Editors, Editors...
setembro 30, 2007
Um miadinho domingueiro
Como não tenho a força do meu amigo Redneck
para soltar um rugido dominical, fico mesmo no meu miadinho de domingo à noite. Na verdade, estou trabalhando e essa é uma pausa para relaxar. E me divertir com as bobagens que estão rolando pelo mundo. Como a declaração do George Michael que quer fumar menos maconha. Eu fico pensando o que será menos? Ninguém está satisfeito mesmo. E a bicharada no Reino Unido que está com a língua azul. Animais, mesmo, tá. Com essa doença da língua azul o dente também deve ficar azul, não? Daí teremos vacas e bois com bluetooth? E fico sabendo do tiroteio no shopping Interlagos, que pânico, para onde você corre uma hora dessas? Já está dentro da caixa, não tem muita saída. Os tentáculos da loucura estão cada vez maiores, quando você menos espera eles chegam, sorrateiramente, do seu lado, na sua frente, nas suas costas. Benza Deus. Mas voltemos às bobagens domingueiras, como um café da tarde prolongado em que ninguém sai da mesa e as conversas se esticam. Sandy e Júnior em turnê de despedida? Eu não precisava disso, vocês precisavam? E as filmagens de Blindness em Sampa?Algumas pessoas acompanharam. Agora à tarde eu vi o pesadíssimo Freedomland, com a Juliane Moore, muito boa, e o Samuel L.Jackson, sempre ótimo. E nas fotos das filmagens do centro de São Paulo, ela está com a mesma cara atormentada do filme. Agora, um pouco de mulherzice, como diz a Fabi. O que é aquele Mark Rufallo de barba? E eu perdi de ver isso de perto. Tudo bem, nem queria mesmo. E não adianta forçar, não vou falar de política nem nada sério hoje. Bom, vou voltar para as minhas matérias e arrumar minha mala. Parto amanhã para Floripa e só volto na sexta. Até lá vai ser bem difícil alimentar esse Tamagoshi aqui, então fiquem em paz. Me aguardem.
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setembro 28, 2007
Uma bela e despudorada exposição de vísceras
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Tenho saudades do meu pai e tenho saudades da minha mãe
e saudades de outro tempo onde eu não tinha saudades
tenho saudades do tempo onde eu acordava e via o meu filho
pequeno
e saudades de por a cabeça no sereno quando o tempo escorria
de outro jeito
tenho saudades da vasta amplidão do meu peito
onde cabiam mais amigos e menos desafetos
tenho saudades das crônicas antigas,
das minhas infantis dores de barriga
de um tempo onde eu enxergava meu futuro
sob uma parreira de uva
tenho saudades de um tempo onde eu não me envergonhava
como agora
de dividir essas lembranças com vocês
tenho saudades de velhos noticiários do rádio,
das mãos que seguravam as de meu pai
do vai e vem dos amores da infância
do jeito romântico que eu sonhava com a palavra
da minha inquietação juvenil que no fundo me tocava
fazendo a poesia mesmo ruim ter o vigor da ereção
da propulsão
a quentura do fogo, a força da lava
tenho saudades de não ter vergonha de rimar
de um tempo nem tão antigo
onde eu vi o homem tocar o solo lunar
com o meu pai bem aqui nesse lugar
onde hoje só estão as suas lembranças
tenho saudade do tempo da escrita rude
do fundo pedregoso da represa
de peixes espinhudos que peguei
da jaboticaba madura que provei
do incêndio que , estúpido, não apaguei
também tenho saudades dos sonhos,
daqueles amarelos que na porta da escola eu comia
e me lambuzava
e de outros mais remotos que eu sonhava
tenho saudades do pão quente
do pão presente que então se fazia
e de um futuro que a mim apetecia
onde eu seria tudo de grande
no limite da minha fantasia
o tempo da imagem enfim vingou
o que era doce nem mais doce ficou
e o futuro se pra mim não acabou
futuro, enfim , não se tornou
meu pai foi embora
minha mãe está longe
e eis-me na trincheira aqui sozinho
sem ser martir
sem ser sequer um coitadinho
mas ciente do tamanho que possuo
odeio por fim o pragmatismo
esse rumo tomado, anti-romantismo
onde tecer a palavra é fazer mau jornalismo
onde as regras se soprepõe aos fatos
onde os pratos sujos não são lavados
entre os intervalos das refeições
pois come-se muito
come-se Deus
come-se a boa palavra
come-se a lógica
come-se a ética
a métrica, todos os dedos
come-se o bem, a delicadeza
a mais sensata forma de beleza
come-se a árvore
e deixa-se o cimento do pátio
então, ali no átrio eu grito :
ONDE ESTOU ?PRA ONDE VOU ?
qual o dilema aristotélico que tem
no coração de todo aflito ?
R.S.
setembro 27, 2007
Borboleteando
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"Even Flow, thoughs arrive like butterflies"
E dá-lhe Cazé
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Adoro céus bíblicos
setembro 26, 2007
Isto não é para você - XIX
(previously leia em Por uma Second Life menos ordinária)
Marcelo nem tirou o roupão para dormir, assim que saiu do banho ele se deitou, completamente exausto. Horas depois, pulou, assustado, e se sentou na cama assim que percebeu uma mão nos seus cabelos.
-- Helena? O que você está fazendo aqui?
-- Eu moro aqui, lembra?
-- Mas você não voltaria só amanhã? Você me assustou. Aconteceu algo?
-- Tive saudades do meu marido e achei que esse era um bom motivo para voltar.
Helena mantinha o sorriso e a voz mansa deixando-o sem ação. Ele imaginava se ela sabia que tinha passado a noite com Olívia, se havia algo que o estava denunciando. Mas, aparentemente doce, ela estava impenetrável. Eles ficaram abraçados por um tempo, quietos, como se estivessem decidindo quais as rotas que utilizariam. Por um tempo, preferiram a das amenidades, falando sobre o congresso em Liverpool, sobre os amigos em comuns que estavam lá e outras bobagens. Até que Helena, cuidadosamente, foi ao ponto.
-- Você sabia que a Olívia está em Londres? Tentei tanto falar com ela mas não consegui. Será que ela está bem?
O papel da boa irmã não convencia Marcelo. Mas ele ainda não sabia o quanto ganharia em desmascará-la.
--Ela está de passagem por aqui. Estive com ela ontem, me pareceu bem.
Helena respirou fundo, não poderia deixar brechas para que ele lhe contasse algo indesejável.
-- Que bom. Parece que ela está se mudando para Dubai, não? Que loucura, mas é a cara dela. Nós poderíamos almoçar juntos amanhã, o que você acha?
Marcelo sentia seu pé próximo da armadilha. Mais um pouco diria toda a verdade. Vontade não faltava. Mas ele não queria magoar Helena, ainda mais com a gravidez.
-- Não sei se é uma boa idéia, ela parece que tem um monte de coisas para fazer por aqui antes de embarcar.
-- Não custa consultá-la, não acha?
Ela foi em direção ao criado-mudo e pegou o celular de Marcelo.
-- Você tem o número dela aqui? Eu só tenho no celular e a bateria acabou.
