que escasseiam. Com a interferência da mãe americana da amiga da minha filha conseguimos um quarto no Hotel Roosevelt, bem localizado, com uma entrada linda, mas uma decadência só. Nos últimos anos ele foi remodelado mas naquela época era a base da hoje extinta Soletur e pouso certo para muitos latinos que iam em busca de aventuras e preços menos salgados. Nos instalamos os quatro em um quarto enorme e passamos uma semana maravilhosa.
No último dia que ficamos no hotel, a amiga já tinha ido embora, saímos os três para jantar e voltamos para o quarto exaustos. Eu fui tomar um longo banho e quando saí, quase duas horas da madrugada, decidi dar uma arrumada nas malas para o dia seguinte. Quando abri a porta do closet esbarrei em uma mala que, até então, não tinha visto. Acordei minha filha para saber se sua amiga tinha deixado aquilo ali, não. Acordei o amigo para saber se ele tinha comprado uma mala nova, não. Resolvi então olhar melhor o que era aquilo. Não era uma mala muito grande, um pouco maior que uma valise. Tinha o selo de uma companhia aérea preso na alça. Foi aí que comecei a desconfiar de algo muito errado. Era da Avianca, para quem não sabe uma companhia aérea colombiana.
Não havia cadeado e decidi abrir a mala. Ela não tinha uma peça de roupa sequer, um par de meia, um lenço, qualquer coisa que desse aspecto de pertencer a um turista . Nada. Tinha sim um envelope grande, amarelo, duro, preso ao fundo com fitas adesivas. Em cima desse envelope havia um outro preso com durex, branco e menor, com um endereço de Bogotá escrito à mão. Vocês conseguem imaginar o meu pavor com dois adolescentes no quarto e uma mala daquelas que, naquele momento, parecia que ia explodir na minha mão. Coloquei roupa correndo, tremendo, avisei minha sonolenta filha que estava descendo e fui embora, com a mala, para a recepção do hotel.
Quando cheguei lá dois recepcionistas, praticamente dormindo, levaram o maior susto quando joguei a mala no balcão e gritei que aquilo não era meu. Um segurança que estava próximo, acordado também pelo meu desespero, se aproximou. E fez o mesmo caminho que eu, olhou o selo, desconfiou, abriu e quando viu o conteúdo começou a chamar outros seguranças. O interrogatório, por incrível que pareça, foi curtíssimo. Quanto tempo você está no hotel, quando a mala apareceu, quantos estão no quarto, muito obrigado pode voltar a dormir. Voltar a dormir? Com uma sinfonia dessas na cabeça? Eu só pensava que quem colocou aquilo lá voltaria para buscar. Quem sabe até com metralhadoras. Arrastei a cama para a porta e passei a noite praticamente acordada, qualquer barulho no corredor me deixava em estado de alerta. No dia seguinte fomos embora mas como nosso vôo era só à noite ainda deixamos nossas malas no hotel enquanto circulamos pela cidade. Loucura? Hoje acho que pode ter sido, mas elas estavam bem trancadas.
Quando cheguei aqui levei a maior dura do namorado que disse que se a mala estivesse sendo rastreada eu poderia ter me ferrado ao deixar o quarto com ela e blá, blá, blá. Coisas que achamos que só acontecem nos filmes. Dava para entender o nervosismo dele. Eu tinha falado com ele de manhã, ainda do hotel, e até a gente desembarcar em Cumbica, no dia seguinte, ele não sabia se tinha havido desdobramentos. No final deu tudo certo e com o tempo isso virou uma história até que divertida. Falando sobre isso um dia desses com uma amiga jornalista, que por sinal viaja comigo na próxima semana, ela não se conformava por eu não ter aberto o envelope para ter certeza do que era. Talvez se eu estivesse sozinha, mas não naquelas circunstâncias.
Bom, de qualquer forma voltar para NY é sempre emocionante para mim que gosto muito daquela cidade. A última vez que estive lá o 11 de setembro já tinha acontecido e, pela primeira vez, vi muitas bandeiras americanas em vários estabelecimentos, coisa inimaginável anos antes quando, acima de tudo, ela era uma cidade do mundo. Vou a trabalho porque se dependesse da minha conta bancária, no momento, não iria muito longe. Como costuma dizer minha mãe (sobre os outros, claro, nunca sobre sua própria família) come sanduíche de mortadela e arrota peito de peru. E ela nem imagina o que estou preparando para fevereiro. Que seja e vamboralá.

21 comentários:

leve solto disse...

Patty, estou decepcionada com vc...

Uma jornalista e mulher que se preze coloca a curiosidade acima de tudo, inclusive do perigo...

Agora fico eu aqui imaginando o que teria na mala... Ai ai... que dia terei hoje só pensando a respeito! rs

Bjs

Mara

Anônimo disse...

Mara acho que não é difícil imaginar. Patti fiquei aqui um tempo pensando nessa situação. Que doideira moça.
Pode ter passado muito tempo mas ainda não estou seguro de saber que vc estará sozinha naquela cidade. Tomei uma decisão vou adiantar umas coisas por aqui e vou com vc. Quanto tempo teremos?
Eu estive ano passado lá e achei que ela não está mais tanto nacionalista como vc disse. Bom se precisar de algumas dicas estamos aí. Aliás eu vou tbem né, tinha esquecido. ando meio desligado...Bjs

Anônimo disse...

