janeiro 14, 2008

Viver sem licença

Vou contar para vocês o que se passa no íntimo de uma transgressora. Quase nada. Eu, pelo menos, vivo a maior parte do tempo relaxada, sem culpa, o que talvez se deva à minha enorme (maior do que a devida) capacidade de abstração. Sigo escutando minhas músicas, no volume alto, cantando e muitas vezes até dançando. Mas, de repente, uma freada mais brusca, alguém entrando na sua frente sem dar sinal, uma manobra um pouco mais arriscada, daí você se lembra do perigo. Ou, mais precisamente, que eu não tenho mais habilitação para dirigir. Não por minha escolha, eu preferia fazer tudo legalmente. Mas, a soma de pontos em sua carteira é um processo que (quase) está fora do seu controle. Falar no celular ao volante? Foram poucas vezes, mas sempre teve alguém por perto para morrer de inveja porque você tem amigos, compromissos, tem com quem falar enquanto ele está ali, plantado, na frente de todo mundo, com aquela roupa marrom horrorosa, derretendo de calor e sem poder falar com ninguém. Todos passam e olham feio para ele. Judiação. Estacionamento proibido, quem há de me culpar com a falta de vagas que vigora nessa cidade? Estacionar um metro da calçada -- meu deus, onde foi que eu fiz isso, pelo que entendi foi na rodoviária quando deixei minha mãe no desembarque --, bom, isso deixa para lá. Mas sabe o que me pegou mais, a droga de um totem, na entrada da cidade onde mora minha mãe. Bobeou, chegava a foto da traseira do meu carro que tinha passado, pouquinho mas passado, os 40 quilômetros permitidos. E eu tomava o maior cuidado, mas lá vinha a foto. A traseira do meu carro parecia a da Beyoncé, flashes para todo lado. Até que minha filha, a sensata, me disse: mãe, você já reparou que tem um na saída? Meu deus, ele está praticamente na estrada.
A meu favor tem o fato de que não tenho falta gravíssima, não passei farol vermelho, não corri na cidade e não fiz sei lá o catso que é considerado um horror. Mas a soma, essa velha soma que também castiga meu cartão de crédito, acaba te pegando. Foi assim que com 25 pontos somados eu vi a minha habilitação ser levada de mim, meu nome no Diário Oficial e o caramba a quatro. Não achem que sou tão transgressora assim, não dirijo mais na estrada e na cidade só em caso de necessidade (o bom é que agora você é buscada em casa com mais freqüência). Mas eu sinto falta, adoro dirigir e não dirijo mal (milha filha não pensa bem assim, mas ela implica com bobagens).
Entrei com recurso contra a perda da carteira e contra algumas multas duvidosas. Vamos ver o que vai dar, conto depois. Mas, falando sério, já não falo mais no celular na direção, só em últimos casos, porque acredito mesmo que aquilo altera sua percepção. E a hora que voltar para as estradas vou prestar mesmo mais atenção, todo radar tem de ter muita sinalização avisando que no próximo quilômetro você será fotografado. Ai, mais essa.
Pior foi a promotora que bateu o carro com 99, noventa e nove para quem não entendeu, pontos na carteira. Meu Deus, onde essa mulher estava com a cabeça? Só vai aumentar a raiva na hora de julgarem os recursos alheios. Ah, dona promotora, vai atrapalhar a vida dos outros em Pequim desviando de bicicletas e aquele mundaréu de carros, ou na Cidade do México, um dos trânsitos mais caóticos do mundo. Me deixa em paz.
Sabe que no fundo acho que apesar de não ser bem administrado e existir uma indústria da multa a pontuação acaba nos levando a ter mais consciência, percebo isso nas poucas vezes que saio com o carro de casa. Aliás, esse caráter punitivo educativo já estava me pegando quando as multas começaram a chegar, mas já era tarde. Não sou uma maluca no trânsito, não saio costurando, correndo e não coloco a vida de ninguém em risco. Bati poucas vezes, só uma vez mais seriamente quando uma moça ultrapassou o sinal vermelho e me pegou. Mas nem foi minha culpa, vamos combinar. Ok, aprendida a lição, dá para julgar o meu recurso rapidinho? Se der mole, sou capaz de já ter cumprido o prazo da punição sem ter recebido a sentença. Fala sério, não sei até quando consigo abstrair tudo isso.

10 comentários:

Redneck disse...