Ela não deu tempo para ele responder. Sabia que ele tinha o número gravado na memória. Da mesma forma que tinha certeza que aquele número ela atenderia.
-- Não é uma boa hora. Estou colocando uma amiga bêbada na minha cama.
Helena olhou para Marcelo com um sorriso quase cínico.
-- Você continua a mesma. Sempre com um porre por perto, não?
Olívia gelou quando ouviu a voz. Depois de ter presenciado um surto de sua amiga Nicole, a última coisa que ela queria era falar com sua irmã. E ainda mais com ela fazendo questão de mostrar seu território ao ligar do celular do marido. Só não tinha idéia de quais terrenos, exatamente, Helena sabia que tinham sido invadidos na noite anterior.
Leia o próximo em Mimeógrafo Digital
Marcelo nem tirou o roupão para dormir, assim que saiu do banho ele se deitou, completamente exausto. Horas depois, pulou, assustado, e se sentou na cama assim que percebeu uma mão nos seus cabelos.
-- Helena? O que você está fazendo aqui?
-- Eu moro aqui, lembra?
-- Mas você não voltaria só amanhã? Você me assustou. Aconteceu algo?
-- Tive saudades do meu marido e achei que esse era um bom motivo para voltar.
Helena mantinha o sorriso e a voz mansa deixando-o sem ação. Ele imaginava se ela sabia que tinha passado a noite com Olívia, se havia algo que o estava denunciando. Mas, aparentemente doce, ela estava impenetrável. Eles ficaram abraçados por um tempo, quietos, como se estivessem decidindo quais as rotas que utilizariam. Por um tempo, preferiram a das amenidades, falando sobre o congresso em Liverpool, sobre os amigos em comuns que estavam lá e outras bobagens. Até que Helena, cuidadosamente, foi ao ponto.
-- Você sabia que a Olívia está em Londres? Tentei tanto falar com ela mas não consegui. Será que ela está bem?
O papel da boa irmã não convencia Marcelo. Mas ele ainda não sabia o quanto ganharia em desmascará-la.
--Ela está de passagem por aqui. Estive com ela ontem, me pareceu bem.
Helena respirou fundo, não poderia deixar brechas para que ele lhe contasse algo indesejável.
-- Que bom. Parece que ela está se mudando para Dubai, não? Que loucura, mas é a cara dela. Nós poderíamos almoçar juntos amanhã, o que você acha?
Marcelo sentia seu pé próximo da armadilha. Mais um pouco diria toda a verdade. Vontade não faltava. Mas ele não queria magoar Helena, ainda mais com a gravidez.
-- Não sei se é uma boa idéia, ela parece que tem um monte de coisas para fazer por aqui antes de embarcar.
-- Não custa consultá-la, não acha?
Ela foi em direção ao criado-mudo e pegou o celular de Marcelo.
-- Você tem o número dela aqui? Eu só tenho no celular e a bateria acabou.
Ela não deu tempo para ele responder. Sabia que ele tinha o número gravado na memória. Da mesma forma que tinha certeza que aquele número ela atenderia.
-- Não é uma boa hora. Estou colocando uma amiga bêbada na minha cama.
Helena olhou para Marcelo com um sorriso quase cínico.
-- Você continua a mesma. Sempre com um porre por perto, não?
Olívia gelou quando ouviu a voz. Depois de ter presenciado um surto de sua amiga Nicole, a última coisa que ela queria era falar com sua irmã. E ainda mais com ela fazendo questão de mostrar seu território ao ligar do celular do marido. Só não tinha idéia de quais terrenos, exatamente, Helena sabia que tinham sido invadidos na noite anterior.
Leia o próximo em Mimeógrafo Digital
Quando é o homem que abre a boca..
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A dura vida na faixa de Gaza
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setembro 25, 2007
Um pouco de poesia
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My Ending
Alone now without much, kind of whitered
Once what I was unique, now doesn´t thrive.
Of the past, we were this constant solid energetics force, now drained.
But how, why could it be our ending?
I did wish for you till my end
This is my ending.
setembro 23, 2007
Isto não é para você -- XVII
(previously, leia Isto não é para você - XVI em Mimeografo Digital )
Olívia não contava com as férias e o grande número de turistas em Convent Garden. Decidiram se encontrar em um pequeno pub que ficava em uma travessa da Leicester Square. Ela foi caminhando até lá, um momento propício para tentar absorver todas as informações das últimas horas. O olhar de Marcelo lhe contando da gravidez de Helena lembrava Lennon, o vira-lata que foi o único cachorro que ela conseguiu ter na vida. Ainda na casa da Pompéia, onde ainda imaginava que por mais conflitos que houvesse ,um dia todos ririam daquilo em um Natal qualquer, como uma família feliz faria. Os olhos de Marcelo pediam clemência, como se desculpasse por aquele esperma mais esperto que fecundou sua irmã. Como se fizesse diferença.
A caminhada foi boa para Olívia entender que nem tudo poderia ser contado para Nicole. Ela era a típica californiana que só se perturbava se faltasse o baseado de quase todos os dias. Linda, loira, olhos azuis e cobiçada, só tinha de se preocupar em administrar o cara do momento. E ele já durava há algum tempo e foi por conta de Eduardo que Nicole viveu em tantos lugares, com a última parada em Londres, onde elas se conheceram. Olívia não queria nem pensar o que poderia ser o seu namorado em Dubai, já classificado por ela tantas vezes como alguém livre demais nesse mundo. Se Nicole dizia isso sobre ele, o que poderia imaginar? Não era nada com que ela quisesse se identificar naquele momento. "Pela hóstia, como diria Antônio', pensou.
Dubai começou a se apresentar mais para ela. Em dois dias desembarcaria lá para assumir um cargo de gerentezinha qualquer dentro de um organograma enorme do Grand Hiatt. Ela não tinha muito que reclamar, a política do hotel de incentivar seu corpo de gerentes a trocar de cidade, pelo menos a cada dois anos, tinha lhe proporcionado rodar um tanto. Ate seu periodo mais barra pesada, quando precisou de um tempo para se tratar, foi resolvido com um simples afastamento nao remunerado. Em Dubai era diferente, talvez porque poucos aceitassem. As condições financeiras eram melhores, o prazo era só de um ano, e ainda poderia morar na ala residencial, dentro do próprio hotel, regalia que não existia nos demais lugares por onde passou. A ânsia, ou ganância, de crescer naquela estrutura mais uma vez a remetia a Helena que seguiu seus passos no mundo da hotelaria. Ela queria ser a melhor, pelo menos nisso.
Nicole estava diferente, mais monocromática do que Olívia se lembrava. E mais madura. Tinha planos, o que quase a chocou. Mas, pensou, o mundo real poderia se apresentar a todos, como aconteceu com ela. Nicole pouco perguntou como ela estava, mas vibrava só de imaginar que em um mês as duas estariam juntas, novamente, em uma cidade nova e desconhecida.
__ Eduardo está adorando, a grana é muito boa e em menos de dois anos já teremos condições de ter alguma coisa nossa, talvez em San Diego.