Estou pegando a mania de voltar. Tribal? das que acham as extintas comunidades hippies tudo de bão? Vc sempre me deixa reflexivo e mais curioso. Kriko se isso foi outra baba devo dizer que não tem jeito. Me esquece, mira protrolado. Bjs.

leve solto disse...

Voltei!!

Adorei o modelito da mala.. facílima de ser localizada na esteira do aeroporto... A caretinha então... espanta todos aqueles que pretendem pedir uma informação e ficam duas horas contando a vida..rs

mais beijos

Mara

PS.: continuo pensando... o que teria na mala? ai meu jesus cristinho... hoje morro de tanto pensar!rs

Anônimo disse...

Ei Pet (rs),

De todo modo é melhor ficar sob o domínio da mala que do mala...

(brincadeira Pedro, queima não...)

Boa viagem, querida.

Lu Carvalho disse...

Menina, até eu fiquei com medo dessa mala, acho que vc deve aceitar o oferecimento do Pedro e levá-lo como seu guarda-costas.rsrs

Bjs

Entre Trintas disse...

Patty,

Boa viagem e cuidado com malas alheias!

Sendo responsável por dois adolescentes, não sei se abriria a tal mala tb não...

Bjo,
GI

Anônimo disse...

Se pensava em meias e lenços por que não pensou que podia ser um pacote de fraldas? Pavorou.

Se fosse o que vc pensou que era a oportunidade voou pela janela. E o dinheiro também.

Falando sério. me arrepiei. Se fosse aqui, tirava de letras mas lá longe, tô fora.

ô lorde dos anéis

para minha surpresa o rio de baba não veio hoje. Só se ofereceu como um cãozinho para ir atrás da Patty. Mas pra nu iork até eu que não sou besta.

Agora filhote você fez igual o mineiro que de vez em quando dá umas na Patty que só ela para ter paciência. Falar que ela morou em comunidade hippie tem dó, cara.

Vou parando, é a casa da mãe Patty e não da mãe Joana.

Anônimo disse...

Quando se quer que alguém querido volte para casa sem machucar-se, dizemos que volte são e salvo, as you know, em inglês: safe and sound!

Patty, boa viagem, guria.
Beijos.

Anônimo disse...

Me leva dentro da sua mala?????

Anônimo disse...

Que droga de nick, Kriko, não dá nem para chamar no dimunitivo, krikozinha? Meu amor, não disse que a Patti morou naquelas comunidades mas se é tribal daquele jeito. Ela pode ter sido criada em uma, vai saber. A maldade está nos seu teclado.
Roney Mau, eu tento livrar a Patti do domínio do mala mas ele sempre volta.

3 X no mesmo post, parece que virou rotina. Mas é um imã.

Raquel Moreno disse...

E eu me pergunto: o que havia naquela mala??? Ai, que curiosidade! Beijos

Anônimo disse...

conheço muita gente que ficaria exultante com o achado da mala. ao ver o selo 'avianca' e o pacote fechado, abriria imediatamente. alguém se lembra do 'verão da lata'? pois é, este poderia ter sido o 'inverno da mala', hehe...

Cin disse...

Mais uma para o clube dos curiosos e a pergunta que não quer calar: Qual seria o conteúdo da mala? rs

Mas eu tbém ficaria apavorada e acho que teria a mesma reação que vc teve.

Boa viagem e ótimo dia!

Patty Diphusa disse...

Meninas e meninos, sinto muito, mas não saberemos nunca o conteúdo exato da mala. Fica no nosso imaginário.
Se fui cuzona? pode ser. Mas com dois adolescentes e em uma cidade de tolerância zero, nem pensar. Poderia mesmo ser o inverno da mala Marcinho -- saudades do verão da lata -- mas daquela forma, no, my name is not Mary.....Agora, Kriko, pacote de fraldas nunca passaria pela minha cabeça.

Pedro, vc vai comigo então? Aiaiai também vai, né? Não precisa ser na mala, amiga, você sabe que as minhas só ficam prontas na última hora. Vamos repetir aquele nosso vôo em que chegamos em Cumbica alegríssimas depois de tanto tomar -- e roubar -- vinho.

Ah, Pedro, adorei o mira protrolado. É parente do vamboralá, não?

Obrigado a todos pelos votos de boa viagem, tenho certeza que será. Mas ainda fico mais um tempinho por aqui, só viajo na segunda.

Bjs for all

Patty Diphusa disse...

Acabo de descobrir, aliás, que só viajo na terça. Vcs vão ter de me aguentar até lá. Bjs.

Unknown disse...

Hum... Então, Patti arrumará suas malas na terça que vem?! YEAH!

Patty Diphusa disse...

Você tem alguma dúvida, Alexandre? Isso porque você já me viu arrumando mala, o caos de sempre. Bjs, amei ver você por aqui, meu querido.

Cristiane A. Fetter disse...

Olá, vim conhecer o teu blog e nem preciso dizer que virei freguesa.
Mas já que você vem para cá (quase, eu moro a 30 minutos de NYC), vai lá no meu blog que eu postei hoje uma novidade que está acontecendo por estas bandas.
www.todoyda.blogspot.com
Abraços
ps.: Aqui tem de tudo mesmo.

Cristiane A. Fetter disse...

Ah esqueci de dizer que segunda feira é feriado por aqui, mas NYC nunca pára. É o dia de Colombo.

Osc@r Luiz disse...

E então?
Não vai ter o desfecho?
Afinal: "o que teria na mala"???
Boa viagem e não bobeie com as malas...
Beijo!