(previously, leia Isto não é para você - XVI em Mimeografo Digital )
Olívia não contava com as férias e o grande número de turistas em Convent Garden. Decidiram se encontrar em um pequeno pub que ficava em uma travessa da Leicester Square. Ela foi caminhando até lá, um momento propício para tentar absorver todas as informações das últimas horas. O olhar de Marcelo lhe contando da gravidez de Helena lembrava Lennon, o vira-lata que foi o único cachorro que ela conseguiu ter na vida. Ainda na casa da Pompéia, onde ainda imaginava que por mais conflitos que houvesse ,um dia todos ririam daquilo em um Natal qualquer, como uma família feliz faria. Os olhos de Marcelo pediam clemência, como se desculpasse por aquele esperma mais esperto que fecundou sua irmã. Como se fizesse diferença.
A caminhada foi boa para Olívia entender que nem tudo poderia ser contado para Nicole. Ela era a típica californiana que só se perturbava se faltasse o baseado de quase todos os dias. Linda, loira, olhos azuis e cobiçada, só tinha de se preocupar em administrar o cara do momento. E ele já durava há algum tempo e foi por conta de Eduardo que Nicole viveu em tantos lugares, com a última parada em Londres, onde elas se conheceram. Olívia não queria nem pensar o que poderia ser o seu namorado em Dubai, já classificado por ela tantas vezes como alguém livre demais nesse mundo. Se Nicole dizia isso sobre ele, o que poderia imaginar? Não era nada com que ela quisesse se identificar naquele momento. "Pela hóstia, como diria Antônio', pensou.
Dubai começou a se apresentar mais para ela. Em dois dias desembarcaria lá para assumir um cargo de gerentezinha qualquer dentro de um organograma enorme do Grand Hiatt. Ela não tinha muito que reclamar, a política do hotel de incentivar seu corpo de gerentes a trocar de cidade, pelo menos a cada dois anos, tinha lhe proporcionado rodar um tanto. Ate seu periodo mais barra pesada, quando precisou de um tempo para se tratar, foi resolvido com um simples afastamento nao remunerado. Em Dubai era diferente, talvez porque poucos aceitassem. As condições financeiras eram melhores, o prazo era só de um ano, e ainda poderia morar na ala residencial, dentro do próprio hotel, regalia que não existia nos demais lugares por onde passou. A ânsia, ou ganância, de crescer naquela estrutura mais uma vez a remetia a Helena que seguiu seus passos no mundo da hotelaria. Ela queria ser a melhor, pelo menos nisso.
Nicole estava diferente, mais monocromática do que Olívia se lembrava. E mais madura. Tinha planos, o que quase a chocou. Mas, pensou, o mundo real poderia se apresentar a todos, como aconteceu com ela. Nicole pouco perguntou como ela estava, mas vibrava só de imaginar que em um mês as duas estariam juntas, novamente, em uma cidade nova e desconhecida.
__ Eduardo está adorando, a grana é muito boa e em menos de dois anos já teremos condições de ter alguma coisa nossa, talvez em San Diego.
Ele trabalhava no club do Dubai Marine Beach Resort, mas morava próximo ao Grand Hiatt, o que as tornava quase vizinhas, dizia Nicole. Ela tinha acabado de voltar de lá, para fechar o apartamento em Londres e ainda estabelecer alguns contatos que talvez a ajudassem a trabalhar em Dubai como webdesign.
__ Está tudo acontecendo lá. Você vai adorar.
Olívia tinha dúvidas do quanto poderia gostar, só sabia que já era um caminho sem volta. E não se convencia nem com o entusiasmo da amiga. Também não tinha certeza de que pessoa desiludida podia ter se transformado.
(Leia o proximo em Por Uma Second Life menos Ordinaria)
setembro 23, 2007
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