Ele trabalhava no club do Dubai Marine Beach Resort, mas morava próximo ao Grand Hiatt, o que as tornava quase vizinhas, dizia Nicole. Ela tinha acabado de voltar de lá, para fechar o apartamento em Londres e ainda estabelecer alguns contatos que talvez a ajudassem a trabalhar em Dubai como webdesign.
__ Está tudo acontecendo lá. Você vai adorar.
Olívia tinha dúvidas do quanto poderia gostar, só sabia que já era um caminho sem volta. E não se convencia nem com o entusiasmo da amiga. Também não tinha certeza de que pessoa desiludida podia ter se transformado.
(Leia o proximo em Por Uma Second Life menos Ordinaria)
Olívia não contava com as férias e o grande número de turistas em Convent Garden. Decidiram se encontrar em um pequeno pub que ficava em uma travessa da Leicester Square. Ela foi caminhando até lá, um momento propício para tentar absorver todas as informações das últimas horas. O olhar de Marcelo lhe contando da gravidez de Helena lembrava Lennon, o vira-lata que foi o único cachorro que ela conseguiu ter na vida. Ainda na casa da Pompéia, onde ainda imaginava que por mais conflitos que houvesse ,um dia todos ririam daquilo em um Natal qualquer, como uma família feliz faria. Os olhos de Marcelo pediam clemência, como se desculpasse por aquele esperma mais esperto que fecundou sua irmã. Como se fizesse diferença.
A caminhada foi boa para Olívia entender que nem tudo poderia ser contado para Nicole. Ela era a típica californiana que só se perturbava se faltasse o baseado de quase todos os dias. Linda, loira, olhos azuis e cobiçada, só tinha de se preocupar em administrar o cara do momento. E ele já durava há algum tempo e foi por conta de Eduardo que Nicole viveu em tantos lugares, com a última parada em Londres, onde elas se conheceram. Olívia não queria nem pensar o que poderia ser o seu namorado em Dubai, já classificado por ela tantas vezes como alguém livre demais nesse mundo. Se Nicole dizia isso sobre ele, o que poderia imaginar? Não era nada com que ela quisesse se identificar naquele momento. "Pela hóstia, como diria Antônio', pensou.
Dubai começou a se apresentar mais para ela. Em dois dias desembarcaria lá para assumir um cargo de gerentezinha qualquer dentro de um organograma enorme do Grand Hiatt. Ela não tinha muito que reclamar, a política do hotel de incentivar seu corpo de gerentes a trocar de cidade, pelo menos a cada dois anos, tinha lhe proporcionado rodar um tanto. Ate seu periodo mais barra pesada, quando precisou de um tempo para se tratar, foi resolvido com um simples afastamento nao remunerado. Em Dubai era diferente, talvez porque poucos aceitassem. As condições financeiras eram melhores, o prazo era só de um ano, e ainda poderia morar na ala residencial, dentro do próprio hotel, regalia que não existia nos demais lugares por onde passou. A ânsia, ou ganância, de crescer naquela estrutura mais uma vez a remetia a Helena que seguiu seus passos no mundo da hotelaria. Ela queria ser a melhor, pelo menos nisso.
Nicole estava diferente, mais monocromática do que Olívia se lembrava. E mais madura. Tinha planos, o que quase a chocou. Mas, pensou, o mundo real poderia se apresentar a todos, como aconteceu com ela. Nicole pouco perguntou como ela estava, mas vibrava só de imaginar que em um mês as duas estariam juntas, novamente, em uma cidade nova e desconhecida.
__ Eduardo está adorando, a grana é muito boa e em menos de dois anos já teremos condições de ter alguma coisa nossa, talvez em San Diego.
Ele trabalhava no club do Dubai Marine Beach Resort, mas morava próximo ao Grand Hiatt, o que as tornava quase vizinhas, dizia Nicole. Ela tinha acabado de voltar de lá, para fechar o apartamento em Londres e ainda estabelecer alguns contatos que talvez a ajudassem a trabalhar em Dubai como webdesign.
__ Está tudo acontecendo lá. Você vai adorar.
Olívia tinha dúvidas do quanto poderia gostar, só sabia que já era um caminho sem volta. E não se convencia nem com o entusiasmo da amiga. Também não tinha certeza de que pessoa desiludida podia ter se transformado.
(Leia o proximo em Por Uma Second Life menos Ordinaria)
U2 - Electrical Storm
Já que não chove, vamos às tempestades elétricas para começar a semana. E com Larry Mullen Jr, precisamos de algo mais?
Cidade limpa, mas sem memória?
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O universo toma conta...
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setembro 22, 2007
Primavera, primavera....
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setembro 21, 2007
Isto não é para você - XIV
(previsouly, leia Isto não é para você - XIII em Mimeógrafo Digital )
-- Porra !
A garconete apenas deu um olhar indiferente, como se estivesse acostumada a ouvir expressões tão particulares de seus clientes que não valeria a pena saber do que se tratava. Mas Eduardo precisava daquilo. Ele precisava ofender em português, suspirar em português, amar em português. Há quanto tempo não falava seu próprio idioma. Ele estava se amaldiçoando por estar naquela falsidade do saguão do Concorde, que procurava simular o glamour dos grandes hotéis europeus, como se pudesse lhes tirar o DNA por insistência.
A mulher da mesa ao lado tentava ser discreta em suas insinuações mas as tantas vezes que jogou seu cabelo de um lado para o outro eram reveladoras. Eduardo aprendeu com o tempo que exercia um certo fascínio mas não acreditava ser possível que algo de interessante pudesse surgir dessas situações. Mas também tinha consciência do quanto ele mudou nos últimos anos, com as camisetas de bandas de rock sendo substituídas por modelos de grifes alternativas, os cabelos que permaneceram na linha dos ombros, nunca menos que isso, mas muito melhor tratados, a barba quase sempre por fazer, mas nunca desalinhadas. Apesar da estatura média, seus olhos azuis sobre a pela morena faziam com que se destacasse. Mas tudo isso era superficial para ele, exceto o fato de que, agora, tinha sucumbido a tudo que havia renegado nos últimos anos, decidir algo pelo dinheiro e não pelo prazer do que fazia.
Eduardo sabia que era preciso ir embora. Andarilho, já tinha passado temporadas em vários lugares do mundo, mas nunca tinha sentido que estivesse tão longe das coisas que apreciava. Isso sem falar de suas raízes, cada vez mais enterradas em espaço desconhecido. Aquele lugar o oprimia, era como se existisse uma grande barreira, de difícil travessia, que o impedisse de ver o outro lado. E a cada momento que se lembrava de onde gostaria de estar, podia visualizar esse muro marcando bem a distância.
Paul demorava a chegar. Ele tinha sido o grande responsável por convencer Eduardo a assumir o cargo de DJ principal de uma das maiores casas noturnas de Dubai. Aliás, ele sempre esteve presente em todos os momentos de viradas na vida dele, incentivando-o, propondo-lhe novos caminhos. Era como se fosse um bote salva-vidas à mão quando precisasse.
Eduardo ainda não tinha conversado com ninguém sobre sua vontade de largar tudo. Muito menos com Nicole. Ela estava estranha, cada dia mais diferente daquela companheira de tantas aventuras. E não era algo tão distante assim,a alegria com que os dois pegavam ondas em Maui, a chegada ao Atacama, as tardes sonolentas em Trancoso, a transa no final da tarde em Kapari. Tantas lembranças que o prendiam, irremediavelmente, a ela.
Eduardo sabia também que não havia muito o que reclamar. Com 32 anos recém completados, já tinha conquistado muito mais do que tinha imaginado. Só não ficou rico, mas esse nem era seu plano. Quando deixou São Paulo, sabia que sua alegria estaria em duas coisas, na música e na possibilidade de viver ao sabor do vento. O que não esperava era que elas se conjugassem e pudesse armazenar em algum lugar o que precisava para, logo em seguida, desfrutar em outro. Era um nômade.
Agora, se sentia preso a uma armadilha. Estava em uma cidade em permanente construção enquanto sentia falta de percorrer caminhos conhecidos, reconhecidos e saboreados. Não seria ele um piloto de testes para ser seguido por uma série de imitações bem feitas e compradas. Mas Nicole dava mostras de que estava muito bem adaptada, que seria bom acumular, ter patrimônios , vínculos. Quando a conheceu, em San Diego, Eduardo tinha certeza de que ela jamais seguiria o padrão de sua família. Mas, agora, tinha dúvidas. Mesmo com a certeza de que viveria ao lado dela até o fim, seja lá qual fosse o fim, não conseguia reunir coragem suficiente para confessar a sua insatisfação com o que ela começava a considerar um mundo perfeito.
Leia o próximo em Por uma Second Life menos ordinária
-- Porra !
A garconete apenas deu um olhar indiferente, como se estivesse acostumada a ouvir expressões tão particulares de seus clientes que não valeria a pena saber do que se tratava. Mas Eduardo precisava daquilo. Ele precisava ofender em português, suspirar em português, amar em português. Há quanto tempo não falava seu próprio idioma. Ele estava se amaldiçoando por estar naquela falsidade do saguão do Concorde, que procurava simular o glamour dos grandes hotéis europeus, como se pudesse lhes tirar o DNA por insistência.
A mulher da mesa ao lado tentava ser discreta em suas insinuações mas as tantas vezes que jogou seu cabelo de um lado para o outro eram reveladoras. Eduardo aprendeu com o tempo que exercia um certo fascínio mas não acreditava ser possível que algo de interessante pudesse surgir dessas situações. Mas também tinha consciência do quanto ele mudou nos últimos anos, com as camisetas de bandas de rock sendo substituídas por modelos de grifes alternativas, os cabelos que permaneceram na linha dos ombros, nunca menos que isso, mas muito melhor tratados, a barba quase sempre por fazer, mas nunca desalinhadas. Apesar da estatura média, seus olhos azuis sobre a pela morena faziam com que se destacasse. Mas tudo isso era superficial para ele, exceto o fato de que, agora, tinha sucumbido a tudo que havia renegado nos últimos anos, decidir algo pelo dinheiro e não pelo prazer do que fazia.
Eduardo sabia que era preciso ir embora. Andarilho, já tinha passado temporadas em vários lugares do mundo, mas nunca tinha sentido que estivesse tão longe das coisas que apreciava. Isso sem falar de suas raízes, cada vez mais enterradas em espaço desconhecido. Aquele lugar o oprimia, era como se existisse uma grande barreira, de difícil travessia, que o impedisse de ver o outro lado. E a cada momento que se lembrava de onde gostaria de estar, podia visualizar esse muro marcando bem a distância.
Paul demorava a chegar. Ele tinha sido o grande responsável por convencer Eduardo a assumir o cargo de DJ principal de uma das maiores casas noturnas de Dubai. Aliás, ele sempre esteve presente em todos os momentos de viradas na vida dele, incentivando-o, propondo-lhe novos caminhos. Era como se fosse um bote salva-vidas à mão quando precisasse.
Eduardo ainda não tinha conversado com ninguém sobre sua vontade de largar tudo. Muito menos com Nicole. Ela estava estranha, cada dia mais diferente daquela companheira de tantas aventuras. E não era algo tão distante assim,a alegria com que os dois pegavam ondas em Maui, a chegada ao Atacama, as tardes sonolentas em Trancoso, a transa no final da tarde em Kapari. Tantas lembranças que o prendiam, irremediavelmente, a ela.
Eduardo sabia também que não havia muito o que reclamar. Com 32 anos recém completados, já tinha conquistado muito mais do que tinha imaginado. Só não ficou rico, mas esse nem era seu plano. Quando deixou São Paulo, sabia que sua alegria estaria em duas coisas, na música e na possibilidade de viver ao sabor do vento. O que não esperava era que elas se conjugassem e pudesse armazenar em algum lugar o que precisava para, logo em seguida, desfrutar em outro. Era um nômade.
Agora, se sentia preso a uma armadilha. Estava em uma cidade em permanente construção enquanto sentia falta de percorrer caminhos conhecidos, reconhecidos e saboreados. Não seria ele um piloto de testes para ser seguido por uma série de imitações bem feitas e compradas. Mas Nicole dava mostras de que estava muito bem adaptada, que seria bom acumular, ter patrimônios , vínculos. Quando a conheceu, em San Diego, Eduardo tinha certeza de que ela jamais seguiria o padrão de sua família. Mas, agora, tinha dúvidas. Mesmo com a certeza de que viveria ao lado dela até o fim, seja lá qual fosse o fim, não conseguia reunir coragem suficiente para confessar a sua insatisfação com o que ela começava a considerar um mundo perfeito.
Leia o próximo em Por uma Second Life menos ordinária
setembro 19, 2007
Isto não é para você - X
(previously, leia Isto não é para você - IX )
-- Londres? Olívia está em Londres?
O celular quase caiu de mão de Helena como se tivesse lhe dado um choque. Ela mal percebeu que havia elevado sua voz e muito menos os olhares trocados entre os que tomavam café no saguão do hotel.
-- Antônio, desde quando ela está lá?
Não precisou muito mais tempo para que Helena entendesse a falta de mensagens, a caixa postal do celular...a areia movediça. Ela procurou encerrar a conversa rapidamente com o irmão, já não havia muito que ela ainda quisesse saber...Dubai, mudança, novo trabalho? Tudo isso soava muito desinteressante. Ela não queria saber os planos do futuro de Olívia, só queria saber com quem ela estava agora.
"Não faça nenhuma bobagem". O que Antônio queria dizer com isso? A especialidade dele parecia ser a de usar cada vez menos palavras para irritá-la. Em pouco tempo, com um simples oi ela pularia no pescoço dele. Helena se deu conta de que ele sempre falou com ela como se a estivesse alertando de que algum tipo de demônio estava pousando na sua cabeça. E sempre a provocou a favor de Olívia, claro. Ela sabia que tinha perdido a afeição do irmão em algum momento e nunca mais a recuperaria. Nem o fato de saber que ela era a sua única e verdadeira irmã mudou a situação. Isso ela dificilmente perdoaria.
Marcelo não atendia nem o telefone de casa e muito menos o celular. Helena ligou para Richard, um colega de trabalho dele que de vez em quando o apanhava nos sábados à tarde para ir ao pub que ficava a duas quadras de onde moravam. Não, ele não sabia muita coisa, a não ser que Marcelo havia saído mais cedo no dia anterior. Richard se preocupou e estava disposto a ir até ao prédio deles. Helena achou que não era o caso, iria esperar mais um pouco.
Aliás, esperar tornou-se a sua grande virtude, pensou. Para obter afeto ela sempre precisou se esforçar mais que os outros, trilhar várias rotas alternativas e até estabelecer algum tipo de negociação. Mas não havia o que lamentar, ela sabia disso. A máscara que foi obrigada a usar serviu muito bem para conquistar tudo que desejou. Uma carreira, sucesso, uma situação financeira relativamente tranquila e, claro, Marcelo. E ela não abriria mão de nada disso.
Leia a continuação em Mimeógrafo Digital.
-- Londres? Olívia está em Londres?
O celular quase caiu de mão de Helena como se tivesse lhe dado um choque. Ela mal percebeu que havia elevado sua voz e muito menos os olhares trocados entre os que tomavam café no saguão do hotel.
-- Antônio, desde quando ela está lá?
Não precisou muito mais tempo para que Helena entendesse a falta de mensagens, a caixa postal do celular...a areia movediça. Ela procurou encerrar a conversa rapidamente com o irmão, já não havia muito que ela ainda quisesse saber...Dubai, mudança, novo trabalho? Tudo isso soava muito desinteressante. Ela não queria saber os planos do futuro de Olívia, só queria saber com quem ela estava agora.
"Não faça nenhuma bobagem". O que Antônio queria dizer com isso? A especialidade dele parecia ser a de usar cada vez menos palavras para irritá-la. Em pouco tempo, com um simples oi ela pularia no pescoço dele. Helena se deu conta de que ele sempre falou com ela como se a estivesse alertando de que algum tipo de demônio estava pousando na sua cabeça. E sempre a provocou a favor de Olívia, claro. Ela sabia que tinha perdido a afeição do irmão em algum momento e nunca mais a recuperaria. Nem o fato de saber que ela era a sua única e verdadeira irmã mudou a situação. Isso ela dificilmente perdoaria.
Marcelo não atendia nem o telefone de casa e muito menos o celular. Helena ligou para Richard, um colega de trabalho dele que de vez em quando o apanhava nos sábados à tarde para ir ao pub que ficava a duas quadras de onde moravam. Não, ele não sabia muita coisa, a não ser que Marcelo havia saído mais cedo no dia anterior. Richard se preocupou e estava disposto a ir até ao prédio deles. Helena achou que não era o caso, iria esperar mais um pouco.
Aliás, esperar tornou-se a sua grande virtude, pensou. Para obter afeto ela sempre precisou se esforçar mais que os outros, trilhar várias rotas alternativas e até estabelecer algum tipo de negociação. Mas não havia o que lamentar, ela sabia disso. A máscara que foi obrigada a usar serviu muito bem para conquistar tudo que desejou. Uma carreira, sucesso, uma situação financeira relativamente tranquila e, claro, Marcelo. E ela não abriria mão de nada disso.
Leia a continuação em Mimeógrafo Digital.
setembro 18, 2007
O balzaquiano Never Mind The Bollocks
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Isto não é para você -- VII
(previously, leia Isto Não é Para Você -- VI em Por uma Second Life Menos Ordinária)
-- O que te fez ficar?
Marcelo sentiu a provocação. Sabia que se caísse nada mais o tiraria daquele lodo. Teria de admitir sua fraqueza, escancarar o fato de que não havia um controle sequer que funcionasse em perfeita ordem quando estava perto dela. Não, era melhor ainda ter uma área de escape, por mais frágil que ela fosse. Por mais que a noite o desmentisse.
-- Esse cappucino foi o mais parecido que eu achei com o do Vergnano.
Ele não podia escolher uma forma melhor de desarmá-la. Todas as tardes que eles passaram por aquele café na Charing Cross, quando ela não cansava de dizer como gostava daquele lugar, quase com uma alegria infantil. E ele trazia aquela leveza de volta, como se fosse possível voltar no tempo. Sim, ela tinha consciência do quanto tinha feito aquele homem sofrer. Mas também sabia que pagou um preço muito alto por isso e que, agora, de nada adiantaria cobrar essa conta. Eles estavam tristemente empatados. Ela não conseguiu conter as lágrimas.
-- Não, Olívia, por favor. Não chore.
-- O que fizemos com as nossas vidas?
-- Nós seguimos em frente. Não era isso que tinha de ser feito?
Olívia sabia que nenhum dos dois podia falar, com certeza, que tinham seguido em frente.
Ela se lembrou do casamento dele com Helena. Ninguém esperava que ela comparecesse. Logo após ter deixado a clínica, ela foi para Salvador, onde passou dois meses morando com amigos. Mas fez questão de voltar para a cerimônia. Precisava ter certeza de que aquilo, realmente, estava acontecendo.
Sua mãe tentou impedi-la de entrar na festa, alegando que Helena não se sentiria bem. Seu pai defendeu sua presença com o argumento quase piegas de que se os noivos tinham escolhido esse caminho teriam de conviver com todos os que faziam parte daquela família. E Olívia fazia parte. Era engraçado imaginar que isso era algo que precisasse ser lembrado para aquela mulher que a criou como sendo sua mãe. Mas era necessário lembrar inclusive para ela mesma.
Marcelo empalideceu quando a viu. Quando seus olhos se cruzaram, tudo pareceu ter parado em volta. Não havia mais som, não havia mais pessoas falando, não havia mais crianças brincando. Eram só os dois. Olívia tinha a impressão de que se estendesse sua mão ele a seguiria. Por um momento, imaginou o que seria aquilo. Mas, por mais raiva que sentisse da traição da irmã, não conseguia lhe desejar tamanho constrangimento em sua própria festa de casamento. Ela reuniu todas as forças que ainda possuía e foi até aos noivos cumprimentá-los. Completamente destruída e querendo que um avião caísse naquele lugar, mas foi.
Helena não conseguiu dizer uma palavra sequer e Olívia podia sentir o ódio dela pulsando nas veias. Principalmente pelo fato de que, pelo menos uma vez na vida, ela havia conseguido simular o papel da personagem perfeita que ela tinha representado tão bem durante todos aqueles anos. E, uma vez na vida, ela conseguiu que ela ficasse nua, exposta em toda a sua ardileza. Sem alarde e sem que ninguém mais precisasses ficar sabendo. Só as duas.
(acompanhe o próximo em Mimeógrafo Digital)
-- O que te fez ficar?
Marcelo sentiu a provocação. Sabia que se caísse nada mais o tiraria daquele lodo. Teria de admitir sua fraqueza, escancarar o fato de que não havia um controle sequer que funcionasse em perfeita ordem quando estava perto dela. Não, era melhor ainda ter uma área de escape, por mais frágil que ela fosse. Por mais que a noite o desmentisse.
-- Esse cappucino foi o mais parecido que eu achei com o do Vergnano.
Ele não podia escolher uma forma melhor de desarmá-la. Todas as tardes que eles passaram por aquele café na Charing Cross, quando ela não cansava de dizer como gostava daquele lugar, quase com uma alegria infantil. E ele trazia aquela leveza de volta, como se fosse possível voltar no tempo. Sim, ela tinha consciência do quanto tinha feito aquele homem sofrer. Mas também sabia que pagou um preço muito alto por isso e que, agora, de nada adiantaria cobrar essa conta. Eles estavam tristemente empatados. Ela não conseguiu conter as lágrimas.
-- Não, Olívia, por favor. Não chore.
-- O que fizemos com as nossas vidas?
-- Nós seguimos em frente. Não era isso que tinha de ser feito?
Olívia sabia que nenhum dos dois podia falar, com certeza, que tinham seguido em frente.
Ela se lembrou do casamento dele com Helena. Ninguém esperava que ela comparecesse. Logo após ter deixado a clínica, ela foi para Salvador, onde passou dois meses morando com amigos. Mas fez questão de voltar para a cerimônia. Precisava ter certeza de que aquilo, realmente, estava acontecendo.
Sua mãe tentou impedi-la de entrar na festa, alegando que Helena não se sentiria bem. Seu pai defendeu sua presença com o argumento quase piegas de que se os noivos tinham escolhido esse caminho teriam de conviver com todos os que faziam parte daquela família. E Olívia fazia parte. Era engraçado imaginar que isso era algo que precisasse ser lembrado para aquela mulher que a criou como sendo sua mãe. Mas era necessário lembrar inclusive para ela mesma.
Marcelo empalideceu quando a viu. Quando seus olhos se cruzaram, tudo pareceu ter parado em volta. Não havia mais som, não havia mais pessoas falando, não havia mais crianças brincando. Eram só os dois. Olívia tinha a impressão de que se estendesse sua mão ele a seguiria. Por um momento, imaginou o que seria aquilo. Mas, por mais raiva que sentisse da traição da irmã, não conseguia lhe desejar tamanho constrangimento em sua própria festa de casamento. Ela reuniu todas as forças que ainda possuía e foi até aos noivos cumprimentá-los. Completamente destruída e querendo que um avião caísse naquele lugar, mas foi.
Helena não conseguiu dizer uma palavra sequer e Olívia podia sentir o ódio dela pulsando nas veias. Principalmente pelo fato de que, pelo menos uma vez na vida, ela havia conseguido simular o papel da personagem perfeita que ela tinha representado tão bem durante todos aqueles anos. E, uma vez na vida, ela conseguiu que ela ficasse nua, exposta em toda a sua ardileza. Sem alarde e sem que ninguém mais precisasses ficar sabendo. Só as duas.
(acompanhe o próximo em Mimeógrafo Digital)
setembro 16, 2007
O olhar de Meirelles sobre a cegueira
Para provar que há muitas coisas boas nesse blogomundo, está aí o Fernando Meirelles
que não me deixa mentir. Ele criou um blog, o Blindness, onde compartilha conosco, reles mortais, o seu dia-a-dia nas filmagens de Ensaio sobre a Cegueira, do Saramago. Como está no meio do turbilhão das filmagens, ele não é muito assíduo nos posts, mas sempre tem observações interessantes. E com um jeito claro e direto de falar, sem firulas. Aliás, como seus filmes. Ele conta da sua ansiedade quando encontrou Saramago, em Lisboa, para discutir o filme. Um encontro no Farta Brutos, um dos restaurantes preferidos do escritor e que, como ele diz, faz juz ao nome. E fala da angústia da Juliane Moore quando ela soube que teria de gravar de cara a cena que ela presencia o estupro de 12 mulheres e mata dois dos estupradores, sem repassar a cena antes. E também discute o que é carisma, contando de como a presença da Sandra Oh, a japonesa de Grey's Anatomy, é forte e chama a atenção de todos à sua volta. E, claro, da própria Juliane, que compõe a iluminação com seu próprio brilho. Mas o mais engraçado é o jeito dele, sem qualquer estrelismo e até chegando ao ponto de perguntar se ele poderia chamar a Juliane Moore de July, como todos fazem. Vale a pena conferir. Vc já fica torcendo para que ele encontre tempo para escrever mais.
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Falar, falar, falar....
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Isto não é para você -- V
Eles falaram amenidades no caminho até Bayswater onde Olívia havia feito reserva em um pequeno hotel. O susto dos atentados terroristas, o novo apartamento para onde ele e Helena se mudaram, a visita de Antônio, três meses antes. Nada que a fizesse sentir se ele, realmente, ainda a queria. Será que ele conseguiria esquecer Helena por uns dias e se jogar nos seus braços, como fez infinitas vezes antes que tudo desmoronasse e quando ele era dela, só dela? E ela? Aceitaria mais uma vez o papel de irresponsável e egoísta deixando a versão vítima ser utilizada, novamente, pela sua queridinha irmã?
Olívia se irritava só de lembrar o quanto Helena se aproximou de Marcelo, sempre pronta a consolá-lo e a ajudá-lo a fechar as feridas deixadas pelas loucuras da irmã. Para ela, só restavam acusações. Mas isso não era novidade. Não esteve ao seu lado nem mesmo quando ela descobriu a sua verdadeira origem e teve uma crise de depressão sem precedentes. Helena, aparentemente, exercia o papel de irmã perfeita e se solidarizava com sua dor, mas assim que as cortinas se fechavam mantinha um frio distanciamento que machucava ainda mais Olívia. E, nesses momentos, fazia questão de lembrar porque sempre fora a filha favorita -- e depois soube-se a única -- de sua mãe. Foram meses difíceis para Olívia, que não conseguia enxergar nem mesmo o apoio incondicional dado pelo seu pai e por Antônio. Se não conseguia ver nada naquela época, depois tudo ficou ainda mais nublado com as drogas e o álcool. Nem mesmo sobre o amor por Marcelo houve clareza.
Marcelo conseguiu uma vaga para estacionar seu carro quase dois quarteirões depois do hotel. Ele pegou a pequena mala que Olívia havia reservado para os dias em Londres e a acompanhou até a recepção, ainda sem dar mostras se ficaria com ela, ou não. Olívia sabia que tinha preparado uma armadilha e mesmo com a justificativa de que precisava disso para resolver, de uma vez por todas, aquela história, não se sentia bem. Havia um toque perigoso de vingança que poderia colocar tudo a perder. E, como costumava dizer seu pai, vingança não é um prato que se serve frio ou quente, simplesmente não deve ser servido. Um dia ela acreditaria nisso, pensou.
