Eles falaram amenidades no caminho até Bayswater onde Olívia havia feito reserva em um pequeno hotel. O susto dos atentados terroristas, o novo apartamento para onde ele e Helena se mudaram, a visita de Antônio, três meses antes. Nada que a fizesse sentir se ele, realmente, ainda a queria. Será que ele conseguiria esquecer Helena por uns dias e se jogar nos seus braços, como fez infinitas vezes antes que tudo desmoronasse e quando ele era dela, só dela? E ela? Aceitaria mais uma vez o papel de irresponsável e egoísta deixando a versão vítima ser utilizada, novamente, pela sua queridinha irmã?
Olívia se irritava só de lembrar o quanto Helena se aproximou de Marcelo, sempre pronta a consolá-lo e a ajudá-lo a fechar as feridas deixadas pelas loucuras da irmã. Para ela, só restavam acusações. Mas isso não era novidade. Não esteve ao seu lado nem mesmo quando ela descobriu a sua verdadeira origem e teve uma crise de depressão sem precedentes. Helena, aparentemente, exercia o papel de irmã perfeita e se solidarizava com sua dor, mas assim que as cortinas se fechavam mantinha um frio distanciamento que machucava ainda mais Olívia. E, nesses momentos, fazia questão de lembrar porque sempre fora a filha favorita -- e depois soube-se a única -- de sua mãe. Foram meses difíceis para Olívia, que não conseguia enxergar nem mesmo o apoio incondicional dado pelo seu pai e por Antônio. Se não conseguia ver nada naquela época, depois tudo ficou ainda mais nublado com as drogas e o álcool. Nem mesmo sobre o amor por Marcelo houve clareza.
Marcelo conseguiu uma vaga para estacionar seu carro quase dois quarteirões depois do hotel. Ele pegou a pequena mala que Olívia havia reservado para os dias em Londres e a acompanhou até a recepção, ainda sem dar mostras se ficaria com ela, ou não. Olívia sabia que tinha preparado uma armadilha e mesmo com a justificativa de que precisava disso para resolver, de uma vez por todas, aquela história, não se sentia bem. Havia um toque perigoso de vingança que poderia colocar tudo a perder. E, como costumava dizer seu pai, vingança não é um prato que se serve frio ou quente, simplesmente não deve ser servido. Um dia ela acreditaria nisso, pensou.
Isto não é para você - I e III --O Quem
Isto não é para você -- II, IV e a continuação deste em Por uma Second Life Menos Ordinária
setembro 16, 2007
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