Gosta de ser buscada em casa, né? E quem não? Euzinho, que ando desgovernado pela cidade, não tenho nenhum pontinho (rsrs). Inaugurastes um e-mail? Hummmm ....

leve solto disse...

Patty, tenho passado por momentos críticos neste sentido. Óbvio que o velho bom humor de sempre.

Viajo muito, vou pra Sp pelo menos uma vez por mês, e nos 630km que percorro o limite de velocidade ora é 90, ora 100, ora 110 e finalmente na Bandeirantes 120 km/hora.

Tenho consciência que dirijo super bem, porém me pego transgredindo algumas regras... por frações de segundo... me ferro.

Antes do natal liguei pro meu despachante pra apurar meus pontos pois insistem em mandar fotos do meu carro também, e ele pediu pra eu tomar mais cuidado , pois andei fazendo algumas artes... Que saco, numa cidade que nem movimento tem, uma ligaçãozinha tão rápida... e ainda ficam escondidos pra me multar! Pq nao mostram a cara? Saco! Os comandos me adoram, mas nesses sempre saio por cima... não encontram motivo pra dar lição de moral.. hehe
Minha filha, também hiper super certinha (ai como sofro..rs) vive me chamando a atenção, isso pq ainda está tirando carta.
Trabalho com o carro, e sem carta ficaria muito difícil pra mim... portanto fui obrigada a cometer uma infração muito mais grave do que falar ao celular, ou parar por dez minutinhos onde não deveria, e ultrapassar limite de velocidade(a mais frequente e constante). Ok ok me empolgo na estrada... adoro dirigir na estrada, não importando se é dia ou noite, sol ou chuva.. E por tudo isso pessoas assumiram (não conte pra ninguém.. fica feio pra mim) algumas infrações minhas pra que eu não fique sem a CNH... Agora já contei... Mas pelo menos estou só (?) com 11 pontinhos...
Ai ai, ainda bem que não tenho a pretensão de ser perfeita... Eu tinha que ter algum defeito... E o mais presente é a impaciência!!! rsrs

Anônimo disse...

Ei Patty,

Outro texto delicioso (nem vou falar MAIS delicioso pra você não me lançar nenhum olhar fulminante).

Dirijo desde os 15 anos, sei lá. E já tinha carro. Nunca fui parado numa blitz. Quando fiz quarentinha, venceu a validade da "carta" e adivinhe... Fiquei sem carro e carteira uma temporada. Na época era professor aqui da PUCMinas (que tem vários campi espalhados pela cidade) e tive que me virar com metrô e ônibus.

E, pra meu espanto, sobrevivi.

Anônimo disse...

Patti, prometo que vou prestar mais atenção no trânsito, se cruzar com uma moça cantando e dançando no volante vou abaixar o vidro e perguntar, vc é a Patti?
Moça pque não passou os pontos para alguém?
Que carro vc tem? Pelo menos é uma traseira proeminente para sair bem nas fotos? Doidinha.
Bjs

Anônimo disse...

Tô com o Pedro, passe os pontos para a carteira de alguém (alguéns)

Risos

Beijo.

Patty Diphusa disse...

Oie
Red, claro que gosto. Mas quando tinha carteira também buscava. Mara, não é dose? Mas se for multa de radar móvel pede para eles auditarem a calibragem. Como são empresas terceirizadas que ganham 30% de cada multa, eles preferem te anistiar do que tirar um radar da estrada. Já com foto de radar fixo é f...
Pedro e Amélie, vcs acham que eu não passei pontos. Não foi uma farta distribuição mas a minha filha, por exemplo, responde por infrações minha. Pobre menina.
Bjs

Patty Diphusa disse...

RM, difícil é se acostumar com isso com o transporte público de São Paulo. Haja.

leve solto disse...

Patty, o duro justamente é ouvir, ouvir, ouvir....rsrsrs
Paciência.. eu passei pontos, mas sei que vou precisar de mais "laranjas" pra tal... Sou "pé de chumbo" e dependendo da trilha sonora também canto e danço (só eu sei o trabalho que dá chacoalhar o esqueleto na direção..rs).

Bjs

Entre Trintas disse...

Lembrei da música: Fé em deus, pé na estrada (olho no retrovisor tb ajuda).
Bjo! :)
Gi

Patty Diphusa disse...

Mara, não dou muita trela pro ouvir não. O povo sabe como sou brava, nem se atrevem. rs.
Gi, olho no radar tbem, né?
bjs