Isto não é para você - I e III --O Quem
Isto não é para você -- II, IV e a continuação deste em Por uma Second Life Menos Ordinária
Olívia se irritava só de lembrar o quanto Helena se aproximou de Marcelo, sempre pronta a consolá-lo e a ajudá-lo a fechar as feridas deixadas pelas loucuras da irmã. Para ela, só restavam acusações. Mas isso não era novidade. Não esteve ao seu lado nem mesmo quando ela descobriu a sua verdadeira origem e teve uma crise de depressão sem precedentes. Helena, aparentemente, exercia o papel de irmã perfeita e se solidarizava com sua dor, mas assim que as cortinas se fechavam mantinha um frio distanciamento que machucava ainda mais Olívia. E, nesses momentos, fazia questão de lembrar porque sempre fora a filha favorita -- e depois soube-se a única -- de sua mãe. Foram meses difíceis para Olívia, que não conseguia enxergar nem mesmo o apoio incondicional dado pelo seu pai e por Antônio. Se não conseguia ver nada naquela época, depois tudo ficou ainda mais nublado com as drogas e o álcool. Nem mesmo sobre o amor por Marcelo houve clareza.
Marcelo conseguiu uma vaga para estacionar seu carro quase dois quarteirões depois do hotel. Ele pegou a pequena mala que Olívia havia reservado para os dias em Londres e a acompanhou até a recepção, ainda sem dar mostras se ficaria com ela, ou não. Olívia sabia que tinha preparado uma armadilha e mesmo com a justificativa de que precisava disso para resolver, de uma vez por todas, aquela história, não se sentia bem. Havia um toque perigoso de vingança que poderia colocar tudo a perder. E, como costumava dizer seu pai, vingança não é um prato que se serve frio ou quente, simplesmente não deve ser servido. Um dia ela acreditaria nisso, pensou.
Isto não é para você - I e III --O Quem
Isto não é para você -- II, IV e a continuação deste em Por uma Second Life Menos Ordinária
setembro 15, 2007
Isto não é para você -- III
O portão de desembarque de um aeroporto, principalmente internacional, sempre pareceu a Olívia uma panela de água fervente onde alguns tentam se jogar e outros escapar. Muitas energias contrastando a uma temperatura muito elevada, muita gente falando ao mesmo tempo. Ela ainda estava zonza das onze horas de vôo da viagem e com a habitual ressaca que o Dramin lhe cobrava depois de ter lhe proporcionado um sono imediato e duradouro. Sempre preferiu tomar um comprimido de Dramim ao de Lexotan.
O que aquele cara da imigração tentou lhe dizer sobre seu bilhete aéreo? Não entendeu nada e como foi liberada em seguida decidiu nem perguntar o que era. Provavelmente ela não entenderia a segunda vez mesmo. Olívia resolveu se afastar daqueles reencontros e expectativas que rondavam aquele saguão e fumar um cigarro lá fora. Aquele aeroporto não trazia boas lembranças. Da última vez, nunca os minutos demoraram tanto para passar até que, finalmente, a porta do avião fosse trancada e ela se distanciasse de tudo. E, pior, agora ela estava de volta.
Retornou para dentro do aeroporto empurrando seu carrinho de bagagens lenta e distraídamente. Nem percebeu que alguém se aproximava e só notou quando sentiu a mão no seu braço. Ela gelou.
-- Onde você foi? Estava te procurando.
Marcelo tinha engordado um pouco, seu cabelo começava a ficar grisalho e alguns sinais já marcavam seus olhos. E nem fazia tanto tempo assim que não se viam. Mas continuava dono de uma beleza massacrante, pensou Olívia. Era dele, apenas dele, que ela sentia vergonha e arrependimento por tudo que tinha acontecido. E ele também era um dos fortes motivos pelo qual ela não conseguia deixar de odiar o mundo perfeito de Helena.
Isto não é para você - I -- O quem
Isto não é para você -- II e a continuação deste no Por uma Second Life Menos Ordinária.
O que aquele cara da imigração tentou lhe dizer sobre seu bilhete aéreo? Não entendeu nada e como foi liberada em seguida decidiu nem perguntar o que era. Provavelmente ela não entenderia a segunda vez mesmo. Olívia resolveu se afastar daqueles reencontros e expectativas que rondavam aquele saguão e fumar um cigarro lá fora. Aquele aeroporto não trazia boas lembranças. Da última vez, nunca os minutos demoraram tanto para passar até que, finalmente, a porta do avião fosse trancada e ela se distanciasse de tudo. E, pior, agora ela estava de volta.
Retornou para dentro do aeroporto empurrando seu carrinho de bagagens lenta e distraídamente. Nem percebeu que alguém se aproximava e só notou quando sentiu a mão no seu braço. Ela gelou.
-- Onde você foi? Estava te procurando.
Marcelo tinha engordado um pouco, seu cabelo começava a ficar grisalho e alguns sinais já marcavam seus olhos. E nem fazia tanto tempo assim que não se viam. Mas continuava dono de uma beleza massacrante, pensou Olívia. Era dele, apenas dele, que ela sentia vergonha e arrependimento por tudo que tinha acontecido. E ele também era um dos fortes motivos pelo qual ela não conseguia deixar de odiar o mundo perfeito de Helena.
Isto não é para você - I -- O quem
Isto não é para você -- II e a continuação deste no Por uma Second Life Menos Ordinária.
setembro 14, 2007
25 minutes to go
Vale só para ilustrar, com a legenda. O vídeo nãlo é dos melhores. É o PJ cantando 25 minutes to go do Johnny Cash.
Isto não é para você - I
Olívia deu um grito a hora que ouviu os passarinhos cantando próximos de sua janela. Não, não podia estar amanhecendo. Toda aquela festa lá fora só a enfurecia e sua vontade era ter um estilingue na mão. Não tinha dormido um minuto sequer naquela noite e o despertador já programado para as oitos horas continuava trabalhando, completamente alheio ao seu desespero. Ela até que foi para a cama relativamente cedo, não eram nem 11 horas. Mas passou o tempo dividida entre ver qualquer bobagem na televisão, ler hora uma revista, outra um livro que já a acompanhava há uma semana, e levantar diversas vezes para pegar coisas que tinha esquecido de colocar na mala.
Se não tinha dormido, agora é que não correria o risco de desmaiar na cama e perder a hora. Uma coisa que funcionava perfeitamente nela era a sua impontualidade. Mas também considerava que chegar duas horas antes no aeroporto era uma daquelas exigências que as companhias aéreas gostam de fazer para serem burladas. E se todos chegassem ao mesmo tempo? Ninguém daria conta. Ela pensava essa e outros tipos de bobagens para não encarar seu medo.
"25 minutes to go'. A música veio na sua cabeça. Claro, não poderia ser outra. A letra sempre a impressionou, com Johnny Cash cantando e contando retroativamente, minuto por minuto, a agonia de um condenado que ainda aguarda por clemência. Seus 25 minutos finais. Até que, claro, ele goooooooo. E ela não queria gooooo. Porque, afinal, ela concordou com aquela viagem? Levantou, conferiu de novo o passaporte e o cartão de crédito, e foi tomar um banho ainda com a esperança de que a água levasse um pouco daquela ansiedade pelo ralo.
Continua em Por uma Second Life Menos Ordinária
Se não tinha dormido, agora é que não correria o risco de desmaiar na cama e perder a hora. Uma coisa que funcionava perfeitamente nela era a sua impontualidade. Mas também considerava que chegar duas horas antes no aeroporto era uma daquelas exigências que as companhias aéreas gostam de fazer para serem burladas. E se todos chegassem ao mesmo tempo? Ninguém daria conta. Ela pensava essa e outros tipos de bobagens para não encarar seu medo.
"25 minutes to go'. A música veio na sua cabeça. Claro, não poderia ser outra. A letra sempre a impressionou, com Johnny Cash cantando e contando retroativamente, minuto por minuto, a agonia de um condenado que ainda aguarda por clemência. Seus 25 minutos finais. Até que, claro, ele goooooooo. E ela não queria gooooo. Porque, afinal, ela concordou com aquela viagem? Levantou, conferiu de novo o passaporte e o cartão de crédito, e foi tomar um banho ainda com a esperança de que a água levasse um pouco daquela ansiedade pelo ralo.
Continua em Por uma Second Life Menos Ordinária
setembro 13, 2007
Sim, a novela vai começar.
Era tudo que eu temia. Chegou, enfim, o momento de dar início aquela troca que propus aqui há algum tempo e só uma alma perturbada como o Redneck poderia aceitar. Ou seja, vamos começar a escrever algo, juntos, que não temos a mínima idéia do que poderá ser chamado no seu final.
Se é que haverá final. Em breve, teremos o primeiro post e a história poderá ser acompanhada tanto aqui quanto no blog Por Uma Second Life Menos Ordinária. Até segunda ordem, a dele, o título é Isto não é para você. Antes de mais nada eu, Patty, rogo pela boa vontade de vocês, caros leitores, porque é óbvio que nesse processo a minha atração por clichês ficará evidente e serei massacrada pelo devastador gênio Redneck que, provavelmente, vai destruir todos os castelos que eu criar. E com a rudeza que lhe é característica, recheado de boa literatura. Por favor, me avisem quando perceberem que eu estou totalmente desorientada. É claro que vocês notarão o quão lenta eu poderei ser em contraste com a compulsão do meu companheiro de empreitada. Talvez até ele mesmo perca a paciência antes de vocês e daí eu já terei sucumbido bem antes. Mas, tentativa e erro, lá vamos nós.
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O grande Firewall da China caiu. Então façamos uma torre no lugar.
Nada contra a China ou os chineses. Mas às vezes aquele país me dá a impressão de que o próprio ar já gera, desordenamente e enlouquecidamente, milhões de gremlis que adoram andar de bicicleta.
E cada coisa que sai dali, nossa. As que ficamos sabendo, claro. Agora, o governo daquele país de doidinhos tem um problema nas mãos: o grande firewall da china foi desmascarado. Até ontem, todos acreditavam piamente que toda a comunicação digital no país era censurada e bloqueada pelos governantes. Mas sempre tem aquele chato que vai testar. E foi assim que pesquisadores das universidades da Califórnia e do Novo México concluíram que o sistema de censura é mais uma propaganda enganosa do governo, para incutir o medo, do que exatamente um sistema eficiente de bloqueio. Na verdade, é censura por filtragem de palavras, não por firewall. Escrevam à vontade, se manifestem..Mas, sem a grande muralha digital, o que resta fazer? Construir uma Torre Eiffel. E foi assim que uma empreiteira chinesa deu início à construção de uma réplica da torre no bairro de Tianducheng, em Xangai. Ela vai ter 108 metros de altura e ficará próxima à réplica do Arco do Triunfo. Isso mesmo, isso já tem lá no tal "bairro francês". E o governo já anunciou que vai construir bairros tipicamente italianos e alemães. Ou seja, vão colocar um Coliseu próximo de uma torre maior do que a da Deutsche Telekom? Eles vão transformar Xangai em um grande parque temático dos monumentos mundiais. Será que vai ter um bairro brasileiro? Não consigo nem imaginar o tamanho que vai ter o Cristo Redentor chinês, de olhinhos puxados. Salve-se quem puder, porque a potência não para de ter idéias. Nessas horas que fico feliz do Chávez ter nascido na Venezuela.
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setembro 12, 2007
setembro 11, 2007
Como as mulheres casadas dirigem?
Mulher já tem fama de braço no trânsito. Tudo bem, vamos deixar para lá porque eu encontro cada motorista, do sexo masculino, que dá vontade de mandar trocar pneu de alguém que está precisando e deixar as ruas para quem conhece o babado. Mas imaginar que existe uma casta de mulheres motoristas, assim já é demais. Pois foi o que eu descobri na renovação do meu seguro. Depois de reclamar um monte do valor, o corretor me disse que era por conta do perfil. Entre eles, o fato de eu ser divorciada. "Mas posso ser viúva, isso muda?". Não, a categoria é a mesma.
E como é essa divisão? Fico sabendo que as casadas são as que pagam menos seguro. Pode? Dá para entender um treco desses? Como diz uma amiga minha -- solteira, claro -- não basta elas terem maridos para dividir o pagamento do seguro, ainda têm bônus? Qual pode ser o critério de uma coisa dessas? As viúvas e as divorciadas saem mais de casa? Estão mais sujeitas a seduções e terem seus carros roubados? Não têm o marido do lado dando instruções, aos berros, sobre a maneira delas dirigirem? Não entendi. Mas descobri que para isso não precisa ser casada no papel, vale uma união estável de mais de dois anos. Ah, porque não falaram antes? Mudei meu perfil para casada convencida. E pago menos, tá? E se achar uma mulher braço na rua vou logo dizendo: deve ser divorciada ou viúva, o seguro tem razão. Nada como cinco minutos para mudar a vida de alguém, não?
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Esse Sol e essa Lua, sei não..
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setembro 10, 2007
Para aqueles que voam
Tem dias que a gente se sente como quem partiu...O que fazer nessa hora? Eu sempre acho que o melhor é celebrar a vida por tudo de maravilhoso que ela te proporciona. É por isso que escolhi fazer uma poção mágica com ingredientes que conheci há pouco tempo, na Bahia, mas que, na verdade, são quase todos de Minas Gerais.
São fabulosos e têm efeitos quase que imediatos, mesmo que consumidos isoladamente. Achei a receita em um velho livro na prateleira, que já estava empoeirado, e vou compartilhá-la com vocês. É preciso utilizar água em tons azuis ou verdes, cristalina, e só prepará-la sob a luz do sol e ao ar livre. Você acrescenta um pouco do toque de William, principalmente a inteligência para ver poesia nas loucuras do mundo, mexe um pouco e, logo depois, joga uma essência de Gizele que levará força e alegria para o preparo. Se quiser, ainda coloca um pouco dos temperos de Ângela e Gabriela, dois ingredientes que se assemelham mas quem os conhece sabe a diferença. Um pouco de Adriana cai bem para garantir o olhar atento em tudo que está à sua volta. Mas não pode esquecer de Suzaninha, que é o que vai dar liga, acolher todos os demais ingredientes. Deixe ferver, porque ferver sempre é bom. Na hora de servir é preciso utilizar a sabedoria e o carinho da Wânia. E, claro, dar o primeiro gole para a Dalvinha, que merece toda a magia da poção e a energia positiva de todos que se envolveram na sua preparação.
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setembro 09, 2007
setembro 08, 2007
Ai, que pré-preguiça